São Paulo, quinta-feira, 11 de março de 2004

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RETOMADA?

Atividade econômica no início do ano frustra empresários, que discutem dividir alta de custos com fornecedores e clientes

Indústria já revê estimativa de lucro em 2004

Roosevelt Cassio/Folha Imagem
Unidade da Plásticos Mueller, que faz acessórios plásticos; uso da capacidade instalada da indústria em janeiro igualou a de 2003


FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Donos ou principais executivos de 35 grupos industriais brasileiros estão frustrados com a atividade econômica neste primeiro trimestre. Os aumentos de custos de insumos chegaram a tal ponto que os empresários discutem neste momento com fornecedores e clientes o rateio das perdas, já que o baixo consumo não possibilita reajustes de preços. Se esse cenário se mantiver neste semestre, prevêem, o lucro das fábricas vai cair significativamente neste ano.
É o que constata o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) em consulta feita a seus sócios após o Carnaval. As indústrias químicas, petroquímicas, de bens de capital, de madeira e móveis, de autopeças e de cimento faturaram em janeiro e fevereiro menos do que em igual período do ano passado. Além de vender menos, enfrentaram fortes altas de custos no período, segundo informaram ao Iedi.
"O sentimento dos empresários é que a economia brasileira perdeu o passo. Ninguém fala em recessão, mas em frustração, já que era esperado um trimestre melhor", diz Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi.
A retomada da economia no final do ano passado levou os empresários a esperar um início de 2004 melhor do que o de 2003. O governo acenava, na época, com a queda gradual da taxa Selic.
A expectativa era até investir mais em estoques como forma de se preparar para uma economia mais aquecida. "Os juros não caíram, as vendas não subiram e os custos aumentaram. Os empresários estão de novo desmotivados", diz Gomes de Almeida.
Um dos dados que a CNI (Confederação Nacional da Indústria) divulga hoje mostra que a indústria não reagiu. Em janeiro último, o uso da capacidade instalada da indústria foi de 80,3%, o mesmo de janeiro de 2003. "Havia a expectativa de que este seria o ano do emprego e do crescimento. Mas o mercado interno continua parado", afirma Claudio Vaz, diretor da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

Commodities
A pressão de custos, segundo informações dos empresários, é generalizada. Mas é mais forte nas commodities industriais. Levantamento da MS Consult mostra que em fevereiro os preços em dólar de placas de aço subiram 33,7% sobre janeiro; de bobina a frio, 14,6%; de zinco, 7,1%, e de alumínio, 5%. "A indústria não vai conseguir repassar tudo isso para os preços", afirma Fabio Silveira, sócio-diretor da MS.
A indústria plástica informa que os preços das resinas plásticas subiram 38% no primeiro bimestre deste ano. "Só as indústrias com maior poder de fogo vão conseguir repassar os aumentos de custos", diz Merheg Cachum, presidente da Abiplast, associação que reúne a indústria de plásticos.
Além de a pressão de custos ocorrer numa hora inoportuna -isto é, quando o consumo interno está contido-, diz ele, ela acontece num ambiente econômico e político desfavorável.
A decisão do governo de manter a taxa Selic em 16,5% ao ano pegou os empresários de surpresa, assim como o caso Waldomiro Diniz, ex-assessor da Casa Civil, flagrado em gravação de 2002 em que pedia propina e doação de campanha a um empresário do ramo de jogos.
"A economia desaqueceu após o Carnaval. Nosso faturamento estava 20% maior do que o de 2003. Agora, está 10% maior, o que é pouco, já que o início de 2003 foi fraco", diz Valdemir Colleone, diretor da Lojas Cem.


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