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REDE MUNDIAL
Dez anos depois do IPO da Netscape, especialistas vêem mais solidez e rapidez na expansão das pontocom
Internet deve perturbar mais a velha economia
RICHARD WATERS
DO "FINANCIAL TIMES"
Em algum lugar do mundo, nas
próximas semanas, o bilionésimo
ser humano vai se sentar diante
de um computador, conectar-se
com a internet pela primeira vez e
juntar-se à multidão crescente
que povoa o ciberespaço.
É um recorde e tanto, em se tratando de uma mídia que se distanciou de suas raízes acadêmicas
há apenas dez anos. Mas pode ser
só o indício da reviravolta que os
próximos dez anos nos reservam.
Hoje é o décimo aniversário da
oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) de ações da Netscape, o fato que desencadeou a pontocom-mania em Wall Street. O
browser da Netscape fez da internet um lugar mais próprio a ser
percorrido por usuários não dotados de conhecimentos técnicos e
incentivou a criação de empresas
como eBay, Yahoo e Amazon, que
já comemoraram suas próprias
festas de dez anos de idade -embora a maioria das pontocom não
tenha agüentado tanto tempo.
É interessante observar até que
ponto os sobreviventes do setor
viraram parte do cotidiano de
seus usuários. Os US$ 34 bilhões
em bens que trocaram de mãos
no site eBay no ano passado equivalem ao PIB do Quênia; os 379
milhões de usuários do Yahoo
equivalem às populações de EUA
e Reino Unido juntas. E o número
médio de páginas do Google vistas por cada pessoa no planeta
chega a dez por mês.
Mesmo os primeiros entusiastas da internet não previram até
onde ela iria abrir caminho na
cultura popular. Mary Meeker,
analista do Morgan Stanley e uma
das primeiras em Wall Street a
alardear o potencial da internet,
comenta: "Era difícil imaginar
que os grupos de notícias e murais sobre o Unix iriam algum dia
virar grupos de notícias sobre o
último Batman ou Harry Potter".
É claro que parte da euforia inicial em torno da internet estava
equivocada. Em outubro, três
anos terão se passado desde que a
queda no mercado de ações chegou a seu ponto mais baixo, algo
que tirou mais de US$ 6.500 bilhões do valor de pico da Nasdaq,
a bolsa em que se vendem e compram as ações de muitas empresas de tecnologia americanas.
A maior parte dessa destruição
de riqueza refletiu o excesso de investimentos em redes de telecomunicações e nas empresas de
tecnologia que estavam erguendo
a infra-estrutura da qual a internet depende. O excesso de capacidade nas telefônicas e nas empresas de tecnologia, porém, teve o
efeito de reduzir os preços e tornar a internet mais largamente
disponível, estimulando uma nova rodada de inovações on-line.
Segundo Mary Meeker, "as
transformações estão se acelerando". É difícil argumentar com o
peso dos números. De acordo
com estimativas do Morgan Stanley, 1 bilhão de pessoas estarão
on-line até o final do próximo
mês -três vezes mais do que havia no início da década. Aproximadamente 1 em 5 dessas pessoas
já usa conexão de banda larga. E o
acesso dos celulares à internet mal
começou. Em algum momento da
próxima década, haverá mais celulares do que computadores pessoais conectados à rede.
O simples fato de haver pessoas
on-line não cria um negócio, o
que foi demonstrado pelas experiências de muitas empresas pioneiras no setor. Agora, porém, as
empresas estão vindo logo atrás
da ampliação do público atingido.
No ano passado a publicidade
mundial on-line movimentou
US$ 15 bilhões, dois terços nos
EUA, e está crescendo a 30% ao
ano, com os anunciantes correndo para adequar-se à passagem de
seu público para a internet. O comércio eletrônico de consumidores movimentou US$ 295 bilhões
no ano passado e deve crescer
38% neste ano.
Ao mesmo tempo, as empresas
que dominam a mídia aprenderam com os erros e estão aperfeiçoando planos que já fazem com
que algumas estejam entre as de
maior valor do planeta. "Estamos
conseguindo mais valor a partir
de cada clique dos usuários", disse o executivo-chefe da Google,
Eric Schmidt. "Se você expõe
anúncios melhores -coisa que,
às vezes, significa apresentar menos anúncios-, o movimento
aumenta. Aprendemos isso neste
último ano."
Nada disso diz respeito ao impacto menos visível e, potencialmente, ainda mais profundo que
a internet vem tendo sobre a maneira como as empresas se organizam, sobre como a vida social e
política foi afetada ou como um
país como a Índia pôde ingressar
na economia mundial de uma
maneira que, no passado, teria
parecido impossível.
Se essa é a história da internet
até hoje, então o que os próximos
dez anos nos reservam? A resposta pode ser dada em duas palavras: mais reviravoltas, à medida
que as forças que semearam a
confusão em muitas grandes empresas no final dos anos 1990 reaparecem, desta vez respaldadas
por modelos econômicos mais
fortes e tecnologia melhor.
