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Empresas reduzem operações com dólar
Desde setembro do ano passado, companhias brasileiras diminuíram em 40% a exposição à variação da taxa de câmbio
Analista alerta para o fato
de que a renegociação dos prejuízos compromete a capacidade de empresas tomarem novos empréstimos
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois do prejuízo decorrente da farra ao longo de 2008
com apostas na valorização do
real para obter ganhos financeiros, as empresas brasileiras
reduziram a exposição à variação da taxa de câmbio em 40%.
Isso considerando apenas os
contratos de venda de dólar,
chamados de derivativos, registrados no país.
É o que mostra levantamento
feito pela Cetip (câmara de registro e liquidação dessas operações), o primeiro desde que o
mercado financeiro e o governo
foram surpreendidos, no fim
do ano passado, por perdas monumentais de empresas como
Sadia, Aracruz e o grupo Votorantim, que deveriam usar esses instrumentos apenas para
fazer seguro contra perdas financeiras.
Os dados da Cetip mostram
que, em 30 de setembro do ano
passado, duas semanas após a
concordata do banco Lehman
Brothers -que desencadeou
uma onda de quebradeira de
bancos e empresas-, a câmara
registrava em aberto US$ 66 bilhões em contratos em que as
empresas se comprometiam a
entregar uma quantidade de
dólares num prazo estipulado,
com base na cotação futura.
No dia 20 de abril deste ano,
esse volume havia caído para
US$ 39 bilhões. A estimativa é
que as operações, conhecidas
no jargão da área financeira como "posição vendida em dólar",
tenham custado cerca de US$
25 bilhões para 3.000 empresas
que operam no país, sendo que
90% desse total estava concentrado em 200 companhias.
As perdas ocorreram porque,
em vez de o real continuar se
valorizando, ele passou a perder valor em relação ao dólar, o
que fez as dívidas assumidas
aumentarem consideravelmente. Apesar de nem tudo ter
sido quitado naquele momento, como os contratos previam
ajustes periódicos, as empresas
que não puderam pagar foram
obrigadas a renegociar.
Ganhos rápidos
Essas operações em dólar
servem para tentar minimizar
o risco, por exemplo, de exportadores que querem evitar que
a cotação esteja desfavorável
quando receber o pagamento
das suas vendas lá fora e for
converter os dólares para reais.
O problema é que elas passaram a ser usadas também como
aplicações financeiras por
companhias que queriam ganhos rápidos.
"Quando acordaram em 15
de setembro, as empresas não
tinham como pagar as operações por causa da desvalorização súbita do real e das cláusulas que multiplicavam os prejuízos", lembra Roberto Giannetti da Fonseca, vice-presidente de comércio exterior da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
"As empresas passaram a achar
que o mercado de dólar era um
jogo", afirma.
A saída para muitas empresas foi transformar o valor devido em um empréstimo. Isso
evitou que elas quebrassem nos
meses seguintes, mas as companhias ainda carregam esse
endividamento.
O custo total calculado pela
Cetip não inclui as operações
fechadas no exterior, como era
o caso de boa parte das empresas que amargaram grandes
perdas, nem na BM&F (Bolsa
de Mercadorias e Futuro).
Segundo estudo regional feito pelo FMI (Fundo Monetário
Internacional) que inclui os casos registrados no Brasil e no
México, as perdas estimadas no
mercado de derivativos da Sadia, da Aracruz e do grupo Votorantim somaram US$ 5,5 bilhões. A maior parte delas foi feita no mercado externo.
Endividamento
Essa redução da exposição
cambial "é boa mas não indolor", segundo o diretor de relações com participantes da Cetip, Jorge Sant'Anna. Para ele, o
processo de renegociação dos
prejuízos com os credores, no
caso, bancos, compromete a capacidade de muitas empresas
tomarem novos empréstimos
para investir.
"As empresas estão com as linhas tomadas. Elas irão retrair
novos contratos de derivativos
e de empréstimos. As empresas
estão com medo e com limites
tomados", diz Sant'Anna.
Para Fonseca, as empresas
que amargaram perdas aprenderam a lição. Mas outras ainda
podem repetir o erro. "Derivativo é um "hedge", um seguro. Se
for usado do jeito certo, reduz o
risco. Mas existem formas malignas e uma delas é usar e exagerar além do risco do qual precisa se proteger."
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