São Paulo, terça-feira, 11 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

Lula chama o mundo rico às falas


Presidente manda dizer aos líderes das finanças mundiais que resolvam a crise e que não aceita prejuízos para o Brasil

O TUMULTO nas finanças era uma daquelas oportunidades em que líderes de países assim como o Brasil dessem uma fina e discreta esnobada nos donos do mundo rico, que se armaram uma esparrela de excessiva desregulamentação financeira e agora prendem o pé na armadilha.
Era uma oportunidade até para uma ironia de esquerda, um pouco de teatro. O presidente Lula ganhou o papel, representou-o numa palácio da Finlândia, onde estava em visita, e fez aquela cena, o seu grosso vaudeville do oprimido.
Lula, diz ele, mandou avisar a ministros das Finanças e presidentes de BCs do mundo rico que resolvam logo a crise que inventaram, a ruína imobiliária e o aperto de crédito. E mais: que não aceita prejuízos se a crise bater no Brasil, logo agora que o país começa a crescer; que a crise é fruto da ganância nos cassinos financeiros, entre outros disparates.
Uma possível vantagem de Lula não saber o que diz, por ora, é que ele também não sabe o que faz e mal o faz. Porta-se como animador de auditório de seu governo quase ausente. Mas e se uma crise feia bater aqui?
Por ora, podemos ajudar o presidente na sua cruzada pela estabilidade mundial. Seguem sugestões.
1) Obrigar o governo ou os ricos americanos a cobrir o calote na prestação da casa própria, o detonador da crise. E para bancar a possível inadimplência de empréstimos comerciais, prestação de carro e cartão de crédito, entre outras, que servem de garantia para os ativos financeiros que são estrelas da crise;
2) Obrigar os bancos americanos e europeus a rolar ou comprar títulos financeiros com garantias podres;
3) Lula ainda lideraria uma comitiva de políticos, banqueiros e CEOs de megaempresas dos EUA, que fazem campanha pelo corte de juros. Obrigaria o Congresso americano a dar fim à independência do Fed e baixar os juros. Para dar o exemplo, poderia demitir a direção do BC e decretar que os juros do Brasil serão iguais aos do Japão (quase zero);
4) Se a crise continuasse e desse em recessão mundial feia, obrigar todos os países que comerciam com o Brasil a comprar os produtos nacionais, em quantidade nunca menor que a anterior à crise;
5) Obrigar os investidores estrangeiros a comprar ações na Bovespa, títulos da dívida do governo federal e proibi-los de desinvestir, o que têm feito nas últimas semanas, ao menos na Bolsa. Se não der certo, Lula proibiria os investimentos estrangeiros, evitando assim que mudanças no humor gringo balancem os mercados do país. Ficaríamos mais pobrinhos, mas limpinhos, digamos;
6) Proibir os avanços em matemática, computação e finanças, que criaram o cassino de que fala o presidente, cassino que aliás teve início na Itália, nos séculos 13 e 14;
7) Obrigar os vagabundos (investidores) a trabalhar, proibindo-os de fazer aplicações financeiras. O decreto teria efeito mundial e retroativo. Por exemplo, todos os vagabundos brasileiros que investiram em títulos da dívida do governo devolveriam os juros que receberam, mais de R$ 1 trilhão em cerca de uma década;
8) Melhor ainda: proibir a existência de mercados financeiros. Quem quiser investir que compre um cofre de porquