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São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 2003

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AUTONOMIA NA MIRA

Presidente da instituição volta a descartar atuação política para definir juros, defendida por Alencar

BC obedece a critério técnico, diz Meirelles

Alan Marques/Folha Imagem
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A uma semana da reunião que decidirá se os juros básicos da economia serão ou não reduzidos, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ontem que as ações do BC são realizadas com base em critérios técnicos, e não políticos.
"Nenhum banco central do mundo pode agir de forma política, qualquer que seja sua decisão. Estamos aqui no espaço da técnica e da racionalidade econômica", afirmou Meirelles durante a abertura de um seminário, promovido pela Câmara dos Deputados, que discutia a proposta de conceder autonomia ao BC.
Recentemente, a manutenção dos juros em nível elevado tem provocado divergências dentro do próprio governo, com o vice-presidente da República, José Alencar, defendendo uma saída política que permita a queda das taxas. Na próxima quarta-feira, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) se reúne para discutir se reduz ou não a taxa Selic, hoje em 26,5% ao ano.
Meirelles negou, porém, que estivesse respondendo às críticas de Alencar. "Não é uma resposta. É meramente uma explanação, para servir de subsídio à discussão desse assunto", disse o presidente do BC ao ser questionado por jornalistas enquanto deixava o seminário.
Também participaram do evento os economistas Paulo Nogueira Batista Jr. (professor da Fundação Getúlio Vargas), Ibrahim Eris e Carlos Langoni (ambos ex-presidentes do BC), além do ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros.
Meirelles, porém, só participou da abertura do evento e não permaneceu para os debates que se seguiram. O deputado Delfim Netto (PP-SP) foi um dos mediadores do evento (leia texto nesta página).
O vice-presidente da República tem criticado a atuação do BC no que diz respeito à definição da taxa básica de juros, que, segundo Alencar, é uma das principais causas do desaquecimento da economia. No primeiro trimestre, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro recuou 0,1% quando comparado com o resultado dos últimos três meses de 2002.

Descontentamento
Embora Alencar seja um dos que mais expressa publicamente seu descontentamento, outros membros do governo também concordam com a tese de que os juros elevados estão impedindo a retomada do crescimento econômico. O ministro José Dirceu (Casa Civil), por exemplo, já chegou a expor essa preocupação em reunião da Executiva do PT sem saber que o evento estava sendo transmitido ao vivo.
A taxa Selic é utilizada nas transações feitas entre bancos e, por isso, serve de referência para as demais operações de crédito realizadas no país. Pela legislação em vigor atualmente, a definição dessa taxa é responsabilidade exclusiva dos diretores e do presidente do BC, que se reúnem mensalmente para discutir o assunto.
Mesmo com as críticas de membros do governo, o BC já elevou os juros em 1,5 ponto percentual neste ano. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem procurado desviar o foco das discussões, afirmando que o problema não está na taxa Selic, e sim nos juros cobrados pelos bancos nos créditos concedidos a empresas e pessoas físicas.
No caso do cheque especial, por exemplo, os juros chegam a 178,5% ao ano, segundo levantamento feito pelo BC.


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