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Fundo eleva pessimismo nas Bolsas da Europa
DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI
O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, as
duas instituições criadas após a
Segunda Guerra Mundial
(1939/45) precisamente para
gerir as finanças globais, só
apareceram ontem no terremoto que sacode os mercados
-e o fizeram para causar agitação em águas que, pela primeira vez na semana, estavam mais
calmas, ao menos na Europa.
Quando Dominique Strauss-Kahn, o gerente-geral do FMI,
disse que "o mundo está à beira
de uma recessão global", as Bolsas européias de Valores voltaram ao vermelho, depois de terem passado parte do dia em
território positivo.
Robert Zoellick, presidente
do Banco Mundial, acrescentaria: "A deterioração nas condições financeiras, combinada
com um endurecimento monetário, provocará a quebra de
empresas e, possivelmente,
emergências bancárias".
Não que as duas frases contenham novidades. A recessão
global já estava mais ou menos
desenhada no relatório sobre
as perspectivas econômicas do
planeta, liberado anteontem
pelo FMI. E a perspectiva de
"emergências bancárias" já fora antecipada no mesmo dia
por Hank Paulson, o secretário
norte-americano do Tesouro,
em tese bem mais informado
do que Zoellick sobre o que
acontece nos mercados.
Mas, num mundo em estado
de pânico, qualquer frase negativa provoca desconfiança -e
os agentes de mercado vendem
alucinadamente o que podem e
até o que não podem.
Na Europa, só a Bolsa da Rússia subiu, quase tão espetacularmente quanto vem caindo
(10,91%). As outras sofreram
quedas, embora mais leves que
as desta semana: na Alemanha,
2,53%; em Londres, 1,21%; em
Paris, 1,55%; em Madri, 3,83%,
o que a levou ao nível mais baixo desde julho de 2005.
O irônico na razão apontada
para a queda, após um início de
dia promissor, é que, quase no
mesmo momento, Anne-Marie
Slaughter, reitora da Escola de
Assuntos Públicos e Internacionais da badalada Princeton
University, dizia em entrevista
ao "site" do Council on Foreign
Relations: "O FMI está praticamente invisível na crise. Simplesmente não é um ator".
Tinha razão. A ironia é que o
FMI entrou da pior maneira na
crise, ainda que explicações de
mercado devam ser sempre tomadas com cuidado.
As declarações de Zoellick/
Strauss-Kahn são apenas um
elemento a mais no ambiente
de profunda desconfiança que
domina os mercados. Por isso,
os juros para empréstimos entre bancos - na Europa, é a taxa
Euribor- não cedem nem após
a redução da taxa de juros para
o restante do mercado nem
após sucessivas injeções de recursos no sistema financeiro.
O Euribor subiu ontem de
5,48% para 5,51%, uma diferença de 1,75 ponto percentual em
relação à taxa oficial de juros,
reduzida ontem para 3,75%. A
brecha é o dobro da que vinha
sendo habitual.
O Euribor é também a taxa
de referência para os empréstimos hipotecários. A 5,5%, como está, significa que, ao terminar outubro, quem tem que pagar suas hipotecas na Espanha
gastará 80 euros a mais (R$ 240
ou mais da metade de um salário mínimo).
"Essa taxa não se reduzirá
automaticamente, mas apenas
quando voltar a confiança", avisa o governador do Banco de
Espanha, o BC espanhol, Miguel Ángel Fernández Ordóñez. Claro que ele imagina que
a confiança voltará à medida
em que as medidas dos diferentes governos começarem a fazer efeito.
O que ninguém explica é porque os sucessivos pacotes de injeção de dinheiro no sistema financeiro não conseguem pelo
menos reduzir a desconfiança.
Talvez uma parte da explicação esteja nos comentários de
Gerardo Díaz Ferrán, presidente da Confederação Espanhola
de Organizações Empresariais,
sobre o pacote de entre 30 bilhões e 50 bilhões de euros que
o governo da Espanha anunciou para os bancos.
Díaz Ferrán teme que esse
dinheiro seja usado para que os
bancos paguem dívidas pendentes, com o que não sobraria
recursos para empréstimos de
que tanto carece a economia
espanhola. Insinua até que talvez seja necessário adicionar
30 bilhões de euros para que o
crédito chegue às empresas.
O que só mostra que não são
apenas os bancos que desconfiam uns dos outros. Todos desconfiam de todos.
(CLÓVIS ROSSI)
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