|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTIGO
O que esperar da economia em 2009
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
OS NÚMEROS sobre o
comportamento da
economia brasileira no
último trimestre de 2008 permitem uma leitura mais clara
dos efeitos da crise mundial sobre o país. A maior vitima é a
imagem da marolinha levantada pelo presidente Lula há poucos meses. A redução de 3,6%
no PIB -que, segundo a métrica americana, equivale a 14,4%
em termos anualizados- é algo
muito sério para ser tratado de
forma jocosa. Basta lembrar
que a queda nos EUA no mesmo período foi 6,3%. Ou seja, a
retração no Brasil foi mais do
que o dobro da do país de Bush,
como costuma dizer Lula.
Outra vítima desses números
é o senhor ministro da Fazenda
e sua insistência em reafirmar a
projeção de crescimento de 4%
em 2009. Esse número já soava
falso na época em que foi divulgado e será uma agressão ao
bom senso dos brasileiros se for
mantido no discurso oficial.
Até o mais governista dos analistas já fala em crescimento
abaixo de 2% e a maioria já considera seriamente a possibilidade de PIB negativo no ano.
Feitos esses comentários, vamos entrar nos números do
IBGE. O que chama mais a
atenção quando analisamos o
PIB pela ótica da demanda é a
queda dos investimentos de
quase 10% em relação ao terceiro trimestre. Com isso, o
crescimento dos investimentos
(em relação ao mesmo período
de 2007) passou de 19,7% para
apenas 3,8% em um espaço de
apenas três meses. É prova inconteste de que os empresários
realmente pisaram no freio.
Mas não só eles. Apesar da
massa salarial ainda em crescimento, os consumidores também ficaram mais conservadores. No quarto trimestre de
2008, o consumo das famílias
caiu 2% em relação ao terceiro,
trazendo a taxa de crescimento
em 12 meses de 7,3% para apenas 2,2%. Só o governo manteve o crescimento de seu consumo, como de costume, com alta
de 5,5% em 12 meses, contra
6,4% no trimestre anterior.
Do lado da produção de bens
e serviços, o estrago também
aparece claramente. A indústria foi de longe o setor que
mais sofreu, reduzindo sua produção em 7,4% sobre o período
de três meses anteriores, e trazendo o crescimento em 12 meses de 7,1% para -2,1%. Esse
tombo impressionante ocorreu
principalmente pela redução
na demanda interna por máquinas e equipamentos e pelo
verdadeiro colapso das exportações de produtos industriais.
A lição principal desses números é a certeza de que fomos
atingidos duramente pelos
efeitos da crise internacional
quando a economia crescia ao
ritmo de quase 7% ao ano. Além
do choque de crédito, os principais canais dessa correção foram o colapso do comércio internacional e a brutal reversão
(negativa) em nossos termos de
troca (preços das exportações
em relação aos das importações). Tal choque externo reduziu substancialmente a renda
nacional, até então gerada por
nossas exportações de commodities, e se propagou na economia por meio da redução
abrupta dos investimentos. Estamos agora assistindo aos efeitos defasados desse choque, na
forma de menor oferta de emprego e na redução do ritmo de
avanço da renda do trabalho.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS , 66,
engenheiro e economista, é economista-chefe
da Quest Investimentos. Foi presidente do
BNDES e ministro das Comunicações (governo
Fernando Henrique Cardoso).
Texto Anterior: Lula pede ao BC mais rapidez na queda dos juros Próximo Texto: Limite de crédito consignado para aposentados é ampliado Índice
|