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Lula descarta intervenções no câmbio
Para presidente, manobra é "arriscada" e pode não desvalorizar o real; decisão reaquece debate de BC e Fazenda sobre juros
Conselheiros de Lula afirmam que real valorizado pode frear expansão no ano que vem; governo analisa novas desonerações a exportador
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de preocupado com o
efeito negativo da valorização
do real sobre as exportações, o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva descarta intervenção no
sistema de câmbio flutuante.
Por ora, o governo não pretende recriar o IOF (Imposto
sobre Operações Financeiras)
para a entrada de capitais no
país. Lula ordenou à equipe
econômica que estude se é possível adotar novas reduções de
tributos para setores exportadores. Também será analisado
como simplificar mais a burocracia para reduzir custos e agilizar as vendas para o exterior.
Segundo um auxiliar direto,
Lula avalia que alterar o câmbio flutuante seria uma manobra "arriscada" e que talvez não
obtivesse o resultado pretendido: desvalorizar o real a fim de
estimular as exportações. Em
2009, o real já se valorizou em
mais de 20% ante o dólar.
Ao descartar intervenção no
câmbio, Lula reaquece a crônica disputa entre o Ministério da
Fazenda e o Banco Central sobre o nível da taxa básica de juros. A Fazenda deseja queda
maior da Selic, hoje em 8,75%
ao ano. O BC resiste.
Para a Fazenda, a Selic continua alta, o que a tornaria um
dos fatores que mais contribuem para a alta do real. Em
conversas reservadas, o ministro Guido Mantega diz que há
espaço para cortar mais a Selic.
Mantega avalia que, na comparação com as taxas de outros
países, o Brasil estimula mais a
atração de capitais de curto
prazo, que buscam apenas ganhar com o diferencial entre os
juros externos e os brasileiros.
Para ele, a redução da taxa amenizaria a valorização do real.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, tem
opinião diferente. De acordo
com versão dada a Lula, Meirel--les acredita que, caso ocorram
novas reduções da Selic ainda
neste ano, serão em doses pequenas e espaçadas.
O principal argumento é que,
no mundo todo, o dólar perde
valor devido a muitas variáveis.
Para Meirelles, o país não tem
poder para frear essa tendência
e sustenta que o nível dos juros
deve ser decidido em razão da
inflação, e não do câmbio.
Segundo o presidente do BC,
a redução da Selic como deseja
a Fazenda teria efeito mínimo
sobre a valorização do real.
A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), órgão do Banco Central
que determina a Selic, ocorre
no começo do mês que vem.
Conselheiros econômicos de
Lula fizeram advertências sobre o risco de o real valorizado
frear o crescimento da economia em 2010 -ano eleitoral.
Numa hora em que a crise internacional dá sinais de suavização e na qual a atividade econômica no país se recupera,
uma crise cambial poderia criar
um problema significativo no
final do mandato de Lula.
O economista e ex-deputado
federal Delfim Netto, que tem
dado conselhos a Lula e Mantega, insiste em medidas para diminuir a valorização do real.
Para Delfim, a Selic deveria
ter sido reduzida mais rapidamente durante a crise. Ele disse
a Lula que o BC errou na política monetária durante a fase
aguda da crise. Essa avaliação
de Delfim é compartilhada por
outros dois conselheiros de Lula: o economista Luiz Gonzaga
Belluzzo e o presidente do
BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social), Luciano Coutinho.
O Banco Central argumenta
que a redução da Selic como desejam seus críticos obrigaria a
novas e expressivas elevações
na campanha eleitoral de 2010.
Ou seja, criaria cenário econômico negativo para um presidente que quer eleger a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), como sucessora.
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