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Avanço só virá com mudança na educação, diz especialista
Companhias adotam incentivos, mas ainda faltam políticas públicas, afirma professor
Empresas contratam negros e tentam mudar cultura interna; idéia é que valorizar
a diversidade racial traz ganho sobre concorrentes
DA REPORTAGEM LOCAL
As empresas notaram que valorizar a multiplicidade racial é
uma vantagem competitiva.
"Como uma fábrica vai vender
produtos para uma comunidade diversificada se os seus quadros não refletem o que existe
na sociedade? Ela não conseguirá detectar o que pensa e do
que precisa o seu consumidor",
explica Fábio Pereira, "head-
hunter" da Michael Page.
As principais estratégias adotadas para tentar deixar as estruturas corporativas mais
igualitárias têm como foco a
admissão dos funcionários e a
cultura corporativa.
As ações sobre a cultura têm
como objetivo quebrar os estigmas que os funcionários trazem consigo. Assim, a idéia é
que eles possam atuar depois
como agentes de transformação dentro e fora do escritório.
O Wal-Mart organiza palestras e formou um grupo para
discutir o assunto raça. "Queremos diminuir as distâncias
construídas durante tanto tempo no país. Dos nossos colaboradores, atualmente 48,13%
são negros", afirma Maria Susana Souza, diretora de recursos humanos da multinacional.
Outras empresas preparam
os chefes para lidar melhor
com a questão racial. "Antigamente, a superioridade de uma
companhia estava na informação que ela detinha. No século
21, o conhecimento está amplamente disponível. Então, o que
faz realmente a diferença é ter
profissionais com bagagem e
origens distintas, o que amplia
a variedade de olhares sobre esses dados e as possibilidades de
utilização", diz Ana Marchi, diretora de recursos humanos da
Monsanto. "Os líderes também
têm o seu desempenho medido
pelo incentivo ao desenvolvimento da sua equipe. O treinamento dos gestores frisa que a
inclusão é um dos nossos princípios", completa.
No Itaú, existe um programa
destinado a selecionar jovens
talentos negros e prepará-los
para construir uma carreira no
banco. "É essencial termos
equipes heterogêneas", destaca
Ana Paula Nunes de Lima, superintendente da área de atração e diversidade.
Os estagiários atuam em todos os setores do banco e participam de módulos educacionais especiais para compensar
eventuais deficiências em relação aos demais funcionários.
Iniciativa semelhante tem o
banco Real. "Cerca de 30% do
tempo do estágio é destinado a
atividades educacionais que visam enriquecer a bagagem profissional e acadêmica dos jovens para que eles tenham condições de se tornarem líderes
no futuro", explica Maria Cristina Carvalho, superintendente
de desenvolvimento humano
do banco.
Embora tais projetos sejam
reconhecidos como iniciativas
importantes e válidas, não são
suficientes. "Em todas as nações que investiram na educação fundamental, a discriminação no mercado de trabalho é
menos acentuada. Temos um
potencial de investimento nessa área que outros países não
possuem, e a sociedade, cada
vez mais, se dá conta do absurdo. Porém, um dos desencantos
que o atual governo nos trouxe
foi justamente a falta de uma
boa política educacional", frisa
Cláudio Dedecca, da Unicamp.
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