|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Venezuelanos esvaziam lojas após desvalorização
Temor de aumento de preço causa corrida ao comércio; novo câmbio estreia hoje
Presidente Hugo Chávez ameaça chamar o Exército para ajudar no controle de preços do comércio após a desvalorização do bolívar
Carlos Ramirez - 9.jan.2010/France Presse
|
|
Consumidores fazem fila em frente a loja de eletrônicos em Caracas, antecipando compras com a expectativa de alta nos preços
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Milhares de venezuelanos lotaram lojas de eletrodomésticos e eletrônicos e esvaziaram
suas prateleiras de eletrodomésticos, numa maratona de
compras que durou todo o fim
de semana. Foi a primeira reação ao anúncio, feito na sexta-feira à noite, da desvalorização
da moeda local, o bolívar forte,
que na prática estreia hoje ainda cercada de incertezas.
Num período de ressaca pós-Natal, as lojas maiores foram
obrigadas a montar esquemas
especiais e a reforçar a segurança para controlar a entrada de
clientes. Em Caracas, as filas no
caixa eram de até três horas.
As chamadas "compras nervosas" também chegaram aos
supermercados, com os carrinhos mais lotados em meio ao
temor de uma disparada de
preços já a partir de hoje. Na região leste de Caracas, a mais rica da capital, alguns estabelecimentos ficaram sem estoques
de produtos como açúcar.
Exército nas ruas
Preocupado com um aumento generalizado dos preços, o
presidente Hugo Chávez ameaçou ontem expropriar estabelecimentos que abusassem nos
reajustes.
"Quero que a Guarda Nacional, o Exército e as milícias
saiam às ruas com o povo para
lutar contra a especulação",
disse Chávez, em seu programa
"Alô, Presidente".
O câmbio na Venezuela agora
tem duas cotações. Para importações de alimentos, medicamentos e máquinas e equipamentos, entre outros itens considerados de primeira necessidade, a desvalorização foi de
20,9%. Para os demais produtos, incluindo eletrodomésticos e automóveis, entre outros,
foi de 100%.
Com uma economia centrada no petróleo, a Venezuela importa praticamente tudo o que
consome. No setor de alimentos, o percentual chega a 80%,
com o Brasil como um dos principais fornecedores.
Foi a maior desvalorização
desde desde que Hugo Chávez
implantou o controle de câmbio, em 2003, pelo qual apenas
o governo pode comprar e vender divisas estrangeiras.
O bolívar forte estava congelado desde 2005 em 2,15 por
dólar, pressionando o mercado
paralelo que, mesmo sendo ilegal, é amplamente utilizado, já
que a venda de dólares pelo governo está longe de cobrir a demanda. Na sexta-feira, a cotação fechou em 6 bolívares.
O governo Chávez admite
que a desvalorização aumentará a inflação, ainda que "ligeiro", segundo o ministro das Finanças, Alí Rodriguez. Ele estimou que será de 3% a 5% sobre
a meta inicial para este ano, de
22%. No ano passado, o índice
acumulado foi de 25%, o maior
da América Latina.
Para o economista venezuelano Orlando Ochoa, crítico de
Chávez, ainda é cedo para saber
como a inflação se comportará.
Segundo Ochoa, a alta dos preços depende do nível de subsídio estatal para os alimentos,
do poder de compra dos venezuelanos em meio à atual estagnação econômica, entre outros
fatores.
A desvalorização ocorre em
um momento em que a Venezuela registrou uma queda de
2,9% do PIB, na primeira recessão em cinco anos. O país sofre
também com um racionamento de energia, que obrigou o governo a reduzir o horário das
repartições públicas e do funcionamento de shopping centers, entre outras medidas.
Texto Anterior: Simulado fecha para balanço; retorno deve ocorrer no dia 18 Próximo Texto: País terá mais dinheiro para comprar do Brasil Índice
|