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Consumo de luxo cresce mais no Nordeste
Com investimento de europeus, região deve ultrapassar o Sul em 2010; cidades nordestinas entram no plano de expansão das lojas de grife
Grupos estrangeiros e pessoas físicas têm investido, nos últimos anos, em hotéis, casas, terrenos e lojas voltadas para a classe alta
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
Ceará, Rio Grande do Norte,
Maranhão, Alagoas e Bahia estão recebendo tantos investimentos estrangeiros, especialmente no turismo, que a região
deverá ultrapassar o Sul no
consumo de luxo em 2010.
Autoridades ligadas ao turismo e ao desenvolvimento no
Nordeste afirmam que a presença dos estrangeiros não só
injeta mais recursos na economia como joga para cima os padrões de vida e de consumo.
Um exemplo: uma casa de 300
metros quadrados no litoral
potiguar seria vendida por, no
máximo, R$ 1 milhão há cinco
anos. Hoje, não há negócio para
imóvel desse porte por menos
de 1 milhão.
Esse fenômeno começa a dar
sinais nas pesquisas de mercado. Pela primeira vez, cidades
nordestinas aparecem no plano de expansão das lojas de grife, nacionais e estrangeiras. É o
que revela "O Mercado de luxo
no Brasil", levantamento inédito feito pela MCF Consultoria
e pela GfK Indicator.
"Antes, conhecíamos os proprietários dos poucos carros de
luxo que circulavam pela cidade", diz Fernando Fernandes,
secretário de Turismo do Rio
Grande do Norte. "Hoje, isso
não é mais possível, tamanha a
quantidade de Land Rover e de
outros veículos de alto padrão."
Em Natal, a capital do Estado, a rua Afonso Pena se transforma, aos poucos, na Oscar
Freire -endereço nacional do
luxo, em São Paulo. Na rua potiguar existem estabelecimentos como Donna Donna (que
vende marcas de grife internacionais), a joalheria Ocular (especializada em relógios como
Rolex e Cartier) e o Magazine,
empório que vende produtos
de alto padrão, a exemplo do
Santa Luzia e do Santa Maria,
ambos em São Paulo.
Esse é um efeito dos bilhões
de dólares que ingressaram no
Nordeste nos últimos dois anos
pelas mãos de grupos estrangeiros privados e até de pessoas
físicas que decidiram trocar
seus países pela região.
Segundo Fernandes, praticamente todo o litoral do Rio
Grande do Norte, na faixa que
vai a 100 quilômetros de Natal
rumo ao Norte e a 190 quilômetros rumo ao Sul, foi vendido para espanhóis, italianos,
portugueses e dinamarqueses.
No momento, há nove empreendimentos de grande porte em andamento. Apenas dois
deles -o Jacumã Beach Resort,
do grupo Sanchez, e um complexo com oito hotéis no cabo
de São Roque, em Barra de Maxaranguape- prevêem investimentos de R$ 5 bilhões.
A empresária Anielly Barros
Maia, dona da CDP International Real Estate, é uma das responsáveis pela comercialização
de terrenos no Nordeste. Segundo ela, só em 2007 a venda
de lotes à beira-mar somou
US$ 300 milhões. "Os estrangeiros descobriram o Nordeste", diz Maia.
A CDP, que também comercializa empreendimentos imobiliários para brasileiros no exterior, como o sofisticado St.
Tropez, em Miami (EUA), já
tem entre os empresários e políticos nordestinos pelo menos
20% de sua clientela. "Estamos
falando de imóveis na faixa de
US$ 1 milhão", diz Maia.
Dinheiro ao vento
No Ceará, a indústria de geração de energia eólica (a partir
do vento) é um dos principais
motores da riqueza no Estado.
Antônio Balhmann, diretor
da Agência de Desenvolvimento do Ceará, informa que o Estado recebeu US$ 1 bilhão em
projetos de ampliação de seu
parque eólico, em 2007, e receberá pelo menos US$ 2 bilhões
por ano até 2012. "Começa a
surgir uma indústria local de
componentes para os geradores," diz Balhmann.
Também há investimentos
bilionários na siderurgia e no
setor turístico. O próprio governo cearense está criando
uma linha de financiamento
para quem quiser abrir pousadas de charme.
A Collection Jóias, uma das
lojas mais sofisticadas de Fortaleza (CE), está em fase de ampliação. Além de vender objetos de decoração e jóias das
marcas francesas Chaumet e
Chopard, com peças avaliadas
em R$ 1 milhão, venderá eletrônicos. "Mas só os objetos mais
caros", diz Ticiana Patrício, diretora de marketing da loja.
Na Bahia não é diferente. Nos
bastidores já se sabe que o governo estadual conseguiu atrair
o magnata Donald Trump para
o lançamento de um dos seus
empreendimentos hoteleiros.
Quem comprar um imóvel, por
no mínimo US$ 700 mil, poderá deixá-lo sob a administração
do condomínio e faturar com a
locação para temporadas.
Tradicionalmente, o Nordeste sempre foi um grande "emissor" de consumidores para São
Paulo e Rio de Janeiro. "Agora,
as empresas começam a pensar
no Nordeste como opção de negócio," diz Carlos Ferreirinha,
diretor-presidente da MCF.
Não apenas os grandes grupos aportam na região. Também estrangeiros estão deixando seus países. Rio Grande do
Norte, Ceará e Bahia são os recordistas em investimentos de
pessoas físicas que lá se instalaram como empreendedores.
Essa turma está abrindo pequenas pousadas, restaurantes,
lojas e spas, oferecendo serviços de alto padrão. Em 2007,
eles investiram US$ 103, 5 milhões no Brasil. Os potiguares
receberam US$ 26,9 milhões,
os cearenses, R$ 18,6 milhões, e
os baianos, R$ 14,6 milhões.
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