São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

Nobel de Economia, BC e inflação

Edmund Phelps, Nobel de Economia, é um dos patronos do pensamento sobre as expectativas de inflação

ENTRE ECONOMISTAS, o Nobel concedido a Edmund Phelps não causou muito impacto.
Seus estudos estão faz tempo no DNA do pensamento econômico padrão. Mas o pessoal dos bancos centrais de todo mundo deve ter gostado dessa homenagem pública e midiática a seu modo de pensar. Phelps estudou a relação entre desemprego e inflação. O neozelandês Alban Phillips (1914-1975) expôs a matemática dessa relação em 1957.
Grosso modo, quando nível de desemprego e de preços está em equilíbrio, uma redução do desemprego (que causaria alta de custos nas empresas e mais consumo) acarretaria alta de preços. Tal relação entre preços e emprego sugeriu uma idéia sedutora: os governos poderiam regular a taxa de desemprego (e, assim, o nível de atividade econômica) tolerando mais ou menos inflação.
Phelps fundamentou a idéia de que existiria uma taxa natural de desemprego, abaixo da qual haveria inflação.
Um governo que gastasse demais a fim de estimular a economia, permitindo mais inflação, acabaria por, digamos, "viciar" os agentes econômicos. Quanto mais inflação fosse aceita, mais inflação seria necessária para "criar" a quantidade de empregos desejada, até que o sistema de preços entrasse em colapso.
Mas qual o nível da "taxa natural" de desemprego? Durante parte do enorme crescimento da economia americana dos anos 90, o desemprego caiu abaixo do nível tido como "natural" sem que se verificasse alta geral e duradoura de preços. Alan Greenspan, então líder do BC americano, testava novos limites para a expansão do emprego e do PIB, grosso modo baseado na idéia de que a produtividade da "nova economia" seguraria os preços, impedindo o superaquecimento da produção.
Para Phelps, a "taxa natural" de desemprego e seu impacto nos preços varia, mas não só devido a aumentos de produtividade. Os preços (de ativos, salários e a inflação total) dependem ainda de como empresas, trabalhadores, consumidores e investidores avaliam o valor presente e futuro de salários, ativos e da inflação geral: de suas expectativas.
O alto valor de mercado de uma empresa pode levá-la à decisão de manter sua taxa de expansão e não perder ativos valiosos (empregados qualificados, pesquisa tecnológica etc), mesmo aceitando preços e lucro menores. Outro exemplo em resumo simples: as expectativas dos agentes econômicos podem divergir, o que faria com que o ajuste de situações tidas como de desequilíbrio (desemprego alto ou baixo demais) seja mais demorado que o previsto. Mas, uma vez disseminada a expectativa de alta dos preços, tal expectativa tende a se tornar uma profecia auto-realizável.
Alguma lição? Sim, a credibilidade da coordenação de expectativas de inflação pelo BC é muito importante e reduz o custo de conter uma alta de preços no futuro. Mas também importa conhecer fatores como a reação das empresas a estímulos fortes de demanda (vão investir mais ou aumentar preços?) ou à concorrência de importados baratos (vão importar mais e demitir ou produzir e/ou vender mais barato?). Sobre tais coisas sabe-se pouco no Brasil, o que pode induzir autoridades monetárias a decisões desnecessariamente custosas.


vinit@uol.com.br

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