São Paulo, segunda-feira, 11 de maio de 2009

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Empresas reduzem operações com dólar

Desde setembro do ano passado, companhias brasileiras diminuíram em 40% a exposição à variação da taxa de câmbio

Analista alerta para o fato de que a renegociação dos prejuízos compromete a capacidade de empresas tomarem novos empréstimos


SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois do prejuízo decorrente da farra ao longo de 2008 com apostas na valorização do real para obter ganhos financeiros, as empresas brasileiras reduziram a exposição à variação da taxa de câmbio em 40%. Isso considerando apenas os contratos de venda de dólar, chamados de derivativos, registrados no país.
É o que mostra levantamento feito pela Cetip (câmara de registro e liquidação dessas operações), o primeiro desde que o mercado financeiro e o governo foram surpreendidos, no fim do ano passado, por perdas monumentais de empresas como Sadia, Aracruz e o grupo Votorantim, que deveriam usar esses instrumentos apenas para fazer seguro contra perdas financeiras.
Os dados da Cetip mostram que, em 30 de setembro do ano passado, duas semanas após a concordata do banco Lehman Brothers -que desencadeou uma onda de quebradeira de bancos e empresas-, a câmara registrava em aberto US$ 66 bilhões em contratos em que as empresas se comprometiam a entregar uma quantidade de dólares num prazo estipulado, com base na cotação futura.
No dia 20 de abril deste ano, esse volume havia caído para US$ 39 bilhões. A estimativa é que as operações, conhecidas no jargão da área financeira como "posição vendida em dólar", tenham custado cerca de US$ 25 bilhões para 3.000 empresas que operam no país, sendo que 90% desse total estava concentrado em 200 companhias.
As perdas ocorreram porque, em vez de o real continuar se valorizando, ele passou a perder valor em relação ao dólar, o que fez as dívidas assumidas aumentarem consideravelmente. Apesar de nem tudo ter sido quitado naquele momento, como os contratos previam ajustes periódicos, as empresas que não puderam pagar foram obrigadas a renegociar.

Ganhos rápidos
Essas operações em dólar servem para tentar minimizar o risco, por exemplo, de exportadores que querem evitar que a cotação esteja desfavorável quando receber o pagamento das suas vendas lá fora e for converter os dólares para reais. O problema é que elas passaram a ser usadas também como aplicações financeiras por companhias que queriam ganhos rápidos.
"Quando acordaram em 15 de setembro, as empresas não tinham como pagar as operações por causa da desvalorização súbita do real e das cláusulas que multiplicavam os prejuízos", lembra Roberto Giannetti da Fonseca, vice-presidente de comércio exterior da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). "As empresas passaram a achar que o mercado de dólar era um jogo", afirma.
A saída para muitas empresas foi transformar o valor devido em um empréstimo. Isso evitou que elas quebrassem nos meses seguintes, mas as companhias ainda carregam esse endividamento.
O custo total calculado pela Cetip não inclui as operações fechadas no exterior, como era o caso de boa parte das empresas que amargaram grandes perdas, nem na BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuro).
Segundo estudo regional feito pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) que inclui os casos registrados no Brasil e no México, as perdas estimadas no mercado de derivativos da Sadia, da Aracruz e do grupo Votorantim somaram US$ 5,5 bilhões. A maior parte delas foi feita no mercado externo.

Endividamento
Essa redução da exposição cambial "é boa mas não indolor", segundo o diretor de relações com participantes da Cetip, Jorge Sant'Anna. Para ele, o processo de renegociação dos prejuízos com os credores, no caso, bancos, compromete a capacidade de muitas empresas tomarem novos empréstimos para investir.
"As empresas estão com as linhas tomadas. Elas irão retrair novos contratos de derivativos e de empréstimos. As empresas estão com medo e com limites tomados", diz Sant'Anna.
Para Fonseca, as empresas que amargaram perdas aprenderam a lição. Mas outras ainda podem repetir o erro. "Derivativo é um "hedge", um seguro. Se for usado do jeito certo, reduz o risco. Mas existem formas malignas e uma delas é usar e exagerar além do risco do qual precisa se proteger."


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