São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2001

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Brasil teme conluio de UE e EUA sobre agricultura

DO ENVIADO ESPECIAL A DOHA

A delegação brasileira avisou ontem à norte-americana que não vai aceitar uma eventual composição entre Estados Unidos e União Européia que leve a um texto aguado sobre agricultura.
A advertência foi feita em encontro entre o ministro da Agricultura, Marcus Vinicius Pratini de Moraes, e sua contraparte norte-americana, Ann Veneman.
O motivo da desconfiança: antes da reunião bilateral, Veneman havia passado pelo encontro do grupo de Cairns (os 18 maiores produtores e exportadores agrícolas, Brasil inclusive), para reiterar apoio à proposta de liberalização da agricultura.
Mas não deixou de observar que os europeus tinham dificuldade em aceitar o texto proposto.
"Piorar o que já está não dá", reage Pedro de Camargo Neto, que faz sua estréia na OMC como funcionário do Ministério da Agricultura.
A desconfiança do pessoal brasileiro de agricultura tem, na verdade, raízes bem mais remotas. Durante a Rodada Uruguai (1986/94), agricultura também emperrou as negociações, até que Europa e Estados Unidos se acertaram em torno de uma liberalização limitadíssima e empurraram-na goela abaixo dos outros países (o que ficou conhecido como acordo de Blair House).
Agora, há um verdadeiro campeonato entre EUA e UE para ver quem é mais favorável, no discurso, à abertura agrícola.
"Ninguém faz mais que a União Européia para manter a chama do sistema multilateral de comércio", proclama Pascal Lamy, o comissário europeu do Comércio.
Questionado sobre as críticas ao protecionismo europeu, embora também utilize mecanismos do gênero, um alto funcionário norte-americano responde: "Os EUA têm que se defender das práticas dos outros".
Tudo somado, a discussão sobre agricultura pode acabar se resolvendo na questão de datas para encerrá-la com uma abertura tão suculenta quanto seja possível obter de Europa e Estados Unidos. (CR)


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