São Paulo, sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

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Controladores porão US$ 2 bi em nova tele

Jereissati e Sérgio Andrade devem ficar com 51% das ações com direito a voto após aquisição da Brasil Telecom pela Oi

Argumento de que teles estrangeiras atuando no Brasil têm quase monopólio em seus países de origem sensibilizou presidente Lula

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Os empresários Sérgio Andrade, da Andrade Gutierrez, e Carlos Jereissati, da La Fonte, vão injetar US$ 1 bilhão cada no capital da Oi (ex-Telemar) para a concretização da compra da Brasil Telecom (BrT). Será uma quantia quase três vezes superior aos US$ 350 milhões que cada um desembolsou na privatização da tele, há dez anos.
Depois de dois meses de negociações, com o envolvimento direto de membros do governo, a Oi praticamente selou na segunda-feira, em acordo verbal, sem que nenhum documento tenha ainda sido assinado, a compra da Brasil Telecom por R$ 4,8 bilhões. Pelo acerto, a Andrade Gutierrez e a La Fonte tornam-se controladores da nova empresa, com 51% das ações ordinárias (com direito a voto). Os dois terão -cada um- 10% do capital total.
A aquisição obrigará um rearranjo societário na nova empresa. Ficou acertado, no negócio, que deixarão de ser acionistas o Citigroup, que tem participação relevante na BrT, a GP, que pertencia ao bloco de controle da Oi, e o Opportunity, que também possuía fatia no capital das duas teles. O BNDES e os fundos de pensão Previ, Funcef e Petros continuarão com participação, menor, na nova empresa.
O negócio só foi concretizado por intervenção direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Havia fortes resistências à operação do ministro das Comunicações, Hélio Costa, e de alguns setores da Previ, que queriam manter influência na tele. Já o presidente da Previ, Sérgio Rosa, não impôs muita resistência.
Para o negócio ser concretizado, será necessário decreto do presidente Lula alterando o decreto 2.534/98, que aprovou o Plano Geral de Outorgas. O decreto determina que, se uma concessionária adquirir outra, terá que abrir mão de sua concessão original em até seis meses.
Lula já teria concordado com a possibilidade de mudar o decreto, o que deve ser feito nas próximas semanas. O objetivo de Lula, ao dar o sinal verde para o negócio, seria criar uma grande empresa nacional para competir com gigantes mundiais do setor como a mexicana Telmex, de Carlos Slim -que no Brasil controla a Claro-, e a espanhola Telefónica. A Telecom Italia, que controla a TIM, deixou recentemente a BrT e estava fora da disputa.
O principal argumento que convenceu Lula a apoiar o negócio foi o fato de essas empresas internacionais serem praticamente monopolistas em seus países. Ele recebeu estudos mostrando que os preços praticados por elas, principalmente a Telmex, estão muito acima das tarifas do Brasil.
Os novos controladores já chegaram a algumas conclusões sobre a nova empresa. Como se trata de aquisição, deve mesmo se chamar Oi -o nome Brasil Telecom deve desaparecer. A presidência será ocupada por Luiz Eduardo Falco, que já é o principal executivo da Oi.
O atual presidente da Brasil Telecom, Ricardo Knoepfelmacher, é muito próximo tanto de Jereissati como de Sérgio Andrade. Ele já trabalhou com ambos, e os dois empresários irão convidá-lo para ficar numa função estratégica para a nova companhia. O executivo Octávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, é o nome mais cotado para presidir o conselho de administração da nova empresa.
O negócio entre a Oi e a BrT ainda é nebuloso no que se refere a seus reflexos para os acionistas minoritários. Para Edison Garcia, superintendente da Amec (Associação de Investidores no Mercado de Capitais), ainda não se sabe qual é exatamente o desenho da operação. "O que pedimos é que haja transparência. É preciso que as companhias envolvidas sejam mais claras sobre a operação."


Colaborou a Reportagem Local


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