São Paulo, domingo, 11 de maio de 2008

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Avanço só virá com mudança na educação, diz especialista

Companhias adotam incentivos, mas ainda faltam políticas públicas, afirma professor

Empresas contratam negros e tentam mudar cultura interna; idéia é que valorizar a diversidade racial traz ganho sobre concorrentes


DA REPORTAGEM LOCAL

As empresas notaram que valorizar a multiplicidade racial é uma vantagem competitiva. "Como uma fábrica vai vender produtos para uma comunidade diversificada se os seus quadros não refletem o que existe na sociedade? Ela não conseguirá detectar o que pensa e do que precisa o seu consumidor", explica Fábio Pereira, "head- hunter" da Michael Page.
As principais estratégias adotadas para tentar deixar as estruturas corporativas mais igualitárias têm como foco a admissão dos funcionários e a cultura corporativa.
As ações sobre a cultura têm como objetivo quebrar os estigmas que os funcionários trazem consigo. Assim, a idéia é que eles possam atuar depois como agentes de transformação dentro e fora do escritório.
O Wal-Mart organiza palestras e formou um grupo para discutir o assunto raça. "Queremos diminuir as distâncias construídas durante tanto tempo no país. Dos nossos colaboradores, atualmente 48,13% são negros", afirma Maria Susana Souza, diretora de recursos humanos da multinacional.
Outras empresas preparam os chefes para lidar melhor com a questão racial. "Antigamente, a superioridade de uma companhia estava na informação que ela detinha. No século 21, o conhecimento está amplamente disponível. Então, o que faz realmente a diferença é ter profissionais com bagagem e origens distintas, o que amplia a variedade de olhares sobre esses dados e as possibilidades de utilização", diz Ana Marchi, diretora de recursos humanos da Monsanto. "Os líderes também têm o seu desempenho medido pelo incentivo ao desenvolvimento da sua equipe. O treinamento dos gestores frisa que a inclusão é um dos nossos princípios", completa.
No Itaú, existe um programa destinado a selecionar jovens talentos negros e prepará-los para construir uma carreira no banco. "É essencial termos equipes heterogêneas", destaca Ana Paula Nunes de Lima, superintendente da área de atração e diversidade.
Os estagiários atuam em todos os setores do banco e participam de módulos educacionais especiais para compensar eventuais deficiências em relação aos demais funcionários.
Iniciativa semelhante tem o banco Real. "Cerca de 30% do tempo do estágio é destinado a atividades educacionais que visam enriquecer a bagagem profissional e acadêmica dos jovens para que eles tenham condições de se tornarem líderes no futuro", explica Maria Cristina Carvalho, superintendente de desenvolvimento humano do banco.
Embora tais projetos sejam reconhecidos como iniciativas importantes e válidas, não são suficientes. "Em todas as nações que investiram na educação fundamental, a discriminação no mercado de trabalho é menos acentuada. Temos um potencial de investimento nessa área que outros países não possuem, e a sociedade, cada vez mais, se dá conta do absurdo. Porém, um dos desencantos que o atual governo nos trouxe foi justamente a falta de uma boa política educacional", frisa Cláudio Dedecca, da Unicamp.


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