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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
A inflação e os menos favorecidos
Inflação baixa e estável é
um dos componentes mais
importantes de uma ação
social de qualquer governo
GOSTARIA de dividir com meu
leitor da Folha uma análise
sobre o poder de compra do
salário mínimo realizada pela equipe de economistas da Quest. Desde
os anos 60, podemos observar de
maneira clara a relação entre o binômio crise cambial/inflação e o
poder de compra dos brasileiros de
menor renda.
Trabalhamos com cinco períodos de nossa historia recente, divididos em função da política econômica dos vários governos que se
sucederam, e usamos o INPC como
deflator. O primeiro momento corresponde aos três anos do primeiro
governo militar e a uma política de
ajuste macroeconômico bastante
dura. Entre 1964 e 1967, o salário
mínimo real -a preços de junho de
2007- caiu cerca de 20%. A partir
de 1969, nos governos Costa e Silva
e Médici, o salário mínimo estabilizou-se próximo a R$ 320, nível que
prevaleceu até a crise externa de
1982/1983.
Com a crise mexicana de 1982, o
então ministro Delfim Netto realiza um ajuste clássico de balanço de
pagamentos, postergado desde
1974, no governo Geisel. Com o
presidente Sarney, esse foco no
fortalecimento da situação externa
é abandonado, o que nos leva novamente a um período de moeda frágil e aceleração da inflação. O resultado final foi uma queda próxima a 50% no valor do salário mínimo no período 1982-1990. Chegamos, então, ao fundo do poço.
Somente a partir do Plano Real,
de 1994, tem início um período de
quase 13 anos de recuperação continuada do poder aquisitivo do salário mínimo. O que muda ao longo
desse período é apenas a INTENSIDADE da recuperação. Entre
1994 e 1998, primeiro mandato do
presidente Fernando Henrique
Cardoso, o salário mínimo real
cresceu cerca de 25%. No segundo
mandato de Fernando Henrique
Cardoso, o crescimento do salário
mínimo foi próximo a 15%, refletindo o choque inflacionário que se
seguiu à correção da taxa de câmbio em 1999 e à crise financeira da
segunda metade de 2002, essa decorrente da desconfiança dos mercados em relação ao candidato Lula e seu discurso econômico de varias décadas.
No primeiro mandato de Lula,
depois que o presidente decidiu
manter a política econômica de seu
antecessor, o salário mínimo real
cresceu quase 30%, ritmo próximo
ao do primeiro período FHC. Nestes primeiros meses do segundo
mandato, o aumento real do salário
mínimo foi de 5%, sendo que parece estar havendo um arrefecimento em seu ritmo de crescimento.
Esse movimento está relacionado
ao fim da desinflação dos três anos
anteriores a 2007 e à recente aceleração da inflação de alimentos.
O comportamento do valor real
do salário mínimo nesse longo e
conturbado período de nossa história econômica é uma fonte riquíssima para o analista da economia brasileira. Em primeiro lugar,
a estreita relação entre inflação e
poder aquisitivo dos brasileiros de
mais baixa renda é inquestionável.
Logo, a manutenção da inflação
baixa e estável é um dos componentes mais importantes de uma
ação social de qualquer governo.
O outro ensinamento, menos
claro para o leigo em economia, é
que a solidez do setor externo e a
baixa volatilidade da taxa de câmbio são condições necessárias para
o contínuo crescimento do poder
de compra do brasileiro. Portanto
uma política econômica de qualidade deve ter como objetivo essencial a implementação de reformas
que favoreçam a competitividade
da economia.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 64, engenheiro e
economista, é economista-chefe da Quest Investimentos.
Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações
(governo FHC).
lcmb2@terra.com.br
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