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ARTIGO
Caminho para a prosperidade é a inovação e não a competição
MARTIN WOLF
DO "FINANCIAL TIMES"
O crescimento econômico sustentado e sua distribuição desigual ao longo do planeta são as características mais importantes do mundo contemporâneo. Elas
explicam as alterações no poder relativo dos países, a combinação
de riqueza sem precedentes e pobreza continuada, a natureza da
guerra moderna, a ascensão da democracia e a frustração que boa
parte do mundo islâmico sente.
Ao longo dos dois últimos séculos, a renda média per capita real
subiu em mais de 2.000% nos países mais ricos do mundo. Na verdade, é provável que o ganho tenha sido ainda maior. Esse crescimento foi mais rápido no século
20 do que no 19, e mais rápido na segunda metade do século 20 do
que em qualquer outro período da história.
No entanto, os economistas não obtiveram sucesso em explicar essa revolução que transformou o mundo. Isso, no entanto, começa a mudar. O brilhante livro "The
Free-Market Innovation Machine: Analyzing the Growth Miracle of
Capitalism" (Princeton University
Press, 2002), de William Baumol,
professor emérito da Universidade de Princeton, ilumina com
grande clareza as origens do crescimento. Ele se baseia nas percepções de Joseph Schumpeter, o economista austríaco, para expor a
máquina que propele o capitalismo. Ao fazê-lo, explica por que, no
século passado, a economia de
mercado enterrou o socialismo
-o reverso daquilo que Nikita
Khruschov, o líder soviético, afirmou que aconteceria.
Se tivéssemos apenas as tecnologias de 1800, hoje, pequena parte
do crescimento dos dois últimos
séculos teria ocorrido. No entanto,
diferentemente do que supõem
virtualmente todos os modelos
econômicos, esse dilúvio de inovações não foi um presente dos
céus. O professor Baumol argumenta, em lugar disso, que a inovação, e não a competição de preços, é a característica central do
processo de mercado. A competição força as empresas a investir
em inovação. Caso não o façam,
correm o risco de ficarem para trás
e serem, por fim, expulsas dos
mercados a que atendem.
Até mesmo os heróis da invenção não surgem de fora do mercado. Thomas Edison foi um inventor e inovador excepcional. Mas
era também um homem de negócio. Um de seus legados foi o conceito de pesquisa e desenvolvimento em si, que transformou em
rotina a atividade de inovação. Em
um desdobramento mais recente,
estimulado pelas forças de mercado, o setor de capital para empreendimentos está fazendo por
empresários e inovadores individuais o que as grandes empresas
há muito tempo fazem por suas
equipes de pesquisa.
A inovação, portanto, faz parte
da estrutura do capitalismo. Vastos benefícios atingem a todos. Os
inovadores individuais obtêm, no
máximo, um quinto dos benefícios econômicos que eles geram,
argumenta o professor Baumol.
Por que a máquina da inovação
demorou tanto a surgir? A resposta é que a energia empresarial costumava ser canalizada para a
"busca de renda fixa". Em sua forma menos daninha, aquele que
busca a renda é um parasita. Na
mais prejudicial, é um bandido ou
invasor. Na Roma antiga e na China clássica, o comércio era a maneira menos honrada de enriquecer. Por trás dos inimigos do capitalismo moderno pode-se discernir preferência semelhante pelo
burocrata, sacerdote ou guerreiro
em relação ao mercador "suga-dinheiro" e sua cultura de cálculo racional da cobiça.
A condição necessária para o
surgimento de uma economia de
mercado que recompense os empreendedores que introduzam
inovações produtivas é simplesmente o domínio da lei. Como
afirma o professor Baumol, "não
existe ocupação cujo produto econômico total seja maior do que o
dos advogados", ainda que, igualmente, "não exista nenhuma cuja
contribuição marginal seja menor". Nos Estados Unidos, pelo
menos, ela deve ser negativa.
Uma preocupação já antiga
quanto à inovação, entre os economistas, é o fato de que ela cria
monopólios. A possibilidade de
criar um monopólio protegido pela lei oferece o incentivo para a
inovação. Mas seria melhor se as
inovações fossem tão amplamente
difundidas quanto possível ao longo da economia.
Assim, paradoxalmente, a maior
realização do mercado o torna
menos eficiente.
O professor Baumol argumenta
que essas preocupações são exageradas. Um estudo de 46 importantes produtos inovadores sugere
que o tempo que demora para que
surjam concorrentes em um determinado mercado caiu de uma
média de 33 anos na década de
1880 para três anos agora. No entanto, o incentivo para inovar não
parece ter sido solapado. As atividades de pesquisa e desenvolvimento cresceram em 700% nos
Estados Unidos, em termos reais,
dos anos 50 para cá.
A explicação, sugere Baumol, é
que o mercado mesmo encontrou
maneiras de combinar inovação e
difusão. Dois desses métodos são
o licenciamento e os consórcios de
troca de tecnologias. Se o preço valer a pena, é interessante oferecer
tecnologia para outras empresas.
O resultado será uma difusão rápida da tecnologia pela economia
como um todo, e sem perda do incentivo para que se crie.
Toda essa maneira de pensar sobre a economia coloca em destaque dois importantes debates contemporâneos. Primeiro, sugere
que abrir os mercados mundiais é
ainda mais importante do que se
supõe, porque isso aumenta a
pressão competitiva sobre as empresas inovadoras.
Segundo, desde que uma economia ofereça ambiente no qual empresas possam funcionar, o debate
sobre os detalhes da governança
corporativa talvez não seja tão importante. Todas as empresas devem gerar receita que cubra o custo de seus insumos ou perecerão.
Assim, a competição entre as empresas inovadoras pode, com o
tempo, eliminar os modelos corporativos fracassados. Mas talvez
não exista um vencedor único. As
companhias japonesas e alemãs,
dominadas por alguns poucos indivíduos privilegiados, podem
continuar a se sair melhor em alguns mercados, enquanto as norte-americanas, dominadas por
acionistas, terão vantagem em outros.
O que torna o capitalismo singularmente bem-sucedido é a pressão que ele incorpora pela geração
de novos produtos e processos.
Desde que as empresas sejam forçadas a concorrer, o mercado encontrará maneiras de gerar e difundir uma sequência infinita de
inovações.
O resultado talvez não seja perfeito, mas é e tem sido imensamente mais frutífero do que qualquer alternativa concebível.
Tradução de Paulo Migliacci
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