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LUÍS NASSIF
O referencial conceitual
O Brasil é um país que
perdeu o eixo conceitual
há um bom tempo. Depois do
desastre dos anos 90, de 1995,
com câmbio e juros, houve um
breve momento, em 1996, em
que as grandes questões conceituais começaram a ser trabalhadas: reforma administrativa, portuária, ferroviária, mudança nas leis trabalhistas etc.
Depois, tudo se esboroou com
as mortes de Sérgio Motta e
Luiz Eduardo Magalhães, o
grampo do BNDES e a falência
da política monetária.
O governo Lula está tendo
uma oportunidade de reconstrução conceitual por meio do
Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social. No início
parecia ser mais um dos fóruns
intermináveis em que todos se
manifestam e nada se conclui.
Gradativamente, está começando a modelar propostas
conceituais referenciais -concorde-se ou não com elas.
Um dos últimos documentos
é a "Carta pela Democratização Universal do Saber". O documento constata as grandes
mudanças ocorridas nos últimos 20 anos, com a crise "dos
arranjos socioeconômicos baseados na produção padronizada em grande escala, nas
grandes burocracias públicas e
privadas, no mercado de consumo de massas, no Estado de
bem-estar social, na radiodifusão centralizada, em ideologias
desenvolvimentistas".
Constata que, se no século 20
os avanços sociais foram conquistados com a luta dos operários, no século 21 o desafio é a
inclusão social por meio da
apropriação pela sociedade dos
bens do conhecimento e da tecnologia.
O papel da política pública
deverá ser a "máxima inclusão
possível de indivíduos e grupos
sociais nas condições intelectuais e cognitivas exigidas para
a produção do conhecimento
necessário à geração e distribuição de riquezas". O desafio
consistirá em permitir aos produtores o acesso à distribuição
desses bens.
As bandeiras de luta passam
a ser o software livre, os medicamentos genéricos, as rádios
comunitárias, o direito à livre
troca de arquivos na rede, tantas outras, "expressões concretas, ainda não de todo politizadas e articuladas, desse novo
despertar político", diz o texto.
A partir daí o trabalho lista
um conjunto de metas, que vai
da educação e qualificação técnico-cultural da população,
transparência na gestão pública, fornecendo ao cidadão e às
comunidades total abertura de
informações e crescente capacidade para intervir diretamente
nas decisões político-administrativas que lhe digam respeito,
até "debate teórico e político
que conduza à edificação de
novas regras jurídicas que favoreçam o acesso democrático
à informação e ao conhecimento, coibindo a formação de
monopólios legais com base na
propriedade intelectual".
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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