São Paulo, domingo, 10 de novembro de 2002

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Para não ser vilão, Sendas diz que aceita vender com margem zero

DA REPORTAGEM LOCAL

"O cliente não acha que é a Nestlé que está aplicando um aumento abusivo. Ele pensa que é a rede Sendas. É normal que a possível indignação do consumidor atinja a imagem do varejo. Não queremos ser vilões."
A avaliação é de Nelson Sendas, 40, herdeiro da rede Sendas, a quinta maior do país, com faturamento superior a R$ 2,5 bilhões por ano.
Na última semana, a rede colocou um aviso em seu site na internet informando que "devido aos aumentos de alguns de nossos fornecedores poderão faltar mercadorias em nossos estoques".
A medida foi malvista pela indústria, mas Sendas não parece preocupado com isso.
A seguir, os principais trechos da entrevista.


Folha - O dólar sobe há meses e o preço dos alimentos dispara. É a indústria que aproveita o momento para subir demais os preços ou o varejo que não quer reduzir sua margem?
Nelson Sendas -
De maneira nenhuma acreditamos que a indústria age de má-fé. Até porque quem age assim não vai muito longe.Tivemos aumento de enlatados por conta da subida do alumínio, que é cotado em dólar. O leite também tem os custos atrelados ao dólar, assim como o açúcar e a farinha de trigo. Mas não dá para mandar subir o preço do leite em 10% porque a indústria aumentou. Por isso, podemos até trabalhar com margem zero, dependendo do produto. Somos a ponta do mercado, somos nós que mantemos contato direto com o cliente. Por isso, essa ação de barrar reajustes tem de ser nossa. Temos olhado aumento por aumento.

Folha - No início dos anos 90 o varejo ganhou a imagem de vilão. Os preços subiam, e o consumidor passou a crer que era a loja que os aumentava. Agora, o varejo vem a público dizer ao consumidor que é a indústria que pede altos reajustes. O que mudou?
Sendas -
Não queremos ser vilões. Mas isso é complicado. O cliente não acha que é a Nestlé que está aplicando aumento abusivo. Ele pensa que é a rede Sendas. É normal que a possível indignação do consumidor atinja a imagem do varejo. Por essa razão, somos nós que temos de ter uma atitude muito mais pró-ativa do que a indústria. Não condeno essa atitude. Essa forma de mostrar ao cliente o que está acontecendo, por meio de avisos, é transparência.

Folha - Há risco de uma disparada da inflação?
Sendas -
Achamos que os preços já chegaram ao pico e agora a tendência é de queda. Com a retração recente na cotação do dólar, acreditamos que isso irá se refletir no valor de alguns produtos. Principalmente por causa da demanda, que anda devagar.

Folha - Há a possibilidade de a rede Sendas impor limites de venda de açúcar e de outros produtos em suas lojas, caso a dificuldade de negociar com a indústria cresça e faltem produtos?
Sendas -
Produto não vai faltar. Pelo menos se depender da gente. Hoje não estamos determinando limites para a compra, mas no futuro podemos fazer isso. Pensamos em algumas maneiras de evitar que as pessoas comprem para revenda e para simples estoque em casa. Até porque isso não faz sentido. Estocar produtos agora, remetendo à época da inflação na casa dos 80%, é um absurdo. Ao percebemos que há correria nas lojas, estudamos a possibilidade de impor limites na hora da compra passar pelo caixa.

Folha - Como está a negociação com a indústria? Teremos mais aumentos?
Sendas -
Temos um estoque razoável, regular. Não há excesso. Mas não está nada fácil negociar mesmo. Costumo dizer que esse assunto não tem mais graça. É desgastante e estressante. Para o açúcar, por exemplo, estamos aceitando reajuste em torno de 45%, que é o que dá para negociar. Mesmo assim, é alto. Com taxa perto disso, a gente precisa pensar na possibilidade de trabalhar com margem zero no produto. Repassar para o consumidor só o aumento da indústria. (AM)


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