São Paulo, quarta-feira, 11 de março de 2009

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China tem 1ª deflação ao consumidor desde 2002

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A China teve deflação em fevereiro, de acordo com os índices de preços ao consumidor e ao produtor divulgados ontem. Os preços ao consumidor e ao produtor registraram quedas de -1,6% e -4,5% respectivamente, em comparação com o mesmo mês do ano passado.
A inflação dos preços ao consumidor se desacelerou por dez meses consecutivos e pela primeira vez desde 2002 o número foi negativo. Em janeiro, tinha aumentado 1% em relação ao mesmo mês do ano passado. Em fevereiro caiu 1,6%.
A deflação é mais uma prova da desaceleração da economia chinesa. Soma a redução do consumo no país com o excesso de capacidade produtiva da indústria chinesa, o que deixa as empresas com pouco poder para reajustar preços.
Os maiores responsáveis pela queda do IPC chinês foram os alimentos, que caíram 1,9% e os preços de imóveis, que caíram 2,9%. O valor dos imóveis não à venda tiveram uma queda recorde de 15,9%.
"O declínio de preços é preocupante porque expectativas de deflação fazem com que os consumidores adiem compras, resultando em mais pressão deflacionária", disse à Folha a economista chinesa Jing Ulrich, diretora de China Equities do banco JP Morgan.
O temor foi confirmado por uma pesquisa divulgada ontem pelo Horizon, o principal instituto de pesquisas da China, que ouviu 1.042 pessoas em Pequim, Xangai e Guangzhou, as três maiores cidades chinesas.
Para 56,8% dos entrevistados, os preços dos imóveis continuarão caindo e para 80%, os preços ainda estão muito altos. Mais da metade discorda da política do governo em relação ao mercado imobiliário.
O Índice de Preços ao Produtor continuou em deflação pelo terceiro mês consecutivo, -4,5% em relação a fevereiro de 2008. Em janeiro já havia registrado queda de 3,3% em relação ao ano anterior.
Apesar da recuperação de alguns preços de matérias primas em janeiro, o mercado continua enfraquecido. Depois de uma alta em novembro e dezembro, os preços do aço voltaram a cair por quatro semanas consecutivas por conta de estoques cheios.
Para tentar reduzir temores de que a desaceleração chinesa é mais séria do que o governo admite, o Escritório Nacional de Estatísticas divulgou uma rara explicação dizendo que "os números se devem à queda nos preços de matérias primas e a distorções provocadas pelo feriadão do Ano Novo chinês".
No discurso em que abriu o Congresso do Povo, o Legislativo chinês, na semana passada, o primeiro-ministro Wen Jiabao disse que aumentará os preços de arroz e trigo em 18% para aumentar a renda dos agricultores chineses. Reajustes na energia e combustíveis, subsidiados, também podem interromper a deflação já no segundo semestre.


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