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Pacote europeu leva mercados à euforia
Após forte queda da semana passada, Bolsas se recuperam; especialistas, porém, afirmam que problema de endividamento persiste
Para economistas, plano de €
750 bilhões ajuda a reduzir risco de calote da Grécia e de contágio no bloco, mas não resolve crise no longo prazo
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
Os mercados financeiros
passaram da profunda fossa da
semana passada a uma enorme
euforia ontem, depois que a
União Europeia e os bancos
centrais dos países ricos anunciaram um imenso muro de €
750 bilhões para conter o
apetite dos "lobos".
Lobos foi a qualificação usada pelo ministro sueco de Finanças, Anders Borg, para os
movimentos especulativos que
golpeavam um país europeu
depois do outro.
Que houve especulação ficou
evidente ontem: sem que tivesse ocorrido uma efetiva mudança nas condições macroeconômicas de qualquer dos
países europeus, a reversão nos
mercados foi espetacular.
A Espanha, um dos países
sob ataque, viu o índice Ibex de
sua Bolsa subir inacreditáveis
14,43%, a maior alta em seus 18
anos de história. A Bolsa de São
Paulo avançou 4,11%, e o dólar
recuou 3,99%, para R$ 1,777.
A Grécia, o epicentro do terremoto financeiro de 2010, viu
os juros exigidos por seus papéis cair a 4,46%, o melhor registro desde o início de abril e a
anos-luz dos 12,5% que chegou
a pagar na pior fase da crise.
Detalhe: a dívida da Grécia
era exatamente do mesmo tamanho quando ela pagava
12,5% e ontem, quando passou
a pagar um terço desse nível.
É simples entender a mudança: com o pacote europeu
da madrugada de ontem, o risco de um calote grego ou de outros países altamente endividado fica no mínimo contido, se
não eliminado. Logo, não há razão para cobrar um prêmio de
risco elevado como compensação prévia para um calote.
Mas o fato de os fundamentos da economia grega (ou europeia em geral) não terem
mudado da noite para o dia, como não poderiam fazê-lo, é o
motivo para que analistas menos impressionados pelo dia a
dia façam advertências contra
o excesso de euforia.
David Roche, presidente e
estrategista global da firma
"Independent Strategy", fez o
seguinte comentário para a
edição eletrônica do "Financial
Times": "Inicialmente, os mercados podem se impressionar
com o tamanho do pacote. Mas
o tamanho apenas quer dizer
que mais dívida está sendo
acrescentada a um problema
que é excesso de dívida".
É uma alusão ao fato de que
os governos europeus e o Banco Central estão agora obrigados a garantir ou comprar a dívida dos países que necessitarem do socorro. Roche fecha o
raciocínio: "A solução para
uma ressaca não é mais álcool".
Reforça Juan José Ruiz, economista-chefe do Banco Santander: "Resolvemos o problema da liquidez. E da histeria.
Agora começa a hora da verdade: quem tiver um problema de
solvência que comece a resolvê-lo. Não terá muitas oportunidades mais".
É alusão ao fato de que o muro de proteção erguido agora
permite que países altamente
endividados cuidem de reduzir
seu deficit e seu endividamento, sem a pressão da especulação que elevava diariamente o
custo de rolar papéis da dívida.
Criava-se um círculo de ferro: países endividados tinham
que se endividar mais ainda para rolar a dívida, o que punha
no horizonte a perspectiva de
um calote, organizado ou desordenado. Era o grande temor
dos investidores e, mais ainda,
dos bancos que detêm títulos
desses países.
A dívida total dos países que
os mercados chamam pejorativamente de Pigs (Portugal, Itália, Grécia e Espanha, aos quais
se acrescentou depois outro
"i", de Irlanda) é de impressionantes US$ 3,9 trilhões.
A exposição não é apenas dos
bancos europeus. Recente relatório da financeira Barclays
Capital diz que os bancos norte-americanos têm cerca de
US$ 176 bilhões em exposição a
esses países (menos Itália).
Não é à toa que o presidente
Barack Obama telefonou no
domingo a Nicolas Sarkozy, o
presidente francês, e a Angela
Merkel, a chanceler alemã, para cobrar ação forte e rápida.
A ação veio, foi realmente
forte, mas o receio de um calote
não desapareceu do horizonte.
Kenneth Rogoff, que já foi economista-chefe do FMI, dizia
ontem à BBC que a Grécia, pelo
menos, ainda terá que reestruturar a sua dívida, e talvez também Portugal e Espanha.
FOLHA ONLINE
Ouça comentário de
Vinicius Torres Freire
www.folha.com.br/1013014
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