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OPINIÃO ECONÔMICA
O que não fazer
GESNER OLIVEIRA
A recuperação da economia em uma conjuntura de
elevação de preços de matérias-primas e precariedade da infra-estrutura gera preocupação legítima com o aumento da inflação. A
primeira tarefa a ser feita é descartar falsas soluções.
Há pelo menos três caminhos
equivocados. O primeiro deles é a
opção que estará na mesa do Copom (Comitê de Política Monetária) na semana que vem de elevar
a taxa de juros para conter um
suposto excesso de demanda e,
dessa forma, assegurar o cumprimento da meta de 4,5% de inflação para 2005.
Uma elevação da taxa de juros
nas atuais circunstâncias representaria uma ducha de água fria
para a retomada da economia.
Essa alternativa emitiria um sinal negativo para o investimento
produtivo, algo diametralmente
oposto àquilo que se deseja. A
maior dificuldade no momento é
precisamente superar a relutância das empresas em ampliar a
capacidade, evitando que os gargalos setoriais ocorram ou se
agravem nos próximos 18 meses.
O aumento da taxa de investimento constitui uma das condições fundamentais para que a
atual recuperação se transforme
em um crescimento sustentado.
O custo de uma elevação marginal da taxa Selic em termos de sinalização negativa para o investimento seria alto se comparado
àquilo que essa opção poderia
ajudar para diminuir a inflação.
Se o pior acontecer e o petróleo
atingir US$ 50 barril de forma
sustentada, o jogo será outro.
Mas, nesse caso, não será 0,25 ou
0,5 ponto na taxa primária de juros que vai resolver o problema.
O segundo caminho equivocado
é o da promoção de um suposto
pacto social que chegou a ser veiculado pelas lideranças da CUT
(Central Única dos Trabalhadores) e da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo)
como forma de moderar a evolução dos custos salariais. Tal proposição ignora a brutal heterogeneidade das categorias envolvidas, bem como a histórica falta de
representatividade das organizações de classe no Brasil. Não se
consideram a impossibilidade de
um mecanismo desse tipo conviver com o atual sistema de metas
de inflação nem o anacronismo
de uma volta ao passado de monitoramento e controle de preços.
Além disso, assim como no caso
de uma elevação marginal do juro primário, tal proposta não resolveria o problema. As principais
pressões de custo não residem na
mão-de-obra, mas no custo de
matéria-prima.
O terceiro caminho equivocado
seria a alteração dos impostos de
importação e de exportação de
forma a baratear as compras externas e reorientar a produção
para o mercado interno. A exemplo da elevação dos juros, tal proposta emite o sinal trocado. Pretende-se que as empresas gerem
capacidade produtiva para exportar aumentando o seu coeficiente de abertura em caráter permanente. Há indícios de que isso
já esteja ocorrendo em vários segmentos. Uma mudança nas regras do jogo poderia colocar tudo
a perder.
Uma intervenção arbitrária diminuindo artificialmente a rentabilidade de algumas exportações afetaria negativamente as
expectativas do conjunto dos exportadores sem benefícios expressivos em termos de aumento da
oferta interna.
Por sua vez, uma redução pontual ou geral nas tarifas de importação poderia gerar efeitos desastrosos. Como o PIB está se recuperando, já está em curso um aumento das importações. Nesse
contexto, a introdução de estímulos adicionais pode representar
uma overdose. Se, além disso, os
agentes acharem que a medida é
temporária, as compras externas
aumentarão muito além daquilo
que seria prudente do ponto de
vista do balanço de pagamentos.
Assim, mudanças na política de
taxação do comércio exterior devem ser graduais e de longo prazo, evitando-se oscilações motivadas por razões conjunturais.
É mais fácil dizer o que não deve ser feito. Mas os problemas
apontados dão uma pista para
uma agenda positiva. Diante de
um problema de oferta e de uma
baixa taxa de investimento, a responsabilidade pelo ajuste não pode recair sobre a política monetária, mas sobre a política fiscal.
Por sua vez, essa última não pode se basear no aumento de impostos pelo simples fato de que já
se tributa de forma exagerada no
Brasil. Uma vez mais, conclui-se
que o esforço deve residir na racionalização e no corte de gastos
correntes do governo, única forma de abrir espaço para mais investimento, público e privado.
Gesner Oliveira, 48, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-EAESP, sócio-diretor da Tendências e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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