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G14 entra em cena nas cúpulas globais
Representantes dos países mais ricos concluem que G8 não é "idôneo" e que diálogo ampliado com emergentes passa a ser "parceria estável"
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ÁQUILA
A anunciada morte do G8
acabou sendo sacramentada
ontem pelo país que é o presidente de turno do grupo, a Itália, ao mesmo tempo em que se
emitia o atestado de nascimento do sucessor, um certo G14,
que, no entanto, é apenas uma
etapa rumo ao que um centro
de estudos norte-americano
prefere chamar de Gx.
O G8 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino
Unido, Itália, Canadá e Rússia)
não é idôneo, decretou Silvio
Berlusconi, o premiê italiano.
Nada que outros líderes de países-membros, como a alemã
Angela Merkel e a ministra
francesa da Economia, Christine Lagarde, já não tivessem dito antes.
Como se esperava pouco ou
nada da cúpula do G8 de Áquila,
o atestado de óbito acaba sendo
significativo porque começa a
mudar a governança global.
Muda para G14 (o G8 mais
Brasil, Índia, China, África do
Sul, México e Egito, incluído
neste ano no grupo chamado
G5, a convite da Itália. Uma vez
dentro, ninguém mais tira, o
que eleva o número do novo G
para 14).
O resumo das cúpulas, emitido pelo presidente, Silvio Berlusconi, é embrulhado na sempre nebulosa linguagem diplomática. Não fala em G14, mas
diz que o diálogo com o G5, agora ampliado ao Egito, iniciado
em 2007, muda agora "para
uma moldura de parceria estável e estruturada".
Trocando em miúdos: os 14
vão ter um processo de reuniões setoriais prévias à sua cúpula anual, tal como ocorreu
até agora com o G8.
Ambiciosa missão da nova
diretoria informal do planeta,
sempre de acordo com o resumo do presidente: "Contribuir
para fortalecer a governança
global e conjuntamente moldar
o futuro".
O presidente Barack Obama,
que, apesar das turbulências
nos Estados Unidos, continua
sendo o número 1 de qualquer
G, explicou assim a necessidade
de ampliar as fronteiras da gerência global além do clubinho
restrito do G8: "Nenhuma nação pode enfrentar os desafios
sozinha".
E passou a listar os tremendos desafios à frente: "A ameaça de mudança climática não
pode ser contida por fronteiras
em uma mapa, e o roubo de materiais nucleares mal controlados poderia levar ao extermínio
de qualquer cidade na Terra.
Ações descuidadas de uns poucos serviram de combustível
para uma recessão que abrangeu o globo, e o aumento dos
preços dos alimentos significa
que 100 milhões de nossas cidadãos cairão em desesperada
pobreza".
Mas Obama também disse
que é um "momento de transição" no sistema de governança
global, o que parece dar razão a
um estudo da Fundação Stanley (EUA) que defende um
mecanismo que chama de Gx.
"Queremos que o Gx inclua
mais das novas nações poderosas do mundo, particularmente
aquelas que não têm voz no
Conselho de Segurança da
ONU ou no atual G8."
Obama, aliás, concorda com
um papel mais forte para a
ONU. "Dou um forte respaldo à
ONU, mas ela tem que ser reformada e revitalizada. (...)Ter
continentes inteiros como a
África e a América Latina sem
representação adequada nesses grandes fóruns internacionais e corpos decisórios não vai
funcionar".
Música para os ouvidos do
Brasil.
"Não podemos ter a pretensão de que [os vários Gês] substituam os foros globais e democráticos. É fundamental a participação da ONU", diz o chanceler Celso Amorim.
Mas, enquanto não se reforma a ONU, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva é bastante
franco: "Se eu tivesse que escolher entre o G14 e o G20, ficaria
com o G20, que tem mais representatividade".
O G20, até agora, focou apenas a crise econômica, tanto
que Lula acha que é preciso
"valorizar o grupo, pelo menos
até que toda a discussão [sobre
a crise] esteja encerrada".
Mas em Áquila deu-se um
passo para introduzir no G20
também o componente político-estratégico: o prazo para
que o Irã aceite renunciar ao
uso militar da energia nuclear
vai até a cúpula do G20 em setembro.
"Nós avaliaremos a situação
no encontro de setembro", antecipa Obama.
O Brasil demonstra consciência de seu novo papel na gerência informal planetária: o
presidente Lula disse ontem
que gostaria de convencer seu
colega iraniano Mahmoud Ahmadinejad de que deve fazer
"como faz o Brasil", ou seja,
usar a energia nuclear apenas
para fins pacíficos.
Mas, com tantos gês e tantas
cúpulas, bateu uma certa fadiga, a ponto de Obama ter dito
que, em seus "apenas seis meses no cargo, houve uma porção
delas. Temos que ter menos cúpulas e torná-las mais efetivas".
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