São Paulo, domingo, 11 de maio de 2008

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Consumo de luxo cresce mais no Nordeste

Com investimento de europeus, região deve ultrapassar o Sul em 2010; cidades nordestinas entram no plano de expansão das lojas de grife

Grupos estrangeiros e pessoas físicas têm investido, nos últimos anos, em hotéis, casas, terrenos e lojas voltadas para a classe alta


JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

Ceará, Rio Grande do Norte, Maranhão, Alagoas e Bahia estão recebendo tantos investimentos estrangeiros, especialmente no turismo, que a região deverá ultrapassar o Sul no consumo de luxo em 2010.
Autoridades ligadas ao turismo e ao desenvolvimento no Nordeste afirmam que a presença dos estrangeiros não só injeta mais recursos na economia como joga para cima os padrões de vida e de consumo. Um exemplo: uma casa de 300 metros quadrados no litoral potiguar seria vendida por, no máximo, R$ 1 milhão há cinco anos. Hoje, não há negócio para imóvel desse porte por menos de 1 milhão.
Esse fenômeno começa a dar sinais nas pesquisas de mercado. Pela primeira vez, cidades nordestinas aparecem no plano de expansão das lojas de grife, nacionais e estrangeiras. É o que revela "O Mercado de luxo no Brasil", levantamento inédito feito pela MCF Consultoria e pela GfK Indicator.
"Antes, conhecíamos os proprietários dos poucos carros de luxo que circulavam pela cidade", diz Fernando Fernandes, secretário de Turismo do Rio Grande do Norte. "Hoje, isso não é mais possível, tamanha a quantidade de Land Rover e de outros veículos de alto padrão."
Em Natal, a capital do Estado, a rua Afonso Pena se transforma, aos poucos, na Oscar Freire -endereço nacional do luxo, em São Paulo. Na rua potiguar existem estabelecimentos como Donna Donna (que vende marcas de grife internacionais), a joalheria Ocular (especializada em relógios como Rolex e Cartier) e o Magazine, empório que vende produtos de alto padrão, a exemplo do Santa Luzia e do Santa Maria, ambos em São Paulo.
Esse é um efeito dos bilhões de dólares que ingressaram no Nordeste nos últimos dois anos pelas mãos de grupos estrangeiros privados e até de pessoas físicas que decidiram trocar seus países pela região.
Segundo Fernandes, praticamente todo o litoral do Rio Grande do Norte, na faixa que vai a 100 quilômetros de Natal rumo ao Norte e a 190 quilômetros rumo ao Sul, foi vendido para espanhóis, italianos, portugueses e dinamarqueses.
No momento, há nove empreendimentos de grande porte em andamento. Apenas dois deles -o Jacumã Beach Resort, do grupo Sanchez, e um complexo com oito hotéis no cabo de São Roque, em Barra de Maxaranguape- prevêem investimentos de R$ 5 bilhões.
A empresária Anielly Barros Maia, dona da CDP International Real Estate, é uma das responsáveis pela comercialização de terrenos no Nordeste. Segundo ela, só em 2007 a venda de lotes à beira-mar somou US$ 300 milhões. "Os estrangeiros descobriram o Nordeste", diz Maia.
A CDP, que também comercializa empreendimentos imobiliários para brasileiros no exterior, como o sofisticado St. Tropez, em Miami (EUA), já tem entre os empresários e políticos nordestinos pelo menos 20% de sua clientela. "Estamos falando de imóveis na faixa de US$ 1 milhão", diz Maia.

Dinheiro ao vento
No Ceará, a indústria de geração de energia eólica (a partir do vento) é um dos principais motores da riqueza no Estado.
Antônio Balhmann, diretor da Agência de Desenvolvimento do Ceará, informa que o Estado recebeu US$ 1 bilhão em projetos de ampliação de seu parque eólico, em 2007, e receberá pelo menos US$ 2 bilhões por ano até 2012. "Começa a surgir uma indústria local de componentes para os geradores," diz Balhmann.
Também há investimentos bilionários na siderurgia e no setor turístico. O próprio governo cearense está criando uma linha de financiamento para quem quiser abrir pousadas de charme.
A Collection Jóias, uma das lojas mais sofisticadas de Fortaleza (CE), está em fase de ampliação. Além de vender objetos de decoração e jóias das marcas francesas Chaumet e Chopard, com peças avaliadas em R$ 1 milhão, venderá eletrônicos. "Mas só os objetos mais caros", diz Ticiana Patrício, diretora de marketing da loja.
Na Bahia não é diferente. Nos bastidores já se sabe que o governo estadual conseguiu atrair o magnata Donald Trump para o lançamento de um dos seus empreendimentos hoteleiros. Quem comprar um imóvel, por no mínimo US$ 700 mil, poderá deixá-lo sob a administração do condomínio e faturar com a locação para temporadas.
Tradicionalmente, o Nordeste sempre foi um grande "emissor" de consumidores para São Paulo e Rio de Janeiro. "Agora, as empresas começam a pensar no Nordeste como opção de negócio," diz Carlos Ferreirinha, diretor-presidente da MCF.
Não apenas os grandes grupos aportam na região. Também estrangeiros estão deixando seus países. Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia são os recordistas em investimentos de pessoas físicas que lá se instalaram como empreendedores.
Essa turma está abrindo pequenas pousadas, restaurantes, lojas e spas, oferecendo serviços de alto padrão. Em 2007, eles investiram US$ 103, 5 milhões no Brasil. Os potiguares receberam US$ 26,9 milhões, os cearenses, R$ 18,6 milhões, e os baianos, R$ 14,6 milhões.


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