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LUÍS NASSIF
A TV digital e o cabo
A questão da TV digital
envolve vários atores e interesses. Foram constituídos
até um grupo gestor e um comitê consultivo, compostos por representantes dos setores de radiodifusão, TV comunitária,
SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).
Em um ano e meio de funcionamento, não houve nenhuma
reunião conjunta nem a presença de um ministro de Estado
sequer -o que demonstra uma
imprudência e falta de transparência do governo Lula similar
a essa questão da transposição
das águas do São Francisco. Está se montando uma ficção para justificar uma escolha fundamental.
O problema do padrão não é
essencial. Antes do padrão, precisa se definir o que se pretende
em um país continental, de baixo poder aquisitivo e alta taxa
de analfabetismo. A partir dessas definições, escolhe-se o padrão. É essa a posição da Associação Brasileira de Televisão
por Assinatura, presidida por
Alexandre Annemberg, um dos
setores que serão afetados pela
nova tecnologia.
Por exemplo, as TVs abertas
defendem um modelo focado
na alta definição. No fundo,
significaria preservar o modelo
atual, com melhor definição de
imagem. Por trás dessa questão, existe outra de cunho político. Cada TV aberta tem uma
concessão de 6 MW no espectro
da radiofreqüência. Se não se
implantar a TV de alta definição, há a necessidade de um pedaço ínfimo desse espectro para
a TV digital. Com a alta definição, as emissoras atuais continuarão dominando todo o espectro. Porém não se praticará
um modelo de TV de baixo custo, com alta penetração e com
possibilidade de se tornar instrumento de inclusão digital.
Parte interessada na questão,
a ABTA tem propostas a apresentar ao governo.
A primeira proposta é tornar
o setop-box (a caixinha pela
qual transita o sinal digital) o
mais universal e acessível à
grande massa. Que seja modular, multifuncional e escalável.
Ou seja, com um único aparelho, seria possível atender à TV
aberta digital, ao cabo e a outras formas de transmissão, ao
consumidor de baixa renda,
com modelos mais simples, e ao
consumidor mais sofisticado.
A segunda proposta é disponibilizar a infra-estrutura de
cabo das emissoras fechadas,
que, embora tenham apenas 3
milhões de assinantes, passam
por 14 milhões de residências.
Segundo Annemberg, essa estrutura poderá ser utilizada
para educação à distância, sistemas de segurança, aplicações
em saúde. Em São Paulo, existem 60 mil prédios cabeados.
Quando introduzir a TV digital, esse cabeamento terá que
ser aproveitado, evitando a superposição de trabalho e investimento. Seria impossível montar uma nova estrutura nos
prédios já cabeados.
Em toda essa discussão, na
posição das diversas partes envolvidas -que tenho procurado trazer aqui-, há uma carência básica: a definição clara
de quem serão os novos agentes, nessa era de convergência
digital.
A rigor, são três: o produtor
de conteúdo (no caso, emissoras de rádio e TV e produtores
independentes), distribuidores
(como as empresas de cabo) e
redes. Mas isso é tema para outra coluna.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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