São Paulo, segunda-feira, 10 de agosto de 2009

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Lula descarta intervenções no câmbio

Para presidente, manobra é "arriscada" e pode não desvalorizar o real; decisão reaquece debate de BC e Fazenda sobre juros

Conselheiros de Lula afirmam que real valorizado pode frear expansão no ano que vem; governo analisa novas desonerações a exportador


KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de preocupado com o efeito negativo da valorização do real sobre as exportações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva descarta intervenção no sistema de câmbio flutuante.
Por ora, o governo não pretende recriar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para a entrada de capitais no país. Lula ordenou à equipe econômica que estude se é possível adotar novas reduções de tributos para setores exportadores. Também será analisado como simplificar mais a burocracia para reduzir custos e agilizar as vendas para o exterior.
Segundo um auxiliar direto, Lula avalia que alterar o câmbio flutuante seria uma manobra "arriscada" e que talvez não obtivesse o resultado pretendido: desvalorizar o real a fim de estimular as exportações. Em 2009, o real já se valorizou em mais de 20% ante o dólar.
Ao descartar intervenção no câmbio, Lula reaquece a crônica disputa entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central sobre o nível da taxa básica de juros. A Fazenda deseja queda maior da Selic, hoje em 8,75% ao ano. O BC resiste.
Para a Fazenda, a Selic continua alta, o que a tornaria um dos fatores que mais contribuem para a alta do real. Em conversas reservadas, o ministro Guido Mantega diz que há espaço para cortar mais a Selic.
Mantega avalia que, na comparação com as taxas de outros países, o Brasil estimula mais a atração de capitais de curto prazo, que buscam apenas ganhar com o diferencial entre os juros externos e os brasileiros. Para ele, a redução da taxa amenizaria a valorização do real.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, tem opinião diferente. De acordo com versão dada a Lula, Meirel--les acredita que, caso ocorram novas reduções da Selic ainda neste ano, serão em doses pequenas e espaçadas.
O principal argumento é que, no mundo todo, o dólar perde valor devido a muitas variáveis. Para Meirelles, o país não tem poder para frear essa tendência e sustenta que o nível dos juros deve ser decidido em razão da inflação, e não do câmbio.
Segundo o presidente do BC, a redução da Selic como deseja a Fazenda teria efeito mínimo sobre a valorização do real.
A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), órgão do Banco Central que determina a Selic, ocorre no começo do mês que vem.
Conselheiros econômicos de Lula fizeram advertências sobre o risco de o real valorizado frear o crescimento da economia em 2010 -ano eleitoral.
Numa hora em que a crise internacional dá sinais de suavização e na qual a atividade econômica no país se recupera, uma crise cambial poderia criar um problema significativo no final do mandato de Lula.
O economista e ex-deputado federal Delfim Netto, que tem dado conselhos a Lula e Mantega, insiste em medidas para diminuir a valorização do real.
Para Delfim, a Selic deveria ter sido reduzida mais rapidamente durante a crise. Ele disse a Lula que o BC errou na política monetária durante a fase aguda da crise. Essa avaliação de Delfim é compartilhada por outros dois conselheiros de Lula: o economista Luiz Gonzaga Belluzzo e o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho.
O Banco Central argumenta que a redução da Selic como desejam seus críticos obrigaria a novas e expressivas elevações na campanha eleitoral de 2010. Ou seja, criaria cenário econômico negativo para um presidente que quer eleger a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), como sucessora.


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