São Paulo, sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

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BC dos EUA sinaliza corte maior nos juros

Bernanke faz discurso enfático em que aponta nova redução na taxa, em uma tentativa de impedir a recessão americana

Segundo o presidente do Fed, piorou o cenário para a atividade real neste ano e os riscos negativos ficaram mais "pronunciados"

DA REDAÇÃO

Em um discurso mais enfático que o habitual, o presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, sinalizou que a instituição deve fazer novos cortes na taxa básica de juros, em uma tentativa de impedir que a principal economia mundial entre em recessão.
Ele afirmou que "pode ser necessário um afrouxamento adicional na política [de juros] e que o Fed está "pronto para tomar ações adicionais substantivas" para garantir o crescimento econômico americano. Para o dirigente, a política monetária é a "melhor ferramenta" para regular a economia.
O discurso de Bernanke animou os mercados, já que os investidores passaram a apostar que o Fomc (o comitê de política monetária do Fed) cortará os juros em 0,50 ponto percentual no final do mês. O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, subiu 0,96%, e as Nasdaq (de empresas de alta tecnologia), 0,56%. No Brasil, a Bovespa avançou 1,34%. O BC dos EUA reduziu a taxa em seus três últimos encontros, em um total de um ponto percentual, a 4,25%.
"Um corte de 0,50 ponto percentual certamente está sobre a mesa e já era tempo. O Fed tem muito trabalho a fazer", afirmou ao site da CNN James Glassman, economista-sênior do JPMorgan Chase.
O Banco Mundial alertou no início da semana para os riscos de os BCs dos países ricos reagirem "exageradamente" à atual crise financeira, cortando juros e "superestimulando" a economia, o que poderia criar "bolhas" em países emergentes, como o Brasil.
Segundo o presidente do BC dos EUA, piorou o cenário para a atividade real neste ano e os riscos negativos para o crescimento ficaram mais "pronunciados". Também disse que devem se desacelerar os gastos dos consumidores, responsáveis por 70% do PIB.
Ele afirmou ainda que a economia se desacelerou no último trimestre do ano passado em relação aos três meses anteriores, mas que continuou em um ritmo moderado. O PIB americano cresceu 4,9% entre julho e setembro de 2007, a maior expansão desde o terceiro trimestre de 2003.
O discurso de ontem, em Washington, marca uma mudança de tom na fala de Bernanke, que, desde que surgiram os primeiros sinais de crise nos EUA, em agosto do ano passado, tem ressaltado as incertezas sobre o cenário econômico, especialmente em relação aos riscos para o crescimento e para a inflação. Ele vem sendo cobrado por vários analistas para ter uma posição mais agressiva, tanto no corte dos juros como nos seus discursos.
O tom mais enfático de Bernanke surge em um momento em que estão aumentando as previsões de que a economia americana vai entrar em recessão neste ano. Os bancos de investimento Merrill Lynch e Goldman Sachs fizeram projeções com esse teor, e a Unctad (órgão da ONU para comércio e desenvolvimento) divulgou alerta semelhante.
O dirigente do Fed afirmou que os problemas no setor financeiro e no mercado de trabalho são "riscos" para o crescimento americano. No primeiro caso, muitos investidores ainda têm dúvidas sobre o real valor de alguns ativos e o tamanho do prejuízo dos bancos. Várias instituições financeiras, como Citigroup, tiveram perdas bilionárias com títulos do mercado hipotecário "subprime" -o epicentro da crise atual- e devem divulgar novas perdas na semana que vem.
De acordo com Bernanke, já há sinais "consideráveis" de que os bancos estão restringindo seus empréstimos para empresas e pessoas físicas, o que se traduz em menos dinheiro e investimentos na economia.
Sobre o mercado de trabalho, ele afirmou que o crescimento da taxa de desemprego em dezembro foi desapontador, mas que é um equívoco "tentar ler muito" em um único relatório. No entanto, caso a situação piore, o dirigente afirmou que aumentarão os riscos para os gastos do consumidor.
No mês passado, o índice de desemprego dos EUA atingiu 5%, alta de 0,3 ponto percentual em relação ao mês anterior e a maior taxa desde novembro de 2005 -ela foi de 4,4% no último mês de 2006. A criação de 18 mil postos foi a menor desde agosto de 2003.


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