São Paulo, sexta-feira, 10 de setembro de 2004

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Venda cai e capacidade bate recorde

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A atividade industrial apresentou acomodação em julho depois de quatro meses de crescimento vigoroso. Embora as vendas reais tenham caído 3,31% na comparação com junho, a utilização da capacidade instalada alcançou o recorde histórico de 82,8% e o emprego industrial cresceu 0,98% -a maior variação entre dois meses desde 1995.
Os dados fazem parte dos Indicadores Industriais divulgados mensalmente pela CNI (Confederação Nacional da Indústria). Segundo o coordenador de Política Econômica da entidade, Flávio Castelo Branco, o ritmo de crescimento foi muito intenso ao longo do primeiro semestre deste ano. "É natural observar agora uma acomodação para um nível sustentável", disse.
Em julho, as horas trabalhadas na indústria foram reduzidas em 0,24%, enquanto a massa salarial (salários pagos) ficou praticamente estável: queda de 0,09%.
Projeções da entidade revelam que, se o ritmo verificado de março a junho fosse mantido, as vendas reais da indústria, por exemplo, teriam crescimento superior a 37% no ano. "Isso não acontece nem na China", declarou Paulo Mol, economista da CNI.
Para Castelo Branco, um sinal de que a indústria continuará crescendo é o aumento no emprego industrial. "Se o empresário não tivesse confiança na continuidade do crescimento, não contrataria mais trabalhadores."
A aposta na sustentabilidade do crescimento fez a CNI confirmar a projeção de expansão do PIB (Produto Interno Bruto) de 4,5% neste ano, divulgada há duas semanas. A projeção anterior (julho) era de 4%. A indústria deverá crescer 6%, segundo estimativa conservadora da entidade.

Fortes crescimentos
Em relação a julho de 2003, todos os indicadores registraram forte crescimento. No caso das vendas, o aumento foi de 19,45%. O emprego cresceu 4,07%. As horas trabalhadas, 7,56%, e os salários líquidos reais, 8,29%. Em julho de 2003, a utilização da capacidade instalada estava em 79%.
Castelo Branco afirmou também que o nível atual da capacidade não preocupa, por enquanto, pois investimentos estão sendo feitos pelas empresas. A tendência, segundo ele, é que até outubro a utilização da capacidade continue batendo recordes. Nesse período, a indústria aumenta a produção para atender às encomendas do comércio.
O aumento no uso da capacidade preocupa quando não é seguido de investimentos porque, ao atingir seu limite, se as fábricas não ampliam sua capacidade de produção, pode haver falta de produtos nas prateleiras, gerando inflação.
Castelo Branco destacou que há necessidade de ampliação nos investimentos para evitar que, no médio prazo, ocorram gargalos na produção. Para ele, um eventual aumento dos juros pelo Banco Central neste mês não afetará o crescimento de 2004 -mas, sim, o de 2005. "Para 2004, o crescimento está dado, a não ser que ocorra uma hecatombe", brincou.
"A expectativa de elevação dos juros não é um estímulo à produção. Mas isso não vai influenciar o resultado deste trimestre", declarou o coordenador. Ele lembrou que alterações na taxa de juros só produzem efeitos na economia em um prazo de seis a oito meses.
Castelo Branco disse ainda que neste ano a taxa Selic (taxa básica de juros) manteve-se praticamente inalterada. "Não tivemos estímulo da política monetária para o crescimento. Isso veio da demanda externa e do aumento da renda das famílias", explicou.


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