São Paulo, quinta, 11 de junho de 1998

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BANCOS
Sócio admite que problema na Ásia "foi um catalisador da decisão"; pagamento inclui parte fixa e outra variável
Crise asiática acelerou venda do Garantia

VANESSA ADACHI
da Reportagem Local

A crise asiática de outubro ajudou os sócios do banco de investimentos Garantia a tirar a instituição da encruzilhada em que se encontrava há algum tempo: se tornar um banco global, com ampla capacidade de distribuição e custos diluídos, ou se restringir a ser um banco de nicho. Basicamente, o dilema atual de todas as instituições semelhantes a ele.
Depois dos prejuízos na crise -US$ 110 milhões na matriz brasileira-, os sócios ficaram com a primeira opção e cederam ao assédio de um dos maiores bancos de investimentos do mundo, o Credit Suisse First Boston.
"A crise foi um catalisador da decisão. Não porque tenha criado um problema financeiro. O banco não quebrou. Mas foi a primeira crise que não teve relação com os fundamentos da economia do país e nos fez pensar nos prós e contras da venda", disse Carlos Eduardo Castanho, um dos sócios que está vendendo sua participação, durante o anúncio da transação.
Já o principal executivo do Credit Suisse, Lukas Muhlemann, disse que a aquisição do grupo Garantia "caiu como uma luva" nos planos estratégicos do grupo suíço na América Latina.
Falando em Zurique (Suíça), durante teleconferência internacional sobre a aquisição, Muhlemann disse que o grupo fará de São Paulo "o eixo" de suas atividades na América Latina, oferecendo aos investidores estrangeiros cada vez mais acesso ao mercado brasileiro.
"O Garantia é uma plataforma sem rival para consolidar a liderança do grupo na América Latina no próximo milênio", afirmou.
O negócio, talvez o mais esperado da história recente do mercado bancário brasileiro, foi fechado na terça-feira, depois de quase cinco meses de namoro.
Para a venda do Garantia, incluindo a corretora e a distribuidora de valores e o banco nas Bahamas, foi desenhado um sofisticado plano de pagamento, com uma parte fixa e outra variável.
Na fixa, serão pagos US$ 675 milhões, sendo US$ 200 milhões em dinheiro e US$ 475 milhões em ações do grupo Credit Suisse. As ações serão liberadas em quatro parcelas no prazo de três anos. Esse número é muito pouco superior ao valor patrimonial do grupo, de US$ 600 milhões.
A parte móvel do pagamento, cujos detalhes são mantidos em segredo, variará de acordo com o desempenho alcançado pelo banco nos próximos três anos. Carlos Castanho não fez estimativas do rendimento adicional que isso poderá gerar aos sócios.
A Folha apurou que o valor final investido pelo Credit Suisse pode passar de US$ 1 bilhão até 2001.
Tomando o valor do Credit Suisse na Bolsa de Zurique, em torno de US$ 50 bilhões, as ações que serão transferidas aos sócios darão a eles quase 1% do grupo.
Além dos 19 sócios, um grupo de 94 funcionários do banco, do total de 300, foi selecionado para fazer parte de um programa de retenção. A idéia é reter as pessoas-chave. Também eles serão bonificados em função do desempenho e receberão ações do grupo.
Lukas Muhlemann disse que o grupo suíço espera obter uma taxa de retorno de 15% a 20%, dentro de três anos, do investimento para a aquisição do grupo brasileiro e que o custo da integração será de US$ 30 milhões a US$ 35 milhões.
Conforme o esperado, deixam o banco Jorge Paulo Lemann, Cláudio Haddad, Marcel Hermann Telles e Carlos Alberto Sicupira. Saem também Fred Packard e Guilherme Arinos, pai do presidente do BC, Gustavo Franco.
Lemann terá um cargo no conselho do CSFB. Telles continuará presidindo a Brahma, e Sicupira permanecerá como principal executivo da GP Participações, empresa de participações dos sócios mais antigos do banco.
Mesmo os outros 13 sócios que ficam no banco, com Fernando Prado à frente, também venderam suas participações e passam a ser executivos do CSFB.
Ainda não se sabe quem presidirá a instituição, mas Lukas Muhlemann informou que um membro do conselho mundial de administração do CSG será indicado para conduzir as atividades no Brasil.


Colaborou Antonio Carlos Seidl, da Reportagem Local




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