São Paulo, domingo, 10 de setembro de 2006

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Mercado para obeso gira um Chile nos EUA

Produtos específicos para público acima do peso movimentam US$ 117 bi, ante US$ 33 bi na indústria de emagrecimento

Cadeira reforçada, roupa e carrinho de bebê, academia para quem pesa mais de 100 kg e até caixões fazem parte da lista disponível

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK

De berços e cadeiras de bebês a caixões, de guarda-chuvas a hotéis exclusivos, de cadeiras sem braços (para evitar que se fique preso) a camas com estrutura de aço reforçada. O mercado de bens e serviços voltados à obesidade nos EUA movimenta US$ 117 bilhões ao ano, valor equivalente ao PIB de um país como o Chile. O levantamento, do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), foi feito a partir de projeção da cobrança de impostos. Do outro lado, a indústria do emagrecimento mobiliza US$ 33 bilhões anuais.
Segundo o estudo do CDC, 71% dos homens, 61% das mulheres e 33% das crianças estão acima do peso ideal nos EUA. Do total da população, 64% são considerados obesos (quando o índice de massa corporal -peso dividido por altura elevada ao quadrado- é superior a 30).
A loja Amplestuff.com diz vender de tudo para "pessoas grandes", menos roupa. As concorrentes LargeDirectory.com e SuperSizeWorld.com oferecem serviços de busca de produtos em mais de 5.000 lojas especializadas.
"Não posso dizer aos clientes que percam peso", diz William Fabrey, dono da Amplestuff (coisas amplas, numa tradução literal). A idéia de abrir um negócio voltado para o mercado da obesidade, diz Fabrey, surgiu a partir de queixas de uma amiga de que não encontrava produtos básicos, como esponjas de banho com cabos mais longos ou cadeiras mais resistentes. "Vendo qualidade de vida. É preciso facilitar o dia-a-dia dessas pessoas", afirma.
A indústria automotiva tem feito em carros cada vez mais largos para acomodar pessoas maiores; todos com extensores de cintos de segurança. Até roupas de bebês já são vendidas no tamanho GGG e carrinhos de passeio e cadeiras vêm mais resistentes e mais largas.
Em todo o país já existem academias de ginástica segmentadas para quem está "acima do peso". Na entrada, o teste da balança. Pesou menos de 100 kg, não entra. É uma maneira, dizem, de não submeter os obesos ao suposto constrangimento de se exercitar ao lado de pessoas em (boa) forma.
Em seu site na internet, a funerária Batesville Casket chama os caixões GGG de "pequenos cômodos mais largos para a "viagem final da vida'".
Joan Belkin, 35, vendedora, pesa 160 kg. Compra a maior parte dos produtos on-line. "Ainda tenho vergonha de ir aos shoppings", diz. "Vê essa cadeira mais larga [ela mostra]? É reforçada em aço e não tem braços. As lojas comuns não vendem coisas assim."
"É preciso haver uma ação afirmativa das pessoas que estão acima do peso. Não me sinto mal por ser obeso", diz David Fried, 38, 140 kg.
O aumento do peso, revela o CDC, é inversamente proporcional à expectativa de vida, com diferença de até cinco anos, impacto maior que doenças cardíacas e câncer. O Departamento de Saúde dos EUA criou uma agência para o controle da doença e página com orientações de saúde e nutrição na internet. (www.cdc.gov/nccdphp/dnpa/obesity/).


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