São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 2008

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BC volta a agir, e dólar fica abaixo de R$ 2,20

Com venda de moeda das reservas e de "swap", governo quer conter especulação

Moeda americana recuou 3,59%; para analistas, autoridade monetária deve continuar atuando para impedir oscilações extremas

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

A intervenção do Banco Central no mercado de câmbio levou o dólar comercial ao segundo dia consecutivo de queda. A moeda americana recuou 3,59% ontem, para R$ 2,198, enquanto o BC realizava dois leilões de venda de divisas das reservas internacionais e um de contratos de "swap" cambial, um tipo de papel que oferece proteção futura contra a variação das cotações.
A quinta-feira foi de menos nervosismo nesse segmento do mercado do que as sessões anteriores, mas isso porque o expediente já estava encerrado quando a Bolsa de Nova York começou a cair. "Esperamos para amanhã [hoje] mais tumulto e volatilidade", afirmou Mário Battistel, gerente da Fair Corretora.
Para os analistas, a autoridade monetária deve continuar atuando a fim de tentar impedir oscilações muito grandes do dólar. "O BC está preocupado em fornecer liquidez para o mercado", explica Reginaldo Galhardo, gerente da Treviso Corretora.
Desde o início da semana, o volume de negociações com a moeda estava pequeno por causa das incertezas generalizadas, que espantavam as empresas do setor de comércio exterior.
Ontem, porém, o movimento cresceu um pouco. "O importador está se mostrando mais disposto a fechar o câmbio. Já o exportador está percebendo que era feliz com o dólar a R$ 1,60 e não sabia. Afinal, agora ele não possui linha de crédito para financiar as suas vendas ,e os compradores, lá fora, vendo que o dólar se valorizou ante o real, começam a pedir desconto sobre os produtos", comenta Galhardo.
No começo da noite, o BC já havia anunciado a realização de mais um leilão de "swap" cambial nesta sexta-feira. Ontem, negociou contratos no montante total de US$ 911 milhões.
A instituição não divulga oficialmente quanto vendeu de dinheiro vivo, porém os operadores estimam que tenha sido uma quantidade semelhante à das operações de quarta-feira, entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2 bilhões -o que representa menos de 1% das reservas internacionais do país, atualmente em US$ 208 bilhões.
Como fatores de pressão para as cotações, continuam os boatos de que mais empresas virão a público nos próximos dias para informar prejuízos com transações arriscadas no mercado de câmbio futuro e a especulação. Se, durante o dia, ontem, o dólar chegou à mínima de R$ 2,146 mas diminuiu a queda no final, significa que os bancos que compraram do BC a moeda a R$ 2,168 podiam vendê-la com lucro horas depois.
A ação do BC também tem como objetivo inibir os especuladores. No entanto é muito difícil fazer previsões para os rumos da moeda americana porque os problemas fundamentais que causaram a valorização de do real ante o dólar -41% desde 1º de agosto- ainda estão presentes.
O temor de uma recessão longa e grave, que provocou pânico em Wall Street ontem, faz com que os investidores estrangeiros corram para tirar seu dinheiro de ativos e países considerados menos seguros e se refugiar nos títulos do Tesouro dos EUA. Eles também precisam do dinheiro para cobrir as perdas com a crise.
Além disso, assim como outros países emergentes, o Brasil deve ver a demanda internacional pelos seus produtos diminuir, reduzindo as suas exportações, o que significa menor entrada de dólares.


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