São Paulo, sexta-feira, 10 de setembro de 2004

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ANÁLISE

País paga por queda salarial

FERNANDO SAMPAIO
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou ontem uma miríade de números, em geral claramente positivos, acerca do desempenho recente da produção industrial brasileira. Sobre a base de comparação sabidamente baixa dada pelos meses iniciais do ano passado, a maior parte dos grandes segmentos da indústria acumula em 2004 crescimento expressivo: os bens de capital (grupo que abrange máquinas e equipamentos industriais e equipamentos pesados de transporte como caminhões) e os bens de consumo duráveis (como automóveis e eletro-eletrônicos) têm alta de quase 25%, ao passo que os bens intermediários (como o aço e os produtos químicos) crescem pouco menos de 7%.
Os bens de consumo básicos, no entanto, continuam a apresentar resultados contrastantes, muito mais fracos do que os dos demais segmentos. Nos sete primeiros meses do ano, a produção desse grupo de bens -que o IBGE denomina como semiduráveis e não-duráveis e inclui itens como roupas, calçados, alimentos industrializados e artigos de higiene e limpeza- foi apenas 2% maior do que entre janeiro e julho de 2003. E, comparando-se a produção desses bens acumulada no período de 12 meses findo em julho com a dos 12 meses anteriores, ainda se constata queda, de 0,7%.
Pela natureza das necessidades que atendem, é típico que os bens voltados ao consumo básico apresentem produção menos elástica -ou seja, que varia, de maneira positiva ou negativa, de forma menos acentuada do que a das demais manufaturas. Mas essa característica é por larga margem insuficiente para explicar seu desempenho recente, ainda fraco.
Dentre os fatores que concorrem para explicar o retardo relativo e a debilidade da recuperação da produção dos bens de consumo básico, três se destacam. O principal é a forte redução da renda média dos trabalhadores ocupados entre 1999 e 2003. Embora já tenha sido interrompido, esse processo foi muito expressivo, tendo subtraído cerca de 20% do poder de compra do consumidor médio. Ao lado disso, houve desde 1998 um marcante encarecimento relativo de alguns itens da cesta de consumo (com destaque para a energia elétrica, a telefonia e o transporte urbano), o que reduziu a fatia da renda disponível para a compra de manufaturas semi e não-duráveis. Por fim, a retomada das vendas de bens de consumo duráveis iniciada em meados do ano passado significou o comprometimento de uma parcela crescente dos orçamentos domésticos com o pagamento de prestações, limitando o espaço para uma retomada mais firme do consumo básico.


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