São Paulo, Terça-feira, 11 de Maio de 1999
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AUTOMÓVEIS
"Abrir" balanços é condição para novo acordo
Montadora só aceita auditoria parcial

FERNANDO GODINHO
da Sucursal de Brasília

Na reunião que terá hoje com o governo para discutir um novo acordo emergencial para o setor automotivo, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) defenderá uma "auditoria parcial" no balanço das empresas do setor.
O novo acordo terá como base uma auditoria nos balanços das montadoras, conforme disse na semana passada o secretário de Política Industrial do Ministério do Desenvolvimento, Hélio Mattar.
Com a auditoria, o governo quer verificar se a desvalorização do real justifica os aumentos de até 9,98% anunciados na semana passada pelas montadoras.
A Folha apurou que a Anfavea só admite liberar informações sobre os custos com fornecedores -mais precisamente, as compras de componentes importados destinados aos carros produzidos no país- e sobre o efeito dessas despesas nas suas tabelas de preço.
A desvalorização do real foi a principal justificativa das montadoras para aumentar seus preços, o que inviabilizou a prorrogação do acordo (que previa a redução das alíquotas do IPI e descontos por parte da indústria).
O governo quer saber qual será a rentabilidade das empresas com os novos preços. Caso a auditoria mostre que a rentabilidade proporcionada pelos aumentos será maior que o padrão internacional (entre 14% e 17% do patrimônio líquido, segundo Mattar), o governo suspenderá as negociações.
Com uma rentabilidade abaixo ou igual a esse padrão internacional, o governo admite manter a redução no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), apesar dos novos preços.
Seria negociado um pequeno aumento da alíquota em relação ao percentual vigente durante o acordo (5% para carros populares e 17% para carros médios).
A recusa da Anfavea em abrir indiscriminadamente os balanços das montadoras se deve a dois motivos, conforme apurou a Folha.
A entidade sabe que as montadoras não admitem revelar dados estratégicos contidos nos seus balanços para outras empresas do setor.
Além disso, uma auditoria generalizada nos balanços passaria a impressão de que a idoneidade do setor está sendo questionada.
O IPI com alíquotas reduzidas tem validade até o próximo dia 17. Na sexta-feira passada, o governo publicou um decreto prorrogando para o próximo dia 26 a vigência do IPI reduzido.
O decreto atropelou as negociações que estão sendo feitas por Hélio Mattar. A revogação do decreto foi publicada na edição de ontem do "Diário Oficial" da União.
Os sindicalistas que participam da reunião de hoje vão tentar garantir a prorrogação do acordo por um período maior. Eles querem uma validade de 120 dias, o que garantiria o emprego nas fábricas praticamente até o final do ano.


Colaborou Mauricio Esposito, da Reportagem Local

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