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LUÍS NASSIF
A Petrobras e o monopólio privado
Elogiada pelos analistas de
mercado, pelos investidores
internacionais, motivo de orgulho nacional por sua "performance", é hora de começar a
avaliar adequadamente o papel
da Petrobras em um novo modelo de mercado.
Antes da flexibilização do mercado de combustíveis, a Petrobras era um monopólio público.
Ou seja, exercia um monopólio,
mas subordinado a um ente superior. Essa situação fez com
que, muitas vezes, os preços fossem manipulados com o objetivo
de combater saltos de inflação,
prejudicando seu desenvolvimento como empresa.
A flexibilização do monopólio
público mudou o enfoque da
questão. A Petrobras passou a
atuar preponderantemente como uma empresa de mercado.
Tem sua missão estratégica, de
prover o país do combustível necessário, mas a sua lógica passa
a ser a da maximização dos seus
resultados. E está certa.
Nesse novo escopo, não pode
mais se sujeitar a regras subjetivas. Nem mesmo o seu acionista
controlador (a União) pode impor à empresa regras que afrontem a lógica de mercado e os direitos dos acionistas minoritários, muitos dos quais são fundos
estrangeiros.
No entanto, como estabelecer
limites legais à ação de um monopólio privado? Dessa questão
não se pode furtar o presidente
da República.
Tanto quanto no setor elétrico,
criou-se um modelo vicioso no
governo FHC que privilegia a
rentabilização das empresas e o
aumento de arrecadação à custa
do consumidor-contribuinte.
Consumidores de diversos produtos levantam as seguintes
questões, a serem ponderadas:
O primeiro caso é o da definição do preço do combustível. A
Petrobras produz 70% do petróleo que o país consome. Dos demais 30%, parte relevante deve
ser em contratos de fornecimento de médio e longo prazo. Hoje
em dia esse mercado está atrelado ao preço spot (à visita) de petróleo. A Petrobras alega que, se
adotar seus próprios custos, inviabilizará a competição com
quem quer importar. Mais que
assegurar a competição, o direito
econômico visa assegurar o direito dos consumidores.
O segundo item é a questão do
gás. Os critérios para a formação
de preço do gás jogaram as cotações na estratosfera, não apenas
pelo critério de amortização dos
investimentos (de dez anos) como dos preços fixados para a distribuição do produto.
Segundo empresas consumidoras, no caso do gás natural, a Petrobras arbitrou o preço de US$
1.148/MMBTu para o gás e de
US$ 1.433/MMBtu para o transporte, superior ao produto adquirido pelas térmicas integrantes do PPT (o programa emergencial de implantação de térmicas, no qual a Petrobras tem
participação maciça).
Na definição do preço do GLP
(gás liquefeito de petróleo), a Petrobras recorreu ao mesmo critério arbitrário. Ela utiliza como
referencial o preço médio FOB
de Mont Belvieu, no México.
Além de comprar com descontos
e não repassá-los para os preços
internos, a Petrobras incluiu um
adicional a título de "custos de
internação" que, em fevereiro,
chegou a US$ 75 por tonelada,
ou seja, 50% a mais que o preço
de importação, que é de US$ 151
por tonelada. Só com esse sobrepreço a Petrobras conseguiu um
resultado adicional de US$ 350
milhões no ano passado, o que
demonstra que os resultados expressivos não dependeram apenas de melhoria de gestão. A diretoria de comercialização da
Petrobras sustenta que seu mix
de preços é diferente dos números apresentados.
Há que se chegar a um meio-termo que não impeça o desenvolvimento da empresa, mas que
coloque limites à sua atuação de
monopólio privado.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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