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São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2003

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Para analistas, empresa é a maior beneficiada

JOSÉ ALAN DIAS
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A AES Corporation, controladora da Eletropaulo, da AES Tietê e da AES Sul, foi a maior beneficiada no acordo fechado anteontem com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) na opinião da maioria dos analistas de mercado.
Entre 1998 e 2000, ela tomou US$ 1,88 bilhão emprestado do banco (relacionado à compra da Eletropaulo), pagou uma parte (deve US$ 1,2 bilhão), endividou as empresas que comprou e agora está devolvendo-as -junto com parte da dívida- ao agente financeiro. "Foi um negócio da China", diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura.
Alguns analistas afirmam que no ponto em que chegou a situação, o BNDES não tinha alternativa. "A opção de leiloar as ações da Eletropaulo, dadas em garantia à dívida pela AES, só traria prejuízo ao banco", diz Cristina Garcia, analista da Lopes Filho. Na avaliação dos analistas, a venda de um grande lote de ações dificilmente seria absorvida pelo mercado.
Os preços do papel virariam pó, e os analistas estimam que o BNDES não conseguiria recuperar nem a metade dos US$ 600 milhões que receberá em dinheiro e em debêntures na reestruturação da dívida. "O volume de ações que o BNDES despejaria no mercado representa três vezes o volume que se negocia hoje em papéis da Eletropaulo. O papel que é negociado a R$ 25 despencaria para R$ 15", diz André Querne, analista da Máxima Asset.
Para o analista Oswaldo Telles Filho, do BBV Banco, a AES obteve um acordo vantajoso a um custo ínfimo. Seu argumento é que os US$ 60 milhões que a controladora norte-americana desembolsará para pagar parte da dívida, significam não mais que 5% da dívida total com o BNDES.
Telles duvida, no entanto, que o BNDES tenha alguma vantagem. "Não vejo muita perspectiva de o banco receber (o saldo devedor de US$ 540 milhões). Segundo ele, o eventual pagamento do débito dependerá do fluxo de caixa da Eletropaulo. "Apesar de contínuo, o fluxo de caixa da empresa é muito baixo. Os reajustes das tarifas foram aquém do esperado pelo mercado (a Anatel autorizou aumento de 10,95%, um dos menores do setor)", afirma.
Além disso, com dívida de R$ 6,3 bilhões, é a terceira mais endividada do setor elétrico, atrás da Cesp (R$10,5 bilhões) e da Light (R$ 7 bilhões), segundo dados dos balanços de junho das empresas.
Em agosto, a Eletropaulo teve antecipado o vencimento de uma dívida de US$ 305 milhões, por um consórcio de bancos liderados pelo BankBoston. O motivo: deixou de pagar três parcelas, no total de US$ 75 milhões.
A perspectiva de uma disputa judicial envolvendo outros credores, segundo analistas, pode ter "agilizado" as negociações. "Ao fechar um acordo, o BNDES sinalizou ao mercado que não há risco de alguma mudança de controle da Eletropaulo. Isso pode ajudar nas negociações com os demais credores", diz Gláucia de Castro Quinto, do ABN Amro Asset Management.


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