São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 2008

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Custo do frete aumenta até 150% no ano

Valor pago pelos exportadores para o transporte marítimo está no nível mais alto da história, puxado pelos reajustes do petróleo

Além do aumento de gastos, vendas externas enfrentam gargalos de infra-estrutura e câmbio adverso; importações também ficam mais caras

Moacyr Lopes Jr. - 12.abr.08/Folha Imagem
Operação de transporte de cargas no porto de Santos (SP)

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Além da vida mais difícil por causa do câmbio e da infra-estrutura precária, os exportadores brasileiros começam a desembolsar mais com os fretes. Somente neste ano, os custos para o transporte marítimo das exportações subiram entre 57% (no caso dos automóveis) e 150% (para o minério de ferro, principal produto embarcado nos portos do país).
O aumento dos fretes vem embalado pela explosão dos preços do petróleo no mercado internacional nos últimos meses. Segundo levantamento do Ministério do Desenvolvimento, cada US$ 10 de alta na cotação do barril representa elevação de US$ 500 por dia no frete de navios cargueiros. Nos últimos 12 meses, o petróleo passou de US$ 71,47 para US$ 115,20 no pregão de Nova York. Nesse período, a cotação chegou a ultrapassar os US$ 145.
Os valores de frete cobrados hoje no país são os mais altos da história. E isso significa maior dificuldade no comércio. Estudo do CIBC (Banco Canadense Imperial de Comércio, na sigla em inglês) indica que esses custos já representam uma tarifa adicional de 9% sobre os produtos comercializados.
A situação no Brasil se torna mais caótica quando o aumento do frete encontra os gargalos de infra-estrutura dos portos. Segundo o consultor de Logística da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), Luiz Antônio Fayet, a infra-estrutura deficiente causou prejuízo de US$ 3 bilhões a US$ 5 bilhões na recente safra colhida, com o pagamento de multas e taxas por causa de atrasos em embarques e desembarques.
Para o ano que vem, a estimativa é a de que 3 milhões de toneladas de milho e soja deixem de ser plantadas, dadas as dificuldades de escoar a produção. Os dois itens representam 83% da produção total de grãos atual. A soja alcançou 60,1 milhões de toneladas, e o milho, 58,5 milhões de toneladas.
"Os custos do frete já estão provocando redução da produção de soja e milho em vários Estados. Estamos condenando a produção agrícola", afirma.
No ano passado, cerca de 3 milhões de toneladas de soja precisaram ir de caminhão de São Luís (MA) para Santos (SP) e Paranaguá (PR) para serem embarcadas ao exterior.
Industriais e produtores agrícolas também pagam nas importações pelo aumento do frete. As fábricas trazem insumos, como produtos químicos e equipamentos. O campo precisa de fertilizantes, que pagaram US$ 150 milhões em taxas portuárias em 2007 pelas filas para conseguir desembarcar.
Diante dos gastos maiores para exportar e do aumento do consumo no Brasil, a indústria enfrenta quase semanalmente o dilema sobre vender para fora ou no país. "Esse jogo você vai adaptando diariamente. Quando se torna gravoso exportar, ou o empresário suspende, e tem de trabalhar para o mercado interno, ou reduz a produção", afirmou o presidente do Conselho Temático de Infra-Estrutura da CNI (Confederação Nacional da Indústria), José de Freitas Mascarenhas. O setor que sente mais rapidamente a alta nos custos, diz ele, é o químico, que depende de produtos do exterior.
A dificuldade também é maior, segundo o Ministério da Agricultura, porque 40% da frota mundial de navios cargueiros está em construção. As novas embarcações ficarão prontas em três a cinco anos.
Para Flávio Benatti, presidente da Associação Nacional do Transporte de Carga e Logística, o caminho natural é o consumidor pagar a conta. "Nenhuma empresa de transporte tem gordura suficiente para absorver esse aumento."

Geografia
Para o governo brasileiro, o setor privado vai ter de lidar com novos patamares de preços. "Acabou a época do petróleo de US$ 30. O primeiro desafio é reavaliar o grau de competitividade por conta da geografia. A geografia voltou ao cálculo das empresas de comércio exterior, mesmo com a globalização", diz Welber Barral, secretário de Comércio Exterior.
Uma forma de reagir aos custos maiores, segundo ele, é investir em mercados regionais, mais próximos e menos caros de abastecer. Uma saída alternativa será regionalizar a produção, aproximando as fábricas do produto final e a linha de montagem de suas peças.
"Vai ser preciso rever a estratégia, seja na importação de matéria-prima, seja na montagem do produto com insumos importados, diminuindo a diversidade de fontes muito distantes com um modelo "just in time", sem custo de armazenamento", avalia Barral.
Um terceiro efeito do aumento registrado nos fretes, na avaliação do governo, será a possibilidade de ganho de competitividade da indústria para o fornecimento de insumos nacionais, já que os importados ficarão mais caros. "No caso de insumos, existe um risco grande de se importar inflação", afirma o secretário.


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