São Paulo, quarta-feira, 11 de abril de 2001

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GLOBALIZAÇÃO

Em 99 e 2000, fuga de recursos foi maior que investimentos em países em desenvolvimento, diz Banco Mundial

Após uma década de reformas, capital foge de emergentes

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O capital parece não gostar de reformas econômicas liberais. Poderia ser esse um resumo irônico do mais recente balanço do Banco Mundial a respeito dos fluxos internacionais de dinheiro.
Ao longo de uma década de duras reformas financeiras liberais, privatizações e abertura comercial, os países em desenvolvimento, ou mercados emergentes, passaram a perder capitais numa velocidade substancialmente superior à do ingresso de recursos.
Nos anos 1999 e 2000, o balanço dos fluxos financeiros, o de entradas e saídas de investimentos de recursos dos mercados emergentes, entrou no vermelho após registrar saldos positivos entre 1991 e 1998. O documento do Bird, divulgado ontem, é anual e se chama "Financiamento do Desenvolvimento Mundial".
Em 2000, os países em desenvolvimento receberam US$ 299,3 bilhões em empréstimos, investimentos diretos e aplicações em Bolsas. No mesmo ano, US$ 306,6 bilhões saíram destes países.
Em 1999, entraram US$ 246,2 bilhões e saíram US$ 246,9 bilhões.
Apesar de obviamente relevante, a constatação não faz parte das principais conclusões oficiais do relatório. Os dados podem ser localizados numa tabela discreta no meio do documento.
Alega-se que as reformas liberais a princípio tornariam o ambiente de negócios de um país mais "amigável", ou seguro, para o investidor. Isto é, um ambiente de estabilidade econômica e com boa capacidade de solvência.

Perspectivas "promissoras"
Para o Bird, a principal conclusão do relatório é a de que, apesar da perspectiva de uma nova crise global, o cenário para o futuro é positivo e os países em desenvolvimento devem aprofundar as reformas.
Segundo a instituição, os investimentos diretos para os países em desenvolvimento, que persistiram por todos os anos de crise, tiveram uma pequena queda em 2000, mas suas perspectivas de longo prazo "continuam promissoras".
O Bird apontou como positivo o fato de que os fluxos financeiros (todos os fluxos, não só os investimentos diretos) para estes países, que tinham caído abruptamente em 1998 e 1999, voltaram a se intensificar bastante em 2000 e devem manter a mesma tendência de crescimento em 2001 e 2002.
A instituição faz algumas referências à saída de capitais. Reconhece sua importância, mas salienta seus aspectos supostamente positivos, como o fato de que, com menos recursos externos, os países em desenvolvimento têm menos dívidas e menos riscos.
"O aumento do ingresso de capitais nos países em desenvolvimento durante os anos 90 recebeu bastante atenção. No entanto, a saída de capitais também aumentou bastante no período", diz o documento do Banco Mundial, sem detalhar o volume e a natureza destas saídas
O Bird reconhece ainda que a participação dos países em desenvolvimento nos fluxos privados de capital em todo o mundo caiu de 14,4%, em 1997, para 7,6% em 2000. E a participação dos países em desenvolvimento no volume global de investimentos diretos caiu de 36,5% para 16% no período.


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