São Paulo, Terça-feira, 11 de Janeiro de 2000


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INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA
Governo ainda duvida de que programa mobilize mercado a ponto de aumentar vendas
Temor de perda barra renovação de frota

FÁBIA PRATES
da Reportagem Local

DENISE CHRISPIM MARIN
da Sucursal de Brasília

Apesar de a indústria automotiva estar cercando vários ministérios em busca de adeptos à idéia de implementar no país um programa de renovação de frota no primeiro trimestre deste ano, a possibilidade real de o governo vir a abrir mão de receita para estimular a troca de carros velhos por novos ainda é muito remota.
O Ministério do Desenvolvimento, ponto de partida para a discussão dentro do governo, não está convencido de que o programa, nos moldes colocados até então -prevê bônus de R$ 1,8 mil na troca-, vai mobilizar o mercado a ponto de provocar aumento nas vendas.
"O governo tem limitações importantes neste momento do ponto de vista do ajuste fiscal e precisa ser cuidadoso na forma como vai empregar o dinheiro", disse à Folha na sexta-feira o secretário de Política Industrial do ministério, Hélio Mattar.
O bônus de R$ 1,8 mil, para carros a gasolina, saiu de um estudo feito em São Paulo com a participação de todos os representantes da cadeia produtiva e do governo do Estado.
Pela proposta, a participação da União seria na isenção de R$ 700 de IPI para carros a gasolina e R$ 900 para veículos a álcool.
Os Estados concederiam isenção de R$ 500 no ICMS. Montadoras e concessionárias participariam com R$ 300 cada uma. Os veículos velhos seriam destruídos e os materiais, reciclados.
Pelos cálculos da Anfavea, o governo federal gastará R$ 99,4 milhões, no primeiro ano, e os Estados, R$ 71 milhões. Montadoras e concessionárias dividiriam R$ 85,2 milhões, além das despesas de entrega dos veículos velhos às usinas de reciclagem.
Como não acredita que o bônus mobilizará o mercado, o governo teme perder receita e trata o programa de renovação de frota apenas como intenção da indústria.
Segundo Mattar, o Ministério do Desenvolvimento foi ao mercado consultar se um bônus de R$ 1,8 mil seria capaz de aumentar a demanda por carros novos. A resposta foi não.
O bônus corresponderia ao valor de um carro com cerca de 20 anos de uso. Para o ministério, o máximo que poderia ocorrer era uma substituição de veículos velhos por outros também velhos.
"Se tivesse convicção de que, além de melhorar o meio ambiente e reduzir acidentes, o programa levaria a um aumento de vendas, o governo estaria disposto", disse o secretário.

Estudo
A indústria automotiva, que no ano passado trabalhou com níveis de produção e vendas semelhantes aos do período pré-Real -1,344 milhão de unidades produzidas e 1,252 milhão, vendidas-, vê no programa uma possibilidade de recuperação.
O desafio da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) é convencer o governo de que a impressão do Ministério do Desenvolvimento é equivocada.
A entidade -que fala em aumento de 142 mil unidades vendidas nos 12 primeiros meses de vigência do programa - vai entregar até o final deste mês um estudo ao ministro do Desenvolvimento, Alcides Tápias, para tentar convencê-lo de que o programa é viável. O estudo foi pedido pelo governo.
Para dar mais consistência à proposta, além de sugerir como evitar perda de receita, o estudo abordará os efeitos que a renovação provocará no meio ambiente, no trânsito e na geração de empregos, sendo que esse último será o principal argumento.
"A negociação com a Fazenda e com o Desenvolvimento vai se concentrar nesse ponto. O governo vai ter que decidir se quer estabilizar o emprego", disse o presidente da Anfavea, José Carlos Pinheiro Neto. O setor empregava até o final de dezembro 94,1 mil pessoas.
"Se a indústria oferecer algo que nos convença, o projeto será discutido entre os ministros envolvidos nessa questão", afirmou o secretário.


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