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São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 2003

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COMÉRCIO MUNDIAL

Ministro afirma não haver disputa ideológica com EUA, mas que país vai defender seus interesses

Brasil não arreda o pé sobre Alca, diz Dirceu

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Casa Civil, José Dirceu, disse ontem que o Brasil não quer transformar a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) em um confronto com os Estados Unidos, mas que vai continuar a defender seus interesses sobre o bloco.
"O Brasil não vai arredar pé da defesa dos interesses nacionais. Não é uma questão ideológica contra os Estados Unidos. Não vamos arredar o pé disso, assim como os EUA defendem seus interesses", disse.
Dirceu também negou que haja divisão no governo em relação às negociações da Alca e na OMC (Organização Mundial do Comércio). Ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também negou as divergências, por meio de seu porta-voz, André Singer.
O ministro Roberto Rodrigues (Agricultura) chegou a atacar a "intransigência" da posição brasileira e, assim como o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), criticou a suposta falta de informação do Itamaraty a seus ministérios sobre a proposta da Alca levada à reunião sobre o bloco em Trinidad e Tobago, na semana passada.
As reclamações levaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a intervir, no intuito de unificar o discurso. Lula determinou que as divergências deixassem de ser expostas publicamente.
"Não existe nenhuma divisão no governo sobre a política externa, com relação à Alca e à OMC. O Itamaraty expressa essa política, ela tem o apoio de todo o governo, particularmente dos ministros Roberto Rodrigues e Furlan. Temos unidade com relação à política que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está implementando no país porque ela defende o interesse nacional", disse o ministro, que participou de uma reunião com a bancada do Nordeste na Câmara dos Deputados ontem pela manhã.
A crítica em relação à "intransigência" brasileira, partilhada pelos Estados Unidos e pela União Européia, diz respeito à exigência de redução dos subsídios agrícolas fornecidos pelos países desenvolvidos a seus produtores.
O impasse resultou no fracasso do último encontro da OMC em Cancún, quando o Brasil liderou um grupo de países em desenvolvimento que se opôs à proposta dos Estados Unidos e da União Européia.
Dirceu defendeu a tática de negociação brasileira. "Não só o Brasil, a maioria dos países da América Latina não compreende como é possível não negociar as questões da agricultura e negociar questões de propriedade intelectual, de investimentos, de compras governamentais, então vamos levar todos esses temas para a OMC", disse ele.

Fabricação
O ministro Roberto Rodrigues disse ontem que a polêmica em torno das divergências da ala ministerial foi fabricada.
"Qualquer polêmica, principalmente quando ela é artificial, é muito chata. Nesse caso, não houve polêmica, nem briga, nem discussões", disse o ministro em Piracicaba (SP).
Indagado sobre a forma como soube das propostas do Brasil na negociação na Alca, em Port of Spain, em Trinidad e Tobago, na última semana, Rodrigues afirmou que "já disse tudo que tinha de ser dito a respeito".
O ministro defende que as negociações da Alca são de caráter comercial. Para ele, a reunião preparatória em Trinidad e Tobago foi apenas mais uma. "É em Miami que vai valer o jogo. Por enquanto, é só ensaio", disse o ministro, em referência à Conferência Ministerial da Alca, que está marcada para o próximo mês, em Miami (EUA).
De acordo Rodrigues, a posição do Brasil tem sido de defesa do país. "Minha posição é sempre a mesma: não haverá avanço enquanto a agricultura não tiver um tratamento adequado por parte dos negociadores."


Colaborou Ana Paula Margarido, da Folha Campinas


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