São Paulo, terça-feira, 10 de setembro de 2002

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OPINIÃO ECONÔMICA

Votar bem

BENJAMIN STEINBRUCH

Faça um esforço de memória e tente recordar em quem você votou para deputado estadual e para deputado federal em 1998. Aposto que terá dificuldade em se lembrar dos nomes. Sabe por quê? Porque provavelmente votou em alguém que pouco conhecia, alguém indicado por um amigo ou alguém que nada tem a ver com o seu dia-a-dia.
A menos de um mês das eleições, as pesquisas mostram que a maioria dos eleitores não tem ainda a mínima idéia sobre em quem votar para deputado. Os jornais praticamente nada falam sobre os candidatos ao Legislativo. A TV, no horário gratuito, passa informações rápidas dos candidatos, insuficientes para revelar detalhes sobre o que pensam, o que fazem e o que fizeram.
Continua válida a velha crítica feita às eleições brasileiras: a representação popular no Congresso e nas Assembléias Legislativas é falha. Tendemos a valorizar excessivamente a figura do presidente da República, como se ele fosse um super-homem, capaz de resolver sozinho os problemas do país. Esquecemos que o Legislativo divide com o Executivo a responsabilidade pelo governo e que nenhuma medida presidencial importante pode ser mantida se não tiver o apoio de deputados e senadores.
Na semana passada, a revista "Veja" entrevistou o economista canadense John Helliwell, um estudioso que pesquisou as democracias em 125 países durante 15 anos. Ao analisar o Brasil, Helliwell disse que o Congresso brasileiro tem excesso de celebridades, eleitas só porque são famosas e aparecem na TV, e não porque têm idéias e vão contribuir para o debate político.
Fico sempre com um pé atrás ao ler declarações de estrangeiros sobre a realidade brasileira que pouco conhecem. Mas acho que Helliwell tem razão. Muitos deputados e até senadores são eleitos porque têm exposição pública durante muitos anos, e não porque se propõem a representar uma região, um grupo populacional ou suas idéias.
É certo que a legislação eleitoral colabora para essa distorção. Primeiro, mistura em um mesmo pacote cinco eleições diferentes com mais de 12 mil candidatos a presidente, governador, senador, deputado federal e deputado estadual, o que acaba deixando para segundo plano a eleição legislativa. Segundo, segmenta as eleições legislativas por Estados, e não por distritos. O voto distrital, que existe em muitos países, obriga o eleitor a escolher deputados de sua região. Em São Paulo, por exemplo, nestas eleições, há 1.572 candidatos a deputado estadual e 793 a federal, num leque absurdo de opções para os eleitores, sejam eles informados ou desinformados.
Apesar dessa legislação, há algo que o eleitor pode fazer para ser mais bem representando no Congresso Nacional e nas Assembléias. Se não tem um candidato em quem confia, deve procurar obter informações sobre alguns que conhece na sua cidade ou região, que sejam reconhecidamente íntegros e que pensem mais ou menos como ele.
Isso pode dar um pouco de trabalho. Mas vale a pena conversar com amigos que conhecem melhor os candidatos escolhidos e fazer perguntas sobre atitudes e posições tomadas por eles. Pesquisas em sites de busca na internet sobre o nome do candidato também podem trazer informações interessantes sobre o político. Se ele já foi deputado, provavelmente haverá dados sobre a sua vida parlamentar no site do Diap (www.diap.org.br): posições, omissões e votos em matérias polêmicas.
Eleitores mal informados tendem a votar em candidatos famosos, importantes ou charmosos. Eleito, o deputado, bonito ou feio, vai votar no Congresso ou na Assembléia Legislativa para decidir sobre grandes questões da economia, sobre impostos que o eleitor vai pagar, sobre investimentos sociais e, principalmente, sobre como será gasto o dinheiro público.


Benjamin Steinbruch, 49, empresário, é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br


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