"Muitas pessoas ficaram muito
satisfeitas com a correção imposta ao mercado da internet, que
afastou muito dinheiro da rede",
diz Meeker. "Mas o setor continuou a avançar. A perturbação
causada a muitas empresas tradicionais está apenas começando."
É provável que muitas companhias que atuam na internet enfrentem tempos difíceis. Meg
Whitman, executiva-chefe da
eBay, avisa que, daqui a dez anos,
metade das gigantes da rede podem muito bem ser empresas das
quais você nunca ouviu falar. As
avaliações de valor das ações dessas empresas, incluindo a da Google, parecem novamente estar
deixando de levar em conta que as
barreiras ao ingresso nesse meio
de comunicação mundial continuam baixas e que a próxima
idéia a mudar a situação pode estar prestes a chegar.
Como aconteceu na década passada, o impacto da rede nos próximos dez anos provavelmente
será sentido mais agudamente
nos campos que dependem mais
da difusão de informações: comunicações, comércio e mídia.
Enquanto o e-mail e a troca instantânea de mensagens foram as
comunicações de baixo custo da
primeira década da internet, a
próxima revolução das comunicações pode muito bem girar em
torno dos chamados de voz que
são responsáveis pela maior parte
da receita do setor das telecomunicações. No primeiro ano de funcionamento do Skype, mais de
140 milhões de pessoas já descarregaram softwares gratuitos da
empresa com os quais podem
conversar pela internet. É a tecnologia de consumidor de mais rápido crescimento na história.
"Em muito pouco tempo teremos comunicação mundial gratuita", diz Paul Saffo, diretor do
Instituto do Futuro, um grupo de
pesquisas da Califórnia. Ao lado
de novas tecnologias de comunicação de baixo custo como Wi-Fi
e WiMax, temos uma nova ameaça a um setor que já foi duramente
atingido na primeira fase da rede.
Enquanto isso, à medida que
vão caindo as barreiras entre comunicações, comércio e mídia, a
internet deverá gerar novas tecnologias e desafiar as formas existentes de interação humana.
Duas forças em especial caracterizam essa onda recente: a ascensão dos motores de busca e as ferramentas on-line criadas para
apoiar a produção do que é conhecido na internet como "conteúdos gerados pelo usuário".
Os motores de busca já se estabeleceram como forma crucial de
distribuição on-line. À medida
que parte cada vez maior da mídia
se digitaliza, esse papel só deverá
ganhar em importância. "A internet vai se tornar concorrente muito séria do cabo e do satélite nas
casas, e seu impacto sobre a mídia
impressa deve ser dramático", diz
Roger McNamee, financista do
Vale do Silício especializado na
indústria da mídia. "Em última
análise, é através da tecnologia de
busca que o consumidor vai acessar e encontrar esse conteúdo. Isso é uma coisa enorme."
Uma parte cada vez maior desse
conteúdo deve começar a vir dos
próprios usuários. "Estamos no
meio de uma mudança muito
grande de mídia de massas para
mídia pessoal: o usuário, se quiser, pode responder e criar, ele
próprio", diz Saffo.
Os blogs, hoje um passatempo
de mais de 15 milhões de pessoas,
vêm sendo uma manifestação inicial inesperada. Outras formas de
auto-expressão e criação de comunidades também vêm crescendo, entre elas os sites de partilha
de fotos com os quais famílias ou
grupos de amigos podem acessar
as fotos uns dos outros, o podcasting (uma forma de audioblogging) e as redes sociais que interligam grandes grupos de amigos.
"O blogging é uma forma de
transição, que está a caminho de
outra coisa. É interessante, mas
não é estável", diz Saffo. O desejo
de comunicação e auto-expressão, e a tecnologia de baixo custo
que tornam isso possível, darão
lugar a novas tendências.
Vistas desde o ponto de vista do
ano 2015, os motores de busca e os
blogs poderão parecer idéias antiquadas e pitorescas que já terão
sido superadas na internet -uma
nova maneira de satisfazer o desejo das pessoas de interagir e obter
informações, entretenimento ou
produtos para comprar on-line.
Seja qual for sua forma, porém,
a próxima tendência provavelmente vai se originar das forças
manifestadas nos primeiros dez
anos da internet: uma interconectividade onipresente, ajudada por
ferramentas de software que descobrem e tornam utilizáveis as
fontes de informação sempre
maiores no grande banco de dados global e aberto.
Há ainda outra lição que deve
continuar válida nos próximos
anos: se você quiser pistas sobre
como a internet vai mudar sua vida, basta olhar o adolescente mais
perto de você. De acordo com
Mary Meeker, "os jovens de 15 a
20 anos vão nos mostrar o rumo
que a internet está tomando".
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