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Pouca pesquisa ameaça liderança no álcool
Esfera privada concentrou investimentos no setor nos últimos anos; até o fim de 2006, foco da gestão Lula era o biodiesel
Risco é que outros países, como os EUA, descubram técnicas de produção com outras matérias-primas ou que tenham menor custo
IURI DANTAS
HUMBERTO MEDINA
CLAUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O baixo nível de investimento em pesquisa com álcool pode
ameaçar a posição do Brasil
nesse mercado no médio prazo.
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, o risco está em
que outros países, principalmente os Estados Unidos, que
já programam investimentos
bilionários em pesquisa no setor, descubram antes formas
economicamente viáveis para
produzir álcool com outras matérias-primas ou de maneira
mais barata.
O investimento em álcool começou no governo militar, com
a criação do Proálcool em 1975.
O programa era tocado com recursos federais, mas naufragou
a partir da segunda metade dos
anos 80, quando faltou produto
e o consumidor perdeu a confiança no combustível. Em
1990, no governo Fernando
Collor de Mello, foi extinto o
IAA (Instituto do Açúcar e do
Álcool) e, a partir daí, o governo praticamente saiu de cena.
Nos últimos anos, os investimentos brasileiros no setor sucroalcooleiro foram basicamente privados, voltados para
novas variedades de cana-de-açúcar e aperfeiçoamentos do
processo produtivo.
A indústria sofreu novo impulso em 2003, com o lançamento do primeiro veículo
"flex fuel", capaz de rodar com
álcool e gasolina. A parceria assinada na última sexta com os
Estados Unidos abre a perspectiva de mais aporte de capital
para o setor.
O governo teria injetado diretamente R$ 4 milhões em
pesquisa desde a extinção do
IAA, segundo as contas da Ridesa (Rede Interuniversitária
Para Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro). O valor
global, somado ao do setor privado, não é mensurável.
Sediada em universidades federais e com cerca de cem pesquisadores, a Ridesa mantém,
com recursos privados, 313
unidades de pesquisa espalhadas pelo país. Ela desenvolveu
aproximadamente 57% das variedades de cana-de-açúcar
plantadas no Brasil.
Os 43% restantes vieram de
pesquisas -que também foram
custeadas pela iniciativa privada- no CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), em São Paulo, onde está 60% da lavoura de
cana-de-açúcar do país. A indústria investiu US$ 5,3 milhões no centro para obter esses resultados.
Todas essas variáveis de cana
possuem direitos autorais protegidos pela legislação em vigor. Em 2012, começam a vencer os primeiros prazos legais e
alguns desses tipos vão se tornar de domínio público.
Além dos usineiros, o investimento em cana e álcool vem
basicamente de organismos estrangeiros: US$ 3,75 milhões
do GEF (fundo global do ambiente, em inglês), US$ 600 mil
da União Européia e US$ 400
mil da agência nacional de
energia da Suécia.
Mesmo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), reconhecida pela excelência em pesquisa, só deu a
largada em investimentos em
biocombustíveis há um ano.
Confirmados, há R$ 10 milhões
para quatro grandes linhas de
pesquisa, uma delas em etanol.
Foco no biodiesel
"A iniciativa privada cuidou
do investimento em pesquisa
nos últimos 34 anos. Agora, a
Embrapa está entrando nessa
área", disse Frederico Durães,
chefe da Embrapa Energia.
Representante dos produtores, a CNA (Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil) defende um forte investimento do governo em pesquisa.
"Não me recordo de nenhuma medida de impacto do governo na área de cana e etanol.
O que aconteceu no Brasil é que
o próprio setor sucroalcooleiro
fez acordo com a indústria automobilística, estimulando a
produção para o carro flex",
afirmou Antonio Donizeti Beraldo, coordenador de comércio externo da entidade.
Até o final de 2006, embora
mencionasse o etanol, o foco
principal da política de combustíveis renováveis do governo era o biodiesel.
A prioridade ao etanol ficou
mais forte quando o presidente
americano, George W. Bush,
anunciou que iria investir no
produto como alternativa ao
petróleo na matriz energética
americana. Desde o início de
sua gestão, as ordens do presidente Lula a sua equipe foram
inequívocas: o mais importante
era o biodiesel.
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