|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO ECONÔMICA
Votar bem
BENJAMIN STEINBRUCH
Faça um esforço de memória
e tente recordar em quem você votou para deputado estadual
e para deputado federal em 1998.
Aposto que terá dificuldade em se
lembrar dos nomes. Sabe por quê?
Porque provavelmente votou em
alguém que pouco conhecia, alguém indicado por um amigo ou
alguém que nada tem a ver com o
seu dia-a-dia.
A menos de um mês das eleições, as pesquisas mostram que a
maioria dos eleitores não tem
ainda a mínima idéia sobre em
quem votar para deputado. Os
jornais praticamente nada falam
sobre os candidatos ao Legislativo. A TV, no horário gratuito,
passa informações rápidas dos
candidatos, insuficientes para revelar detalhes sobre o que pensam, o que fazem e o que fizeram.
Continua válida a velha crítica
feita às eleições brasileiras: a representação popular no Congresso e nas Assembléias Legislativas
é falha. Tendemos a valorizar excessivamente a figura do presidente da República, como se ele
fosse um super-homem, capaz de
resolver sozinho os problemas do
país. Esquecemos que o Legislativo divide com o Executivo a responsabilidade pelo governo e que
nenhuma medida presidencial
importante pode ser mantida se
não tiver o apoio de deputados e
senadores.
Na semana passada, a revista
"Veja" entrevistou o economista
canadense John Helliwell, um estudioso que pesquisou as democracias em 125 países durante 15
anos. Ao analisar o Brasil, Helliwell disse que o Congresso brasileiro tem excesso de celebridades,
eleitas só porque são famosas e
aparecem na TV, e não porque
têm idéias e vão contribuir para o
debate político.
Fico sempre com um pé atrás ao
ler declarações de estrangeiros sobre a realidade brasileira que
pouco conhecem. Mas acho que
Helliwell tem razão. Muitos deputados e até senadores são eleitos porque têm exposição pública
durante muitos anos, e não porque se propõem a representar
uma região, um grupo populacional ou suas idéias.
É certo que a legislação eleitoral
colabora para essa distorção. Primeiro, mistura em um mesmo pacote cinco eleições diferentes com
mais de 12 mil candidatos a presidente, governador, senador, deputado federal e deputado estadual, o que acaba deixando para
segundo plano a eleição legislativa. Segundo, segmenta as eleições
legislativas por Estados, e não por
distritos. O voto distrital, que
existe em muitos países, obriga o
eleitor a escolher deputados de
sua região. Em São Paulo, por
exemplo, nestas eleições, há 1.572
candidatos a deputado estadual e
793 a federal, num leque absurdo
de opções para os eleitores, sejam
eles informados ou desinformados.
Apesar dessa legislação, há algo
que o eleitor pode fazer para ser
mais bem representando no Congresso Nacional e nas Assembléias. Se não tem um candidato
em quem confia, deve procurar
obter informações sobre alguns
que conhece na sua cidade ou região, que sejam reconhecidamente íntegros e que pensem mais ou
menos como ele.
Isso pode dar um pouco de trabalho. Mas vale a pena conversar
com amigos que conhecem melhor os candidatos escolhidos e fazer perguntas sobre atitudes e posições tomadas por eles. Pesquisas
em sites de busca na internet sobre o nome do candidato também
podem trazer informações interessantes sobre o político. Se ele já
foi deputado, provavelmente haverá dados sobre a sua vida parlamentar no site do Diap
(www.diap.org.br): posições,
omissões e votos em matérias polêmicas.
Eleitores mal informados tendem a votar em candidatos famosos, importantes ou charmosos.
Eleito, o deputado, bonito ou feio,
vai votar no Congresso ou na Assembléia Legislativa para decidir
sobre grandes questões da economia, sobre impostos que o eleitor
vai pagar, sobre investimentos sociais e, principalmente, sobre como será gasto o dinheiro público.
Benjamin Steinbruch, 49, empresário, é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
Texto Anterior: Crédito não volta em 24 horas, diz Malan Próximo Texto: Cenário sombrio: G-10 prevê mundo em marcha lenta Índice
|