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Loja oferece eletrônico sem cobrar imposto
Empresa de Nova York afirma que mercadoria chega em 15 dias à casa do consumidor no Brasil livre da taxa de importação
Lojistas do comércio de
produtos de foto, áudio e
vídeo no Brasil dizem que a
importação ilegal chega a
inviabilizar seus negócios
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Empresas do exterior e sites
brasileiros oferecem abertamente ao consumidor produtos eletrônicos importados ilegalmente -isto é, sem incidência de impostos-, apesar do
cerco aos fraudadores do comércio exterior realizado pela
polícia e pela Receita Federal.
Algumas dessas empresas estão tão consolidadas no mercado brasileiro que já se transformaram em "canais oficiais" de
vendas para produtores de vídeo, profissionais que utilizam
equipamentos de imagem e
som e para consumidores ávidos por novas tecnologias.
Por e-mails e por telefone,
vendedores ofereceram à Folha e a consumidores que a reportagem acompanhou nas últimas duas semanas produtos
importados, como câmeras fotográficas, computadores e
projetores para home theater,
livres de impostos e ainda entregues na porta de casa.
A B&H, loja com sede em Nova York, e o site Broker1, de São
Paulo, são dois canais de distribuição no país de produtos importados, sem incidência de
imposto de importação, segundo a Folha constatou. Existem
outras empresas e sites que
atuam da mesma forma à disposição dos brasileiros.
"Se desejar"
Na B&H, vendedores informaram que o consumidor só
paga o imposto "se desejar".
Durante duas semanas, a reportagem conversou por telefone (por meio do sistema de ligação gratuita 0800, conectado
diretamente com a empresa em
Nova York) com vários funcionários da B&H, que até já lançou no Brasil um catálogo de
produtos em português.
Todos os vendedores informaram que as mercadorias são
entregues na casa do cliente em
até 45 dias e que, para isso, o
consumidor paga (por meio de
cartão de crédito internacional) o valor do produto em dólares mais o do frete, que varia
de US$ 350 a US$ 600.
Nas últimas ligações, funcionários informaram que a compra só poderia ser concretizada
em 10 a 15 dias, pois "os aeroportos brasileiros estão congestionados neste momento.
Estamos apenas aguardando o
tráfego se normalizar", disse
um dos vendedores da loja.
Informaram também que as
recentes operações da polícia e
da Receita Federal [para combater o comércio exterior irregular] tinham atrapalhado a
entrega dos produtos, feita por
várias transportadoras, e que
não estavam autorizados a divulgar nomes dessas empresas.
Para combater a sonegação
fiscal no país, a Receita Federal
realizou recentemente uma
operação, batizada de Dilúvio,
que resultou em 102 pessoas
presas pela Polícia Federal em
oito Estados. Estima-se em R$
500 milhões o total de tributos
sonegados em cinco anos pelos
envolvidos nessa operação.
"Quando entra nesse período, não temos como fazer venda, porque não sabemos quanto
tempo vai demorar para o
transporte voltar ao normal. A
fiscalização não é em cima de
nós, mas das transportadoras",
disse um funcionário da B&H.
O vendedor do site Broker1 já
não pareceu incomodado com
operações de combate ao comércio exterior irregular no
país. Por e-mail, informou a um
consumidor que entregas de
produtos podiam ser feitas em
até cinco dias.
Sem riscos
"Os produtos vêm sem imposto porque a compra é feita
sem nota fiscal nos Estados
Unidos." Em outro trecho da
conversa, afirma que não há
riscos de a mercadoria ser
apreendida na Alfândega.
"Miami tem algum esquema
no aeroporto de Guarulhos [em
São Paulo], por isso passa sem
revista", disse o vendedor.
No site da Broker1, são oferecidos produtos de 41 marcas.
Um projetor Infocus IN76, que
lojistas paulistas estimam custar R$ 16 mil, é vendido por R$
8.100 no site -preço final.
O prazo de entrega prometido é de até cinco dias, se o consumidor estiver em São Paulo.
A troca do produto, em caso de
defeito, é feita em um mês, afirma o vendedor -nesse caso,
"sem despesas de envio".
Quando o cliente questiona se
há riscos de o produto ser
apreendido na Alfândega, o
vendedor responde, categórico:
"Quanto à Alfândega, não tenho tido problema".
No caso da B&H, o consumidor também não perde. Se o
produto não chega, segundo informou um cliente da loja, o dinheiro é devolvido. Se a mercadoria apresenta problemas,
também é trocada. O único problema é que, por meio desse tipo de importação, o cliente não
tem garantia se precisar de serviços de assistência técnica.
Lojistas especializados no
comércio de produtos de foto,
áudio e vídeo informaram que a
importação ilegal chega a inviabilizar seus negócios.
"Vendo um projetor pelo
equivalente a US$ 3.500, com
nota fiscal e assistência técnica.
Só que meu cliente pode adquirir o mesmo produto por US$
1.600 na B&H. E é o que ele está
fazendo, já que o produto chega
todo bonitinho à casa dele", diz
Fernando Ely, dono de uma
empresa que faz projetos de
home theater em Porto Alegre.
Ele diz que, neste ano, perdeu
20% dos seus negócios.
Carina Meneghel, gerente da
divisão de ótica da Fotoptica,
diz que a importação de forma
ilegal atrapalha os negócios da
loja, mas que esse problema já
foi maior. "Estima-se que metade do mercado de ótica seja
formada por produtos falsos ou
importados de forma ilegal.
Mas melhorou por conta das
ações da Receita", afirma.
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