São Paulo, quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

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FREADA

Produção industrial cresce só 0,6% em novembro, abaixo das expectativas, e pode levar BC a intensificar queda da Selic

Reação "modesta" da indústria ameaça PIB

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A produção da indústria teve uma "reação modesta" em novembro, quando cresceu 0,6% na comparação livre de influências sazonais com outubro, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Foi a segunda alta mensal consecutiva -havia sido de 0,2% em outubro-, mas insuficiente para compensar a forte queda de setembro (-2,2%), avalia o instituto.
"Houve uma recuperação em novembro no ritmo de produção. Foi uma reação modesta e incapaz de inverter a queda de setembro, o que fez a média do trimestre encerrado em novembro registrar uma taxa negativa", disse Sílvio Sales, chefe da Coordenação de Indústria do IBGE.
Considerando a produção dos três últimos meses até novembro, houve retração de 0,5% no período. No ano de 2005, até novembro, a indústria cresceu 3,1%.
Foi puxada pelo crédito ainda farto (embora em desaceleração ao final do ano) e pelas exportações, que, apesar do câmbio desfavorável, continuaram em expansão. Em menor escala, a pequena melhora da massa salarial também contribuiu para incrementar o consumo de bens semi e não-duráveis (alimentos, remédios, vestuário e outros).
Apesar da recuperação discreta, o resultado de novembro ficou abaixo das expectativas do mercado -de alta de 0,8% a 1,8%. E torna ainda mais difícil a possibilidade de o PIB crescer os 2,6% projetados pelo Banco Central. Seu presidente, Henrique Meirelles, havia falado, anteontem, em "clara recuperação" da economia no quarto trimestre para compensar a retração de 1,2% do PIB no terceiro, mas os números de ontem ameaçam seu otimismo.
"Com o dado de novembro, o crescimento do PIB em torno de 2,6%, projetado pelo BC no relatório de mercado, fica cada vez mais comprometido", disse Solange Srour, economista da administradora de recursos Mellon.
Para ela, o dado do IBGE será levado em conta pelo Copom na hora de fixar a taxa de juro, já que o otimismo do BC em relação à retomada do nível de atividade não tem se confirmado. Ou seja: o BC pode acelerar o corte da Selic.
Para Sales, do IBGE, o fato de a indústria ainda viver um período de ajuste de estoques, que continuam elevados, impede um maior reaquecimento do setor. Foi justamente a frustração da expectativa de vendas em alta que fez as indústrias acumularem estoques, o que provocou a freada da indústria em setembro, da qual o setor ainda não se recuperou.

Consumo
Além disso, o economista do IBGE ressalta que há "uma desaceleração do consumo" especialmente de bens duráveis em razão do arrefecimento da oferta de crédito e do limite da capacidade de endividamento das famílias. Tal movimento se refletiu nos números do IBGE: a produção de duráveis (eletrodomésticos e automóveis) caiu 1,4% de outubro para novembro com o ajuste sazonal.
A retração foi provocada principalmente pela queda na fabricação de eletrodomésticos da linha branca (-9,7% na comparação com novembro de 2004) e de celulares (23,4%). No caso dos eletrodomésticos, diz, a valorização do real também ampliou a concorrência dos importados com produtos feitos no Brasil, o que prejudicou as fábricas brasileiras.
Por outro lado, cresceu a produção de bens intermediários (0,2%) e de semi e não-duráveis (0,5%) de outubro para novembro, que só não teve um desempenho melhor por causa da queda no refino de petróleo e álcool (1,5%), provocada pela entressafra rigorosa de cana-de-açúcar, que fez subir os preços do álcool e reduzir a oferta do produto.
Os bens de capital (máquinas e equipamentos) tiveram, porém, o melhor desempenho de novembro -alta de 2,2% ante outubro. Em nenhuma das três categorias, no entanto, os resultados positivos compensam as quedas de setembro ou outubro.
Apesar da retração em novembro, o crédito assegurou a liderança de bens duráveis, no acumulado do ano -um aumento de 11,2%. O pior desempenho ficou com bens intermediários -crescimento de 1%.
No acumulado do ano até novembro, os destaques positivos foram veículos (6,9%), indústria extrativa (10,3%) e aparelhos e equipamentos de comunicação (14,7%). Já siderurgia, com queda de 2,4%, puxou a produção da indústria para baixo.


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