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COMÉRCIO MUNDIAL
Ministro afirma não haver disputa ideológica com EUA, mas que país vai defender seus interesses
Brasil não arreda o pé sobre Alca, diz Dirceu
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Casa Civil, José
Dirceu, disse ontem que o Brasil
não quer transformar a Alca
(Área de Livre Comércio das
Américas) em um confronto com
os Estados Unidos, mas que vai
continuar a defender seus interesses sobre o bloco.
"O Brasil não vai arredar pé da
defesa dos interesses nacionais.
Não é uma questão ideológica
contra os Estados Unidos. Não
vamos arredar o pé disso, assim
como os EUA defendem seus interesses", disse.
Dirceu também negou que haja
divisão no governo em relação às
negociações da Alca e na OMC
(Organização Mundial do Comércio). Ontem o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva também negou as divergências, por meio de
seu porta-voz, André Singer.
O ministro Roberto Rodrigues
(Agricultura) chegou a atacar a
"intransigência" da posição brasileira e, assim como o ministro
Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior), criticou a suposta falta
de informação do Itamaraty a
seus ministérios sobre a proposta
da Alca levada à reunião sobre o
bloco em Trinidad e Tobago, na
semana passada.
As reclamações levaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a
intervir, no intuito de unificar o
discurso. Lula determinou que as
divergências deixassem de ser expostas publicamente.
"Não existe nenhuma divisão
no governo sobre a política externa, com relação à Alca e à OMC. O
Itamaraty expressa essa política,
ela tem o apoio de todo o governo,
particularmente dos ministros
Roberto Rodrigues e Furlan. Temos unidade com relação à política que o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva está implementando
no país porque ela defende o interesse nacional", disse o ministro,
que participou de uma reunião
com a bancada do Nordeste na
Câmara dos Deputados ontem
pela manhã.
A crítica em relação à "intransigência" brasileira, partilhada pelos Estados Unidos e pela União
Européia, diz respeito à exigência
de redução dos subsídios agrícolas fornecidos pelos países desenvolvidos a seus produtores.
O impasse resultou no fracasso
do último encontro da OMC em
Cancún, quando o Brasil liderou
um grupo de países em desenvolvimento que se opôs à proposta
dos Estados Unidos e da União
Européia.
Dirceu defendeu a tática de negociação brasileira. "Não só o
Brasil, a maioria dos países da
América Latina não compreende
como é possível não negociar as
questões da agricultura e negociar
questões de propriedade intelectual, de investimentos, de compras governamentais, então vamos levar todos esses temas para
a OMC", disse ele.
Fabricação
O ministro Roberto Rodrigues
disse ontem que a polêmica em
torno das divergências da ala ministerial foi fabricada.
"Qualquer polêmica, principalmente quando ela é artificial, é
muito chata. Nesse caso, não houve polêmica, nem briga, nem discussões", disse o ministro em Piracicaba (SP).
Indagado sobre a forma como
soube das propostas do Brasil na
negociação na Alca, em Port of
Spain, em Trinidad e Tobago, na
última semana, Rodrigues afirmou que "já disse tudo que tinha
de ser dito a respeito".
O ministro defende que as negociações da Alca são de caráter
comercial. Para ele, a reunião preparatória em Trinidad e Tobago
foi apenas mais uma. "É em Miami que vai valer o jogo. Por enquanto, é só ensaio", disse o ministro, em referência à Conferência Ministerial da Alca, que está
marcada para o próximo mês, em
Miami (EUA).
De acordo Rodrigues, a posição
do Brasil tem sido de defesa do
país. "Minha posição é sempre a
mesma: não haverá avanço enquanto a agricultura não tiver um
tratamento adequado por parte
dos negociadores."
Colaborou Ana Paula Margarido,
da Folha Campinas
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