São Paulo, domingo, 10 de setembro de 2006

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Loja oferece eletrônico sem cobrar imposto

Empresa de Nova York afirma que mercadoria chega em 15 dias à casa do consumidor no Brasil livre da taxa de importação

Lojistas do comércio de produtos de foto, áudio e vídeo no Brasil dizem que a importação ilegal chega a inviabilizar seus negócios

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI

DA REPORTAGEM LOCAL

Empresas do exterior e sites brasileiros oferecem abertamente ao consumidor produtos eletrônicos importados ilegalmente -isto é, sem incidência de impostos-, apesar do cerco aos fraudadores do comércio exterior realizado pela polícia e pela Receita Federal.
Algumas dessas empresas estão tão consolidadas no mercado brasileiro que já se transformaram em "canais oficiais" de vendas para produtores de vídeo, profissionais que utilizam equipamentos de imagem e som e para consumidores ávidos por novas tecnologias.
Por e-mails e por telefone, vendedores ofereceram à Folha e a consumidores que a reportagem acompanhou nas últimas duas semanas produtos importados, como câmeras fotográficas, computadores e projetores para home theater, livres de impostos e ainda entregues na porta de casa.
A B&H, loja com sede em Nova York, e o site Broker1, de São Paulo, são dois canais de distribuição no país de produtos importados, sem incidência de imposto de importação, segundo a Folha constatou. Existem outras empresas e sites que atuam da mesma forma à disposição dos brasileiros.

"Se desejar"
Na B&H, vendedores informaram que o consumidor só paga o imposto "se desejar". Durante duas semanas, a reportagem conversou por telefone (por meio do sistema de ligação gratuita 0800, conectado diretamente com a empresa em Nova York) com vários funcionários da B&H, que até já lançou no Brasil um catálogo de produtos em português.
Todos os vendedores informaram que as mercadorias são entregues na casa do cliente em até 45 dias e que, para isso, o consumidor paga (por meio de cartão de crédito internacional) o valor do produto em dólares mais o do frete, que varia de US$ 350 a US$ 600.
Nas últimas ligações, funcionários informaram que a compra só poderia ser concretizada em 10 a 15 dias, pois "os aeroportos brasileiros estão congestionados neste momento. Estamos apenas aguardando o tráfego se normalizar", disse um dos vendedores da loja.
Informaram também que as recentes operações da polícia e da Receita Federal [para combater o comércio exterior irregular] tinham atrapalhado a entrega dos produtos, feita por várias transportadoras, e que não estavam autorizados a divulgar nomes dessas empresas.
Para combater a sonegação fiscal no país, a Receita Federal realizou recentemente uma operação, batizada de Dilúvio, que resultou em 102 pessoas presas pela Polícia Federal em oito Estados. Estima-se em R$ 500 milhões o total de tributos sonegados em cinco anos pelos envolvidos nessa operação.
"Quando entra nesse período, não temos como fazer venda, porque não sabemos quanto tempo vai demorar para o transporte voltar ao normal. A fiscalização não é em cima de nós, mas das transportadoras", disse um funcionário da B&H.
O vendedor do site Broker1 já não pareceu incomodado com operações de combate ao comércio exterior irregular no país. Por e-mail, informou a um consumidor que entregas de produtos podiam ser feitas em até cinco dias.

Sem riscos
"Os produtos vêm sem imposto porque a compra é feita sem nota fiscal nos Estados Unidos." Em outro trecho da conversa, afirma que não há riscos de a mercadoria ser apreendida na Alfândega.
"Miami tem algum esquema no aeroporto de Guarulhos [em São Paulo], por isso passa sem revista", disse o vendedor.
No site da Broker1, são oferecidos produtos de 41 marcas. Um projetor Infocus IN76, que lojistas paulistas estimam custar R$ 16 mil, é vendido por R$ 8.100 no site -preço final.
O prazo de entrega prometido é de até cinco dias, se o consumidor estiver em São Paulo. A troca do produto, em caso de defeito, é feita em um mês, afirma o vendedor -nesse caso, "sem despesas de envio". Quando o cliente questiona se há riscos de o produto ser apreendido na Alfândega, o vendedor responde, categórico: "Quanto à Alfândega, não tenho tido problema".
No caso da B&H, o consumidor também não perde. Se o produto não chega, segundo informou um cliente da loja, o dinheiro é devolvido. Se a mercadoria apresenta problemas, também é trocada. O único problema é que, por meio desse tipo de importação, o cliente não tem garantia se precisar de serviços de assistência técnica.
Lojistas especializados no comércio de produtos de foto, áudio e vídeo informaram que a importação ilegal chega a inviabilizar seus negócios.
"Vendo um projetor pelo equivalente a US$ 3.500, com nota fiscal e assistência técnica. Só que meu cliente pode adquirir o mesmo produto por US$ 1.600 na B&H. E é o que ele está fazendo, já que o produto chega todo bonitinho à casa dele", diz Fernando Ely, dono de uma empresa que faz projetos de home theater em Porto Alegre. Ele diz que, neste ano, perdeu 20% dos seus negócios.
Carina Meneghel, gerente da divisão de ótica da Fotoptica, diz que a importação de forma ilegal atrapalha os negócios da loja, mas que esse problema já foi maior. "Estima-se que metade do mercado de ótica seja formada por produtos falsos ou importados de forma ilegal. Mas melhorou por conta das ações da Receita", afirma.


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