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INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA
Governo ainda duvida de que programa mobilize mercado a ponto de aumentar vendas
Temor de perda barra renovação de frota
FÁBIA PRATES
da Reportagem Local
DENISE CHRISPIM MARIN
da Sucursal de Brasília
Apesar de a indústria automotiva estar cercando vários ministérios em busca de adeptos à idéia
de implementar no país um programa de renovação de frota no
primeiro trimestre deste ano, a
possibilidade real de o governo
vir a abrir mão de receita para estimular a troca de carros velhos
por novos ainda é muito remota.
O Ministério do Desenvolvimento, ponto de partida para a
discussão dentro do governo, não
está convencido de que o programa, nos moldes colocados até então -prevê bônus de R$ 1,8 mil
na troca-, vai mobilizar o mercado a ponto de provocar aumento nas vendas.
"O governo tem limitações importantes neste momento do
ponto de vista do ajuste fiscal e
precisa ser cuidadoso na forma
como vai empregar o dinheiro",
disse à Folha na sexta-feira o secretário de Política Industrial do
ministério, Hélio Mattar.
O bônus de R$ 1,8 mil, para carros a gasolina, saiu de um estudo
feito em São Paulo com a participação de todos os representantes
da cadeia produtiva e do governo
do Estado.
Pela proposta, a participação da
União seria na isenção de R$ 700
de IPI para carros a gasolina e R$
900 para veículos a álcool.
Os Estados concederiam isenção de R$ 500 no ICMS. Montadoras e concessionárias participariam com R$ 300 cada uma. Os
veículos velhos seriam destruídos
e os materiais, reciclados.
Pelos cálculos da Anfavea, o governo federal gastará R$ 99,4 milhões, no primeiro ano, e os Estados, R$ 71 milhões. Montadoras e
concessionárias dividiriam R$
85,2 milhões, além das despesas
de entrega dos veículos velhos às
usinas de reciclagem.
Como não acredita que o bônus
mobilizará o mercado, o governo
teme perder receita e trata o programa de renovação de frota apenas como intenção da indústria.
Segundo Mattar, o Ministério
do Desenvolvimento foi ao mercado consultar se um bônus de R$
1,8 mil seria capaz de aumentar a
demanda por carros novos. A resposta foi não.
O bônus corresponderia ao valor de um carro com cerca de 20
anos de uso. Para o ministério, o
máximo que poderia ocorrer era
uma substituição de veículos velhos por outros também velhos.
"Se tivesse convicção de que,
além de melhorar o meio ambiente e reduzir acidentes, o programa
levaria a um aumento de vendas,
o governo estaria disposto", disse
o secretário.
Estudo
A indústria automotiva, que no
ano passado trabalhou com níveis
de produção e vendas semelhantes aos do período pré-Real
-1,344 milhão de unidades produzidas e 1,252 milhão, vendidas-, vê no programa uma possibilidade de recuperação.
O desafio da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de
Veículos Automotores) é convencer o governo de que a impressão
do Ministério do Desenvolvimento é equivocada.
A entidade -que fala em aumento de 142 mil unidades vendidas nos 12 primeiros meses de vigência do programa - vai entregar até o final deste mês um estudo ao ministro do Desenvolvimento, Alcides Tápias, para tentar convencê-lo de que o programa é viável. O estudo foi pedido
pelo governo.
Para dar mais consistência à
proposta, além de sugerir como
evitar perda de receita, o estudo
abordará os efeitos que a renovação provocará no meio ambiente,
no trânsito e na geração de empregos, sendo que esse último será o principal argumento.
"A negociação com a Fazenda e
com o Desenvolvimento vai se
concentrar nesse ponto. O governo vai ter que decidir se quer estabilizar o emprego", disse o presidente da Anfavea, José Carlos Pinheiro Neto. O setor empregava
até o final de dezembro 94,1 mil
pessoas.
"Se a indústria oferecer algo que
nos convença, o projeto será discutido entre os ministros envolvidos nessa questão", afirmou o secretário.
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