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AJUDA AO DESENVOLVIMENTO
Proposta é de Lula e Chirac
Ministro francês vê possibilidade de criação da taxa global em 1 ano
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Provavelmente, dentro de um
ano, a iniciativa dos presidentes
do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da França, Jacques Chirac, de
criar um imposto internacional
para ajudar na luta contra a fome
e contra a miséria mundiais venha a se tornar uma realidade.
A afirmação é de Xavier Darcos,
57, ministro francês da Cooperação, do Desenvolvimento e da
Francofonia. Leia a seguir trechos
da entrevista que ele concedeu à
Folha, na Universidade de São
Paulo, após receber a medalha de
honra da USP durante evento relacionado à comemoração do 70º
aniversário da universidade.
Folha - A ajuda ao desenvolvimento é uma das atribuições de
sua pasta. O sr. sabe se a proposta
de Chirac e de Lula de criar uma taxa internacional para combater a
fome e a miséria tem avançado?
Xavier Darcos - Sim, muito.
Quando algumas entidades falavam em aplicar a taxa Tobin [imposto global] no passado, muitos
achavam que isso fosse uma loucura. Hoje vemos que a iniciativa
foi bem recebida, pois, quando a
proposta foi apresentada na
ONU, 107 países a aprovaram. Já
há 111 Estados que a defendem.
Há um consenso global em torno da idéia de que é preciso encontrar novas fontes de financiamento do desenvolvimento. Hoje
cerca de US$ 50 bilhões são dedicados a esse esforço, mas seria necessário chegar a US$ 100 bilhões.
Deve-se comparar o montante
com o do comércio anual de armas, que é de US$ 900 bilhões.
Em março, haverá uma reunião
do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial para debater o tema, e, em setembro,
ocorrerá uma sessão da ONU em
que a questão da taxa global voltará à pauta. Em um ano, uma espécie de acordo surgirá sobre a necessidade de novas fontes de financiamento, e, provavelmente, a
iniciativa de Lula e de Chirac vá
tornar-se uma realidade.
Folha - Certa transparência deve
ser exigida dos líderes de países
que recebem ajuda internacional?
Darcos - Trata-se de uma exigência de todos os fornecedores globais de fundos e de organizações
internacionais. Há algumas exigências: transparência, probidade, boa governança e respeito aos
direitos humanos e à democracia.
Folha - Ainda é razoável financiar
o desenvolvimento de países como
o Brasil ou é melhor concentrar a
ajuda em Estados mais pobres?
Darcos - Os dois devem existir.
Países pobres são prioritários e se
beneficiam de dispositivos específicos. Mas os emergentes, como o
Brasil, também devem receber
ajuda, pois, para tirar certos países da pobreza, é preciso ajudar os
Estados em desenvolvimento. Estes funcionam como pólos de desenvolvimento regional.
Folha - Qual é a relação atual da
França com a USP?
Darcos - A USP é uma universidade enorme, com a qual temos
uma relação histórica. Um grande
número de acadêmicos franceses
participou de sua criação há 70
anos. Além disso, durante a guerra, um número significativo de intelectuais franceses veio a São
Paulo e trabalhou na USP.
É por isso que, atualmente, é
mais fácil continuar essa cooperação. Esta se desenvolve de três
modos. Primeiro, há intercâmbio
de diplomas, o que permite que os
estudantes obtenham um diploma brasileiro e um francês. Segundo, há a troca de estudantes, já
que oferecemos a brasileiros 160
bolsas de estudo por ano.
Terceiro, temos outros projetos
de intercâmbio, sobretudo de
pesquisadores que fazem pós-doutorado. Além disso, já há na
USP uma cátedra de ciência social
chamada [Claude] Lévy-Strauss,
pois ele foi um dos criadores da
universidade em 1934. E queremos ainda criar uma cátedra de filosofia e uma de geografia.
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