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BC dos EUA sinaliza corte maior nos juros
Bernanke faz discurso enfático em que aponta nova redução na taxa, em uma tentativa de impedir a recessão americana
Segundo o presidente do Fed, piorou o cenário para a
atividade real neste ano e os riscos negativos ficaram mais "pronunciados"
DA REDAÇÃO
Em um discurso mais enfático que o habitual, o presidente
do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos),
Ben Bernanke, sinalizou que a
instituição deve fazer novos
cortes na taxa básica de juros,
em uma tentativa de impedir
que a principal economia mundial entre em recessão.
Ele afirmou que "pode ser
necessário um afrouxamento
adicional na política [de juros]
e que o Fed está "pronto para
tomar ações adicionais substantivas" para garantir o crescimento econômico americano.
Para o dirigente, a política monetária é a "melhor ferramenta" para regular a economia.
O discurso de Bernanke animou os mercados, já que os investidores passaram a apostar
que o Fomc (o comitê de política monetária do Fed) cortará os
juros em 0,50 ponto percentual
no final do mês. O índice Dow
Jones, da Bolsa de Nova York,
subiu 0,96%, e as Nasdaq (de
empresas de alta tecnologia),
0,56%. No Brasil, a Bovespa
avançou 1,34%. O BC dos EUA
reduziu a taxa em seus três últimos encontros, em um total de
um ponto percentual, a 4,25%.
"Um corte de 0,50 ponto percentual certamente está sobre
a mesa e já era tempo. O Fed
tem muito trabalho a fazer",
afirmou ao site da CNN James
Glassman, economista-sênior
do JPMorgan Chase.
O Banco Mundial alertou no
início da semana para os riscos
de os BCs dos países ricos reagirem "exageradamente" à atual
crise financeira, cortando juros
e "superestimulando" a economia, o que poderia criar "bolhas" em países emergentes,
como o Brasil.
Segundo o presidente do BC
dos EUA, piorou o cenário para
a atividade real neste ano e os
riscos negativos para o crescimento ficaram mais "pronunciados". Também disse que devem se desacelerar os gastos
dos consumidores, responsáveis por 70% do PIB.
Ele afirmou ainda que a economia se desacelerou no último trimestre do ano passado
em relação aos três meses anteriores, mas que continuou em
um ritmo moderado. O PIB
americano cresceu 4,9% entre
julho e setembro de 2007, a
maior expansão desde o terceiro trimestre de 2003.
O discurso de ontem, em
Washington, marca uma mudança de tom na fala de Bernanke, que, desde que surgiram
os primeiros sinais de crise nos
EUA, em agosto do ano passado, tem ressaltado as incertezas
sobre o cenário econômico, especialmente em relação aos riscos para o crescimento e para a
inflação. Ele vem sendo cobrado por vários analistas para ter
uma posição mais agressiva,
tanto no corte dos juros como
nos seus discursos.
O tom mais enfático de Bernanke surge em um momento
em que estão aumentando as
previsões de que a economia
americana vai entrar em recessão neste ano. Os bancos de investimento Merrill Lynch e
Goldman Sachs fizeram projeções com esse teor, e a Unctad
(órgão da ONU para comércio e
desenvolvimento) divulgou
alerta semelhante.
O dirigente do Fed afirmou
que os problemas no setor financeiro e no mercado de trabalho são "riscos" para o crescimento americano. No primeiro
caso, muitos investidores ainda
têm dúvidas sobre o real valor
de alguns ativos e o tamanho do
prejuízo dos bancos. Várias instituições financeiras, como Citigroup, tiveram perdas bilionárias com títulos do mercado
hipotecário "subprime" -o
epicentro da crise atual- e devem divulgar novas perdas na
semana que vem.
De acordo com Bernanke, já
há sinais "consideráveis" de
que os bancos estão restringindo seus empréstimos para empresas e pessoas físicas, o que se
traduz em menos dinheiro e investimentos na economia.
Sobre o mercado de trabalho,
ele afirmou que o crescimento
da taxa de desemprego em dezembro foi desapontador, mas
que é um equívoco "tentar ler
muito" em um único relatório.
No entanto, caso a situação piore, o dirigente afirmou que aumentarão os riscos para os gastos do consumidor.
No mês passado, o índice de
desemprego dos EUA atingiu
5%, alta de 0,3 ponto percentual em relação ao mês anterior
e a maior taxa desde novembro
de 2005 -ela foi de 4,4% no último mês de 2006. A criação de
18 mil postos foi a menor desde
agosto de 2003.
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