São Paulo, segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

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Venezuelanos esvaziam lojas após desvalorização

Temor de aumento de preço causa corrida ao comércio; novo câmbio estreia hoje

Presidente Hugo Chávez ameaça chamar o Exército para ajudar no controle de preços do comércio após a desvalorização do bolívar

Carlos Ramirez - 9.jan.2010/France Presse
Consumidores fazem fila em frente a loja de eletrônicos em Caracas, antecipando compras com a expectativa de alta nos preços

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Milhares de venezuelanos lotaram lojas de eletrodomésticos e eletrônicos e esvaziaram suas prateleiras de eletrodomésticos, numa maratona de compras que durou todo o fim de semana. Foi a primeira reação ao anúncio, feito na sexta-feira à noite, da desvalorização da moeda local, o bolívar forte, que na prática estreia hoje ainda cercada de incertezas.
Num período de ressaca pós-Natal, as lojas maiores foram obrigadas a montar esquemas especiais e a reforçar a segurança para controlar a entrada de clientes. Em Caracas, as filas no caixa eram de até três horas.
As chamadas "compras nervosas" também chegaram aos supermercados, com os carrinhos mais lotados em meio ao temor de uma disparada de preços já a partir de hoje. Na região leste de Caracas, a mais rica da capital, alguns estabelecimentos ficaram sem estoques de produtos como açúcar.

Exército nas ruas
Preocupado com um aumento generalizado dos preços, o presidente Hugo Chávez ameaçou ontem expropriar estabelecimentos que abusassem nos reajustes.
"Quero que a Guarda Nacional, o Exército e as milícias saiam às ruas com o povo para lutar contra a especulação", disse Chávez, em seu programa "Alô, Presidente".
O câmbio na Venezuela agora tem duas cotações. Para importações de alimentos, medicamentos e máquinas e equipamentos, entre outros itens considerados de primeira necessidade, a desvalorização foi de 20,9%. Para os demais produtos, incluindo eletrodomésticos e automóveis, entre outros, foi de 100%.
Com uma economia centrada no petróleo, a Venezuela importa praticamente tudo o que consome. No setor de alimentos, o percentual chega a 80%, com o Brasil como um dos principais fornecedores.
Foi a maior desvalorização desde desde que Hugo Chávez implantou o controle de câmbio, em 2003, pelo qual apenas o governo pode comprar e vender divisas estrangeiras.
O bolívar forte estava congelado desde 2005 em 2,15 por dólar, pressionando o mercado paralelo que, mesmo sendo ilegal, é amplamente utilizado, já que a venda de dólares pelo governo está longe de cobrir a demanda. Na sexta-feira, a cotação fechou em 6 bolívares.
O governo Chávez admite que a desvalorização aumentará a inflação, ainda que "ligeiro", segundo o ministro das Finanças, Alí Rodriguez. Ele estimou que será de 3% a 5% sobre a meta inicial para este ano, de 22%. No ano passado, o índice acumulado foi de 25%, o maior da América Latina.
Para o economista venezuelano Orlando Ochoa, crítico de Chávez, ainda é cedo para saber como a inflação se comportará. Segundo Ochoa, a alta dos preços depende do nível de subsídio estatal para os alimentos, do poder de compra dos venezuelanos em meio à atual estagnação econômica, entre outros fatores.
A desvalorização ocorre em um momento em que a Venezuela registrou uma queda de 2,9% do PIB, na primeira recessão em cinco anos. O país sofre também com um racionamento de energia, que obrigou o governo a reduzir o horário das repartições públicas e do funcionamento de shopping centers, entre outras medidas.


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