São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 2006

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Superávit comercial chinês sobe 50% e registra recorde

BC diz que adotará medidas para elevar importações e facilitar saída de dólares

Entrada da moeda dos EUA estimula empréstimos, que aquecem ainda mais a economia; crescimento foi de 10,9% no 1º semestre


CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A China registrou em julho superávit comercial recorde de US$ 14,6 bilhões, o que eleva o saldo acumulado nos sete primeiros meses do ano para US$ 76 bilhões, 50% a mais que em igual período de 2005.
A crescente vantagem comercial e o forte ritmo de crescimento da economia levaram o banco central do país a anunciar ontem que adotará medidas para estimular as importações, facilitar a saída de dólares do país e permitir maior flexibilidade na cotação do yuan em relação ao dólar.
O enorme superávit é um problema para o governo chinês, já que aumenta a quantidade de dólares que entram no país e estimula os investimentos, um dos principais motores de crescimento da economia.
No segundo trimestre deste ano, o PIB chinês teve expansão de 11,3%, o maior índice em 11 anos, o que reacendeu a discussão sobre o superaquecimento da economia.
Os investimentos em ativos fixos, como fábricas, estradas e máquinas, tiveram alta de 30,9%. Nos seis primeiros meses do ano, o crescimento chinês foi de 10,9%.
Os dólares que entram na China na forma de pagamento de exportações, investimento estrangeiro e especulação são adquiridos pelo BC e integram as reservas internacionais.
Neste ano, a China ultrapassou o Japão e passou a deter o maior volume de reservas do mundo -US$ 941 bilhões (cerca de 1,5 vez o PIB brasileiro).
Ao comprar os dólares, o governo emite yuans, que inundam a economia local e se transformam em empréstimos de baixo custo para as empresas estatais tocarem seus projetos de investimentos, muitos dos quais inviáveis.
Nos primeiros cinco meses do ano, as instituições financeiras já tinham utilizado 72% da meta de US$ 312,5 bilhões de novos empréstimos fixada para o ano. O estoque de crédito dos bancos chineses está em US$ 2,9 trilhões, algo próximo de 130% do PIB. No Brasil, o mesmo índice é de 31,2%.
As cifras de comércio chinesas também são bem maiores do que as brasileiras. Apenas em julho, o país asiático exportou US$ 80,3 bilhões, seis vezes os US$ 13,6 bilhões do Brasil. As importações foram de US$ 65,7 bilhões, comparadas a US$ 11,4 bilhões do Brasil.

Yuan desvalorizado
Além da inundação de dólares, os superávits recordes trazem outro problema para a China: o aumento da pressão de seus parceiros comerciais para que valorize ainda mais o yuan.
Os concorrentes do país asiático no mercado internacional sustentam que suas exportações são impulsionadas por um câmbio mantido artificialmente desvalorizado.
Em julho de 2005, a China permitiu a valorização de 2,1% do yuan em relação ao dólar e acabou com a vinculação de sua cotação à moeda norte-americana. Desde então, o yuan ganhou mais 1,7% ante o dólar, mas o movimento é considerado insuficiente por outros países, especialmente os EUA.
O superávit chinês bateu em 2005 o recorde de US$ 102 bilhões, com aumento de 219% em relação ao saldo do ano anterior. Em 2006, a vantagem comercial chinesa deverá se aproximar de US$ 150 bilhões.
Na tentativa de amenizar as pressões de seus parceiros, a China se esforça para elevar suas importações. Neste ano, por exemplo, os chineses fizeram compras bilionárias de aviões norte-americanos.


Com a Bloomberg

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