São Paulo, quarta-feira, 11 de março de 2009

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ARTIGO

O que esperar da economia em 2009

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

OS NÚMEROS sobre o comportamento da economia brasileira no último trimestre de 2008 permitem uma leitura mais clara dos efeitos da crise mundial sobre o país. A maior vitima é a imagem da marolinha levantada pelo presidente Lula há poucos meses. A redução de 3,6% no PIB -que, segundo a métrica americana, equivale a 14,4% em termos anualizados- é algo muito sério para ser tratado de forma jocosa. Basta lembrar que a queda nos EUA no mesmo período foi 6,3%. Ou seja, a retração no Brasil foi mais do que o dobro da do país de Bush, como costuma dizer Lula.
Outra vítima desses números é o senhor ministro da Fazenda e sua insistência em reafirmar a projeção de crescimento de 4% em 2009. Esse número já soava falso na época em que foi divulgado e será uma agressão ao bom senso dos brasileiros se for mantido no discurso oficial.
Até o mais governista dos analistas já fala em crescimento abaixo de 2% e a maioria já considera seriamente a possibilidade de PIB negativo no ano.
Feitos esses comentários, vamos entrar nos números do IBGE. O que chama mais a atenção quando analisamos o PIB pela ótica da demanda é a queda dos investimentos de quase 10% em relação ao terceiro trimestre. Com isso, o crescimento dos investimentos (em relação ao mesmo período de 2007) passou de 19,7% para apenas 3,8% em um espaço de apenas três meses. É prova inconteste de que os empresários realmente pisaram no freio.
Mas não só eles. Apesar da massa salarial ainda em crescimento, os consumidores também ficaram mais conservadores. No quarto trimestre de 2008, o consumo das famílias caiu 2% em relação ao terceiro, trazendo a taxa de crescimento em 12 meses de 7,3% para apenas 2,2%. Só o governo manteve o crescimento de seu consumo, como de costume, com alta de 5,5% em 12 meses, contra 6,4% no trimestre anterior.
Do lado da produção de bens e serviços, o estrago também aparece claramente. A indústria foi de longe o setor que mais sofreu, reduzindo sua produção em 7,4% sobre o período de três meses anteriores, e trazendo o crescimento em 12 meses de 7,1% para -2,1%. Esse tombo impressionante ocorreu principalmente pela redução na demanda interna por máquinas e equipamentos e pelo verdadeiro colapso das exportações de produtos industriais.
A lição principal desses números é a certeza de que fomos atingidos duramente pelos efeitos da crise internacional quando a economia crescia ao ritmo de quase 7% ao ano. Além do choque de crédito, os principais canais dessa correção foram o colapso do comércio internacional e a brutal reversão (negativa) em nossos termos de troca (preços das exportações em relação aos das importações). Tal choque externo reduziu substancialmente a renda nacional, até então gerada por nossas exportações de commodities, e se propagou na economia por meio da redução abrupta dos investimentos. Estamos agora assistindo aos efeitos defasados desse choque, na forma de menor oferta de emprego e na redução do ritmo de avanço da renda do trabalho.


LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS , 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).


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