São Paulo, quarta-feira, 10 de novembro de 2004

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AJUDA AO DESENVOLVIMENTO

Proposta é de Lula e Chirac

Ministro francês vê possibilidade de criação da taxa global em 1 ano

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Provavelmente, dentro de um ano, a iniciativa dos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da França, Jacques Chirac, de criar um imposto internacional para ajudar na luta contra a fome e contra a miséria mundiais venha a se tornar uma realidade.
A afirmação é de Xavier Darcos, 57, ministro francês da Cooperação, do Desenvolvimento e da Francofonia. Leia a seguir trechos da entrevista que ele concedeu à Folha, na Universidade de São Paulo, após receber a medalha de honra da USP durante evento relacionado à comemoração do 70º aniversário da universidade.
 

Folha - A ajuda ao desenvolvimento é uma das atribuições de sua pasta. O sr. sabe se a proposta de Chirac e de Lula de criar uma taxa internacional para combater a fome e a miséria tem avançado?
Xavier Darcos -
Sim, muito. Quando algumas entidades falavam em aplicar a taxa Tobin [imposto global] no passado, muitos achavam que isso fosse uma loucura. Hoje vemos que a iniciativa foi bem recebida, pois, quando a proposta foi apresentada na ONU, 107 países a aprovaram. Já há 111 Estados que a defendem.
Há um consenso global em torno da idéia de que é preciso encontrar novas fontes de financiamento do desenvolvimento. Hoje cerca de US$ 50 bilhões são dedicados a esse esforço, mas seria necessário chegar a US$ 100 bilhões. Deve-se comparar o montante com o do comércio anual de armas, que é de US$ 900 bilhões.
Em março, haverá uma reunião do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial para debater o tema, e, em setembro, ocorrerá uma sessão da ONU em que a questão da taxa global voltará à pauta. Em um ano, uma espécie de acordo surgirá sobre a necessidade de novas fontes de financiamento, e, provavelmente, a iniciativa de Lula e de Chirac vá tornar-se uma realidade.

Folha - Certa transparência deve ser exigida dos líderes de países que recebem ajuda internacional?
Darcos -
Trata-se de uma exigência de todos os fornecedores globais de fundos e de organizações internacionais. Há algumas exigências: transparência, probidade, boa governança e respeito aos direitos humanos e à democracia.

Folha - Ainda é razoável financiar o desenvolvimento de países como o Brasil ou é melhor concentrar a ajuda em Estados mais pobres?
Darcos -
Os dois devem existir. Países pobres são prioritários e se beneficiam de dispositivos específicos. Mas os emergentes, como o Brasil, também devem receber ajuda, pois, para tirar certos países da pobreza, é preciso ajudar os Estados em desenvolvimento. Estes funcionam como pólos de desenvolvimento regional.

Folha - Qual é a relação atual da França com a USP?
Darcos -
A USP é uma universidade enorme, com a qual temos uma relação histórica. Um grande número de acadêmicos franceses participou de sua criação há 70 anos. Além disso, durante a guerra, um número significativo de intelectuais franceses veio a São Paulo e trabalhou na USP.
É por isso que, atualmente, é mais fácil continuar essa cooperação. Esta se desenvolve de três modos. Primeiro, há intercâmbio de diplomas, o que permite que os estudantes obtenham um diploma brasileiro e um francês. Segundo, há a troca de estudantes, já que oferecemos a brasileiros 160 bolsas de estudo por ano.
Terceiro, temos outros projetos de intercâmbio, sobretudo de pesquisadores que fazem pós-doutorado. Além disso, já há na USP uma cátedra de ciência social chamada [Claude] Lévy-Strauss, pois ele foi um dos criadores da universidade em 1934. E queremos ainda criar uma cátedra de filosofia e uma de geografia.


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