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VINICIUS TORRES FREIRE
Nobel de Economia, BC e inflação
Edmund Phelps, Nobel de Economia, é um dos patronos do pensamento sobre as expectativas de inflação
ENTRE ECONOMISTAS, o Nobel
concedido a Edmund Phelps
não causou muito impacto.
Seus estudos estão faz tempo no
DNA do pensamento econômico padrão. Mas o pessoal dos bancos centrais de todo mundo deve ter gostado dessa homenagem pública e midiática a seu modo de pensar.
Phelps estudou a relação entre desemprego e inflação. O neozelandês
Alban Phillips (1914-1975) expôs a
matemática dessa relação em 1957.
Grosso modo, quando nível de desemprego e de preços está em equilíbrio, uma redução do desemprego
(que causaria alta de custos nas empresas e mais consumo) acarretaria
alta de preços. Tal relação entre preços e emprego sugeriu uma idéia sedutora: os governos poderiam regular a taxa de desemprego (e, assim, o
nível de atividade econômica) tolerando mais ou menos inflação.
Phelps fundamentou a idéia de
que existiria uma taxa natural de desemprego, abaixo da qual haveria inflação.
Um governo que gastasse demais a fim de estimular a economia,
permitindo mais inflação, acabaria
por, digamos, "viciar" os agentes
econômicos. Quanto mais inflação
fosse aceita, mais inflação seria necessária para "criar" a quantidade de
empregos desejada, até que o sistema de preços entrasse em colapso.
Mas qual o nível da "taxa natural"
de desemprego? Durante parte do
enorme crescimento da economia
americana dos anos 90, o desemprego caiu abaixo do nível tido como
"natural" sem que se verificasse alta
geral e duradoura de preços. Alan
Greenspan, então líder do BC americano, testava novos limites para a
expansão do emprego e do PIB,
grosso modo baseado na idéia de
que a produtividade da "nova economia" seguraria os preços, impedindo
o superaquecimento da produção.
Para Phelps, a "taxa natural" de
desemprego e seu impacto nos preços varia, mas não só devido a aumentos de produtividade. Os preços
(de ativos, salários e a inflação total)
dependem ainda de como empresas,
trabalhadores, consumidores e investidores avaliam o valor presente
e futuro de salários, ativos e da inflação geral: de suas expectativas.
O alto valor de mercado de uma
empresa pode levá-la à decisão de
manter sua taxa de expansão e não
perder ativos valiosos (empregados
qualificados, pesquisa tecnológica
etc), mesmo aceitando preços e lucro menores. Outro exemplo em resumo simples: as expectativas dos
agentes econômicos podem divergir, o que faria com que o ajuste de
situações tidas como de desequilíbrio (desemprego alto ou baixo demais) seja mais demorado que o previsto. Mas, uma vez disseminada a
expectativa de alta dos preços, tal
expectativa tende a se tornar uma
profecia auto-realizável.
Alguma lição? Sim, a credibilidade
da coordenação de expectativas de
inflação pelo BC é muito importante
e reduz o custo de conter uma alta de
preços no futuro. Mas também importa conhecer fatores como a reação das empresas a estímulos fortes
de demanda (vão investir mais ou
aumentar preços?) ou à concorrência de importados baratos (vão importar mais e demitir ou produzir
e/ou vender mais barato?). Sobre
tais coisas sabe-se pouco no Brasil, o
que pode induzir autoridades monetárias a decisões desnecessariamente custosas.
vinit@uol.com.br
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