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Renda da classe média cai 46% em 6 anos
Parcela da população que ganha acima de três salários mínimos perde 2 milhões de empregos formais desde 2001
Em contrapartida, trabalhador que recebe até
1 mínimo vê aumento de 124% nos ganhos e saldo
de 2,2 milhões de vagas
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O saldo da criação de empregos e da evolução da renda da
classe média no primeiro mandato do governo Lula é amplamente negativo. Nessa parcela
da população que mais paga
imposto e consome, deu-se o
contrário do verificado entre os
mais pobres, em que a renda e o
emprego prosperaram.
Entre a maioria dos países da
América Latina, com exceção
da Argentina, é no Brasil onde a
classe média mais encolheu sua
participação no total da renda
nos últimos anos. O fenômeno
ocorre desde os anos FHC.
Considerando classe média
quem ganha acima de três salários mínimos (mais de R$
1.050), houve saldo negativo de
quase 2 milhões de empregos
formais nos últimos seis anos.
A renda de quem conseguiu entrar no mercado recebendo
mais de R$ 1.050 caiu 46% em
termos reais (descontada a inflação) ante o que era pago aos
que foram demitidos.
Os trabalhadores com pior
remuneração foram na outra
direção. Houve um saldo positivo (admitidos menos demitidos) de quase 6 milhões de novas vagas para quem ganha entre um e três mínimos de 2001 a
setembro de 2006. O aumento
na renda foi de 48%.
Para quem ganha só até um
mínimo (R$ 350), o balanço
também é positivo: 2,2 milhões
de vagas e renda 124% maior.
Os dados são do Caged (Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados, do Ministério
do Trabalho) e foram compilados pela MB Associados.
Há outras maneiras de estabelecer quem é classe média no
país, como levar em conta uma
renda individual um pouco
maior do que três salários mínimos e os bens e serviços a que o
cidadão tem acesso.
Mesmo pelo critério de renda maior do que três mínimos e
de consumo de determinados
bens, segundo levantamento
do Datafolha, foi a classe média
quem menos ganhou nos últimos quatro anos.
Enquanto cerca de 7 milhões
de eleitores migraram no governo Lula das classes D e E
(maioria com renda até R$
700) para a C (de R$ 700 a R$
1.750), a migração de membros
da classe C para a A/B (ou média, com renda acima de R$
1.750) envolveu apenas cerca
de 1 milhão de eleitores.
"Essa é a essência da economia em que vivemos nos últimos seis anos. Se quisermos
que a desigualdade diminua, as
pessoas mais pobres terão de
ver seus salários subirem mais.
Os moradores de São Paulo terão de se acostumar com a idéia
de que a economia do Piauí vai
crescer mais", diz Sergei Soares, especialista em desigualdade social do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada).
Concentração no Sudeste
Segundo o "Atlas da Nova Estratificação Social do Brasil -Classe Média - Desenvolvimento e Crise", concluído neste ano por 11 pesquisadores,
57% das famílias de classe média concentram-se no Sudeste.
No Nordeste e no Norte, são
12,5% e 4,7%, respectivamente.
No geral, três em cada quatro
famílias de classe média vivem
no Sudeste ou no Sul.
O trabalho considera classe
média as famílias com renda
entre R$ 2.275 e R$ 25.200. Levando em conta que núcleos familiares no Brasil têm, em média, quatro pessoas e que geralmente os menores de idade da
classe média não trabalham, a
renda individual se situaria entre R$ 1.137 (próxima a três salários mínimos) e R$ 12.600.
Por esses critérios, 32% das
famílias são da classe média.
Apesar de ter perdido espaço
e renda, foi a classe média
quem bancou (com impostos
crescentes) boa parte da melhora na distribuição de renda
nos últimos anos -principalmente via programas assistenciais e subsidiados, como os da
Previdência indexados ao mínimo e o Bolsa Família.
Em termos tributários, é
considerado de classe média
quem ganha entre R$ 3.000 e
R$ 10.000 (na prática, quem recebe até R$ 1.562 não paga IR).
"Mais de 60% da carga de IR
da pessoa física recai sobre a
classe média. Outros 25%, sobre os mais ricos, e só 15% em
quem está abaixo dessa faixa",
diz Gilberto do Amaral, presidente do Instituto Brasileiro de
Planejamento Tributário.
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