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Guerra fiscal custa R$ 25 bi, diz governo
Conta será apresentada pela Fazenda aos futuros governadores para convencê-los a negociar uma ampla reforma tributária
Proposta só terá primeiros efeitos em três ou quatro anos; plano é unificar as alíquotas do ICMS e cobrar tributo no Estado de destino
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A guerra fiscal travada entre
os Estados para atrair investimentos custa R$ 25 bilhões por
ano, segundo levantamento feito pelo Ministério da Fazenda.
Essa é a conta que o governo
federal apresentará aos futuros
governadores para convencê-los a negociar uma reforma tributária que, além do fim da
guerra fiscal, inclua a mudança
profunda no sistema de cobrança do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias
e Serviços).
"A reforma tributária é um
jogo de soma positiva. Só os sonegadores perdem. O Ministério da Fazenda não tem um
projeto pronto. Vamos discutir
com os governadores. O que
achamos é que existem condições de ir além do que foi proposto em 2003", explicou Bernard Appy, secretário-executivo da Fazenda.
A proposta que será levada
aos governadores em janeiro só
terá seus primeiros efeitos em
três ou quatro anos. Isso quer
dizer que, apesar de negociada
pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, será seu sucessor
quem sentirá os impactos da
mudança e terá que arcar com
custos inesperados que apareçam ao longo do processo.
Não se trata, porém, de uma
manobra política. Esse é o prazo que o governo precisa para
implementar a nota fiscal eletrônica em todo o país e formar
a base de dados desse sistema.
Só assim será possível saber
exatamente que empresa vendeu e onde o produto foi entregue, o que permitirá calcular
com precisão qual a perda de
arrecadação de cada Estado.
Negociação
Esses cálculos servirão de base para que o Ministério da Fazenda negocie com os Estados,
além da unificação das mais de
44 alíquotas do ICMS, a alteração do sistema de cobrança da
origem para o destino.
Hoje, parte do ICMS é cobrada no Estado em que o produto
foi produzido, normalmente
12%, e o restante (6%) é recolhido onde a mercadoria ou serviço foi consumido. A idéia do
governo é zerar, num prazo de
transição ainda não definido, a
alíquota de 12% e fazer a cobrança toda no destino.
Isso quer dizer que haverá
perda de arrecadação para alguns Estados. Para compensá-los, o governo vai propor alterações nos percentuais de transferências constitucionais que
hoje saem da União para os governos estaduais.
Isso inclui, por exemplo, o
FPE (Fundo de Participação
dos Estados), formado por parcelas da arrecadação do IR (Imposto de Renda) e do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).
"A mudança nas transferências é uma forma de garantir
que não haverá ganhadores ou
perdedores durante o processo
de mudança da tributação da
origem para o destino", explica
Bernard Appy.
Desenvolvimento regional
Outro ponto polêmico que a
equipe econômica terá que negociar é o fim da guerra fiscal.
Hoje, os governadores usam a
isenção ou redução do ICMS
para incentivar empresas a se
instalar em seus Estados. O nó
nessa questão é a política de desenvolvimento regional que
substituirá a disputa estadual.
A proposta que o Ministério
da Fazenda levará aos governadores abandona a criação de
um fundo com recursos tanto
dos Estados como da União, como previsto no projeto em discussão no Congresso Nacional,
em favor de uma política com
regras gerais.
Segundo Appy, o ideal é que
fossem definidas políticas de
alcance nacional aplicadas a
qualquer investimento feito
nos Estados menos desenvolvidos, sem negociações caso a caso, como é feito hoje.
Incentivos
Os incentivos poderão vir na
forma de reduções tributárias,
dinheiro do Orçamento da
União ou até mesmo da melhora da infra-estrutura de um Estado para baratear os investimentos.
"Seguramente conseguiremos implementar uma política
de desenvolvimento regional
muito mais barata do que o que
se gasta hoje com a guerra fiscal", defende o secretário.
A reforma tributária não é
nova na pauta do governo federal. Foi assunto negociado durante os dois mandatos do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, e o próprio Lula enviou ao Congresso sua versão
das mudanças em 2003.
A falta de acordo político, porém, sempre impediu a aprovação. A expectativa do governo é
começar a discutir com os governadores já em janeiro do
próximo ano e enviar um projeto de consenso ao Congresso
em fevereiro, quando começa a
nova legislatura.
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