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São Paulo, sexta-feira, 11 de julho de 2003

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LUÍS NASSIF

O circuito do dólar

Vamos a mais alguns detalhes sobre o mercado de dólares, a partir das análises remetidas à coluna por um estudioso da área.
O esquema da conta CC-5 na fronteira com o Paraguai é feito geralmente em nome de uma "offshore", representada legalmente no país por um "laranja". A vantagem do esquema de fronteira é que tudo se faz sob a capa do comércio das cidades fronteiriças, cujo movimento legitimo é misturado ao financeiro puro vindo do Brasil.
Essas remessas são feitas, em geral, via cabo por meio de casas especializadas de Nova York. A maior delas é o MTB Bank, anteriormente a casa de câmbio Manfra, Tordella & Brooks. O MTB abre uma conta em um banco maior, tipo Chase. A mesa do Brasil ou do Paraguai tem uma "offshore" própria que mantém a conta-mãe no MTB. Sob esse guarda-chuva abrem-se subcontas para os doleiros varejistas clientes da mesa grande, explica o analista. Sob a conta Paradise Trade and Finance Co., que representa uma grande mesa de Assunção, existe a subconta Siboney, de um doleiro de São Paulo que opera com a mesa de Assunção. Trata-se de um jogo fundado na confiança recíproca entre as partes e que, eventualmente, pode resultar na quebra de um ou outro.
As grandes quebras ocorrem por outro motivo. Como existe um "float" considerável entre a ordem de transferência e a liquidação efetiva, o grande operador às vezes sucumbe à tentação de especular com recursos de terceiros. Foi o que aconteceu com grandes casas, ainda maiores do que o MTB, como a Deak, Pereira & Co. e a Piano Internacional Financial Corp. A quebra da Piano fez investidores brasileiros perderem mais de US$ 100 milhões.
Todo esse circuito refere-se a um mercado secundário de fuga de capitais. O circuito master é outro, diz o analista. Uma operação de recompra de bônus de emissão privada com desconto de 60%, comum no mercado, provoca fuga de US$ 30 milhões para uma emissão de US$ 50 milhões. O BC permite a remessa no vencimento do integral, bem como dos respectivos juros, legalizando a fuga do deságio, que nem precisa ser lavado.
Os menos sofisticados usam os bancos com vínculos com o Brasil, como o Delta, o Pine, o Safra National, o Espírito Santo, todos com grandes operações em Miami. Em Nova York, o maior depositário de fundos brasileiros era o Republic National Bank of New York, controlado pelo brasileiro Edmond Safra, seguido do Commercial Bank of New York, do filho do ex-banqueiro Edmundo Safdié.
Ambos foram vendidos e seguramente parte de seus depósitos migrou para outros bancos, principalmente para o Safra National Bank of New York, hoje com quase US$ 10 bilhões de depósitos, e para o português Banco Espírito Santo.
A grande indústria de private banking, que administra US$ 3 trilhões de dinheiro provindo de fuga de capitais, está em processo de grandes mudanças, em razão da luta internacional contra as drogas e o terrorismo. O governo brasileiro deve acompanhar atentamente essas mudanças porque elas refletem sobre nosso mercado de câmbio -e é dentro desse contexto que se devem enfocar as operações Banestado, sugere o analista.

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