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São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 2003

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MARCHA LENTA

Estudo do Iedi mostra que a fabricação de eletroeletrônicos, cimento e produtos farmacêuticos volta aos níveis de 1991

Produção da indústria já regride 12 anos

CÍNTIA CARDOSO
JOSÉ ALAN DIAS

DA REPORTAGEM LOCAL

O declínio de atividade no primeiro semestre levou alguns setores da indústria a amargar níveis de produção semelhantes ou mesmo inferiores aos que apresentavam uma década atrás.
Estudo elaborado pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) mostra que a produção de eletroeletrônicos, produtos farmacêuticos, cimento e artigos de materiais plásticos regrediu ao mesmo patamar de 1991. A produção de eletroeletrônicos está só 2,27% acima da do primeiro semestre daquele ano. Se comparada à do primeiro semestre de 2002, caiu 22%.
Além do recuo do volume produzido, o complexo eletroeletrônico também sofre com o desequilíbrio na balança comercial. "Temos um déficit de aproximadamente R$ 7 bilhões", diz Milton Campanário, professor da USP.
A CCE, por exemplo, tem capacidade ociosa de 65%. "Há dez anos, produzíamos 11 milhões de TVs por ano. "Hoje, o número caiu para 4 milhões", diz Synésio Batista, vice-presidente de relações institucionais da empresa. "Não há campanha de marketing que faça o cliente entrar na loja com essa taxa elevadíssima de juros e com a economia parada."
Na avaliação de Mario Salerno, diretor de estudos setoriais do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), mais do que um melhor cenário macroeconômico, o setor eletrônico precisa é de políticas mais abrangentes.
"Determinados nichos do complexo eletrônico precisam de uma política industrial dirigida. Essa política precisa ser sustentada por medidas de infra-estrutura, educação da mão-de-obra, desenvolvimento regional, distribuição de renda e defesa da concorrência."
Declínio mais profundo acompanhou o setor de vestuário (e correlatos, como fiação e tecelagem). Hoje, a produção de vestuários é 36% inferior à do início dos anos 90. Em relação ao primeiro semestre do ano passado, houve recuo de 20,65%.
""O maior drama do setor de vestuário é que ele não é capitalizado. Vive do faturamento com cada coleção", diz Roberto Chadad, presidente da Abravest (associação das empresas). Do universo de 170 mil empresas do setor no país, não mais que 3% são grandes empresas, com maior acesso a crédito, afirma Chadad.
Segundo o executivo, o ápice do setor ocorreu em 1986, quando foram confeccionados 5,7 bilhões de peças -a produção fora estimulada pelo aumento de renda dos trabalhadores propiciado pelo congelamento de preços e por reajuste real de 5,7% nos salários.
Em 1998, a produção estava em 5,3 bilhões de peças. No ano passado, não passou de 4,7 bilhões. Para 2003, o setor depende do aquecimento da demanda neste semestre para, ao menos, repetir o desempenho de 2002.
Fabricantes de equipamentos para produção e distribuição de energia elétrica tampouco permaneceram imunes neste ano. O nível de produção é 35% menor do que o registrado em 2001 -auge do faturamento das empresas, fomentado pela necessidade de investimentos pela ameaça do apagão. É também inferior, em 33%, ao do primeiro semestre de 2002. Para analistas, o tombo tem como uma das causas a crise por que passam as distribuidoras.
Com desempenho diretamente ligado ao de setores essenciais da economia, como a indústria civil e o de infra-estrutura, a indústria de cimento registra nível de produção 7,7% acima do de 12 anos atrás -confrontada com 2002, a produção recua 11,7%.
""O setor apenas reflete a falta de investimento na construção civil e em infra-estrutura", argumenta José Otávio Carvalho, secretário-executivo do Snic (Sindicato Nacional da Indústria do Cimento).
Em 1999, mesmo com a desvalorização do real, o consumo do produto no mercado brasileiro somou 40,2 milhões de toneladas -impulsionado pela construção civil, a chamada indústria formal, e o consumo informal, de pequenas obras e reformas.
Desde 2000, a queda tem sido progressiva: de 39,3 milhões para 38,4 milhões, em 2001, e 37,9 milhões de toneladas no ano passado. De janeiro a junho, segundo o sindicato, a demanda interna do produto caiu 10,4%.
""O mais alarmante é a discrepância entre setores que cresceram muito e os que caíram muito", diz Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi. ""Os setores que dependem do mercado interno e não estão ligados à agricultura passam por uma situação crítica nos últimos quatro anos", completa.

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