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LUÍS NASSIF
O circuito do dólar
Vamos a mais alguns detalhes sobre o mercado de
dólares, a partir das análises
remetidas à coluna por um estudioso da área.
O esquema da conta CC-5 na
fronteira com o Paraguai é feito geralmente em nome de
uma "offshore", representada
legalmente no país por um "laranja". A vantagem do esquema de fronteira é que tudo se
faz sob a capa do comércio das
cidades fronteiriças, cujo movimento legitimo é misturado ao
financeiro puro vindo do Brasil.
Essas remessas são feitas, em
geral, via cabo por meio de casas especializadas de Nova
York. A maior delas é o MTB
Bank, anteriormente a casa de
câmbio Manfra, Tordella &
Brooks. O MTB abre uma conta em um banco maior, tipo
Chase. A mesa do Brasil ou do
Paraguai tem uma "offshore"
própria que mantém a conta-mãe no MTB. Sob esse guarda-chuva abrem-se subcontas para os doleiros varejistas clientes
da mesa grande, explica o analista. Sob a conta Paradise Trade and Finance Co., que representa uma grande mesa de Assunção, existe a subconta Siboney, de um doleiro de São Paulo que opera com a mesa de Assunção. Trata-se de um jogo
fundado na confiança recíproca entre as partes e que, eventualmente, pode resultar na
quebra de um ou outro.
As grandes quebras ocorrem
por outro motivo. Como existe
um "float" considerável entre a
ordem de transferência e a liquidação efetiva, o grande operador às vezes sucumbe à tentação de especular com recursos de terceiros. Foi o que aconteceu com grandes casas, ainda
maiores do que o MTB, como a
Deak, Pereira & Co. e a Piano
Internacional Financial Corp.
A quebra da Piano fez investidores brasileiros perderem
mais de US$ 100 milhões.
Todo esse circuito refere-se a
um mercado secundário de fuga de capitais. O circuito master é outro, diz o analista. Uma
operação de recompra de bônus de emissão privada com
desconto de 60%, comum no
mercado, provoca fuga de US$
30 milhões para uma emissão
de US$ 50 milhões. O BC permite a remessa no vencimento
do integral, bem como dos respectivos juros, legalizando a
fuga do deságio, que nem precisa ser lavado.
Os menos sofisticados usam
os bancos com vínculos com o
Brasil, como o Delta, o Pine, o
Safra National, o Espírito Santo, todos com grandes operações em Miami. Em Nova
York, o maior depositário de
fundos brasileiros era o Republic National Bank of New
York, controlado pelo brasileiro Edmond Safra, seguido do
Commercial Bank of New
York, do filho do ex-banqueiro
Edmundo Safdié.
Ambos foram vendidos e seguramente parte de seus depósitos migrou para outros bancos, principalmente para o Safra National Bank of New
York, hoje com quase US$ 10
bilhões de depósitos, e para o
português Banco Espírito Santo.
A grande indústria de private
banking, que administra US$ 3
trilhões de dinheiro provindo
de fuga de capitais, está em
processo de grandes mudanças,
em razão da luta internacional
contra as drogas e o terrorismo.
O governo brasileiro deve
acompanhar atentamente essas mudanças porque elas refletem sobre nosso mercado de
câmbio -e é dentro desse contexto que se devem enfocar as
operações Banestado, sugere o
analista.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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