São Paulo, terça-feira, 10 de setembro de 2002

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VIZINHO EM CRISE

Com a concessão de empréstimos praticamente parada, instituições passaram a cobrar para manter as contas

Bancos da Argentina criam taxas e sobem comissões

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

Os bancos argentinos criaram novas taxas e aumentaram as comissões cobradas dos clientes para sobreviver em um cenário em que altas taxas de juros e inadimplência praticamente paralisaram a concessão de empréstimos.
Neste ano, os argentinos passaram a pagar por serviços como a concessão de novos cartões e a administração de contas correntes, que não tinham custos até 2001. Além disso, os clientes também tiveram que passar a pagar comissões maiores para sacar dinheiro em caixas automáticos.
No caso de concessão de empréstimos, os juros anuais, que oscilavam em torno de 20% em 2001, passaram a um patamar médio de 90% neste ano.
Já a compra e venda de dólares, que não gerava lucro durante os 11 anos do regime de conversibilidade, passou a render comissões médias de 3% sobre as transações. Para o câmbio de "quase-moedas" (bônus do Estado e das Províncias que funcionam como papel-moeda no país) por pesos, a comissão bancária alcança 8%.
Ao mesmo tempo, os bancos perderam faturamento com a concessão de crédito. Segundo dados do Banco Central, a carteira de empréstimos dos bancos recuou 26,1% nos oito primeiros meses deste ano. Além disso, o número de cartões de crédito em circulação caiu de 8 milhões para 5,6 milhões -ou 30,4%- nos últimos dois anos.
Para analistas, as novas receitas não vão garantir a manutenção da lucratividade bancária. "Grande parte do faturamento futuro dos bancos virá de taxas e comissões. No entanto, não é correto dizer que os bancos sairão ganhando", disse Carina López Espiño, analista de bancos da Standard & Poor's
Para ela, "os bancos perderam praticamente todo o patrimônio" com a moratória da dívida externa, o crescimento da inadimplência, a "pesificação" da economia e a fuga de depósitos neste ano.
As novas fontes de receita podem, no entanto, adiar a esperada reestruturação do sistema financeiro, que representa uma das principais pré-condições do FMI (Fundo Monetário Internacional) para fechar um novo acordo com a Argentina.
Segundo o próprio BC, o número de bancos instalados no país deveria recuar de 100 para 40 devido à crise e à fuga de depósitos dos bancos. No entanto, até ontem apenas o canadense Scotiabank, o francês Crédit Agricole e o italiano Banca Nazionale del Lavoro haviam anunciado que deixariam de investir na Argentina no curto ou no médio prazo.
Outro grupo italiano, o IntesaBCI, que controla o Sudameris, anunciou na tarde de ontem que vai se desfazer de suas participações na Argentina, no Peru, no Paraguai e no Uruguai e se retirar totalmente da América Latina.
Essas participações da IntesaBCI não foram incluídas na venda do Sudameris para o Itaú. Segundo sua assessoria de imprensa, o Itaú deve concretizar ainda neste mês a compra apenas dos ativos do Sudameris no Brasil.


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