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São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 2003

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FIM DO SUFOCO?

Pesquisa concluída neste mês, com 500 empresas, indica projeções mais otimistas; Fiesp pede cautela

Indústria diminui estoque e aumenta a produção, diz FGV

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A demanda da indústria aumentou, os estoques diminuíram, a utilização da capacidade das fábricas subiu e as projeções de negócios para os próximos seis meses são mais favoráveis do que eram em julho. Ainda, o mercado interno -enfraquecido no primeiro semestre- voltou a ser interessante para os empresários.
É isso o que constatou a FGV (Fundação Getúlio Vargas) em um levantamento com 500 indústrias de 21 setores, realizado entre os dias 16 de setembro e 6 de outubro. Esse estudo é uma prévia da Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, que colhe informações de cerca de mil indústrias a cada três meses. A fundação considera os dados extremos -pior ou melhor- para analisar o situação atual e as projeções das indústrias.
Três dados mostram a recuperação da indústria de transformação, informa a FGV. Em outubro, 17% das empresas informaram que a demanda está mais forte. No levantamento de julho, esse índice era de 14%. Também diminuiu nesse período o percentual de empresas que consideram a demanda fraca -de 38%, em julho, para 22% em outubro.
Das empresas consultadas, 19% disseram que os estoques estão excessivos -27% delas viviam essa situação em julho. E 4% delas consideram o estoque insuficiente -eram 2% em julho. A utilização da capacidade, de 78,5%, é um ponto percentual maior do que a verificada em julho.
"Os empresários estão menos pessimistas", afirma Aloísio Campelo Jr., coordenador de pesquisas empresariais da FGV. A redução das taxas de juros, o estímulo do governo a alguns setores e a proximidade do final do ano, quando, tradicionalmente, as vendas aumentam, explicam a melhora no ânimo das empresas.
As perspectivas para demanda, produção e emprego para o último trimestre deste ano, segundo a FGV, estão melhores do que as feitas para igual período de 2002. Para 44% das empresas consultadas, a demanda vai subir e, para 16%, diminuir. Em igual período do ano passado, esses percentuais eram 33% e 23%, respectivamente. Para 41% delas, a produção sobe. Para 24%, diminui. Há um ano, esses percentuais eram 32% e 27%, respectivamente.
A boa notícia para o trabalhador, segundo a FGV, é que as perspectivas de contratação de pessoal são melhores. Para 21% das empresas, o emprego vai aumentar e para 18% irá diminuir. Há um ano, esses números eram 17% e 21%, respectivamente.
O que chamou a atenção dos economistas da FGV nesse levantamento foi o fato de as perspectivas de negócios para o mercado interno estarem mais animadas do as para o externo. Para 46% dos empresários, a demanda doméstica deve subir neste trimestre. Em julho, 41% das empresas esperavam aumento e, há um ano, 30%. "Isso significa que as importações podem subir nos próximos meses", diz Campelo.
As perspectivas para as exportações, segundo o levantamento da FGV, já estão no caminho inverso. Para 30% das empresas, a demanda externa vai aumentar neste trimestre. Em julho, eram 42% e, em outubro de 2002, 40%. "O olho da indústria passou a ser o mercado interno", afirma. Vale lembrar que as exportações tradicionalmente enfraquecem no último trimestre do ano.

Cautela
Empresários ouvidos pela Folha consideram que há sinais de melhora na economia brasileira -em agosto, a produção industrial subiu 1,5% sobre julho, segundo o IBGE. "Mas não podemos fazer uma interpretação leviana desses dados", afirma Clarice Messer, diretora da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Os empresários estão mais otimistas agora do que em julho deste ano e do que em outubro do ano passado porque aqueles foram períodos ruins para o país. Em julho, diz, a indústria viveu o fundo do poço e, em outubro de 2002, o país estava sob os efeitos da troca de governo e de uma crise financeira -o dólar beirava R$ 4. "Vivemos uma fase melhor na economia, mas na comparação com um período crítico."
Boris Tabacof, vice-presidente do conselho de administração da Cia. Suzano de Papel e Celulose, diz que os sinais de reação da economia ainda são tímidos. O setor de papel e celulose, diz, ainda é sustentado pelas vendas externas.
De janeiro a agosto, diz, a produção de papel cresceu 0,6% sobre igual período do ano passado. As vendas no mercado interno caíram 5,8%, e as exportações cresceram 15,4% no período.
"Essa recuperação existe, mas não podemos esquecer que o país viveu um ano de paralisia. Então, qualquer sinal de melhora é positivo e deve ser celebrado", diz José Augusto Marques, presidente da Abdib, associação que reúne a indústria de base e infra-estrutura. Esse setor, diz, depende de investimentos do governo e da iniciativa privada. "Por enquanto, não há sinais de que virão já", afirma.


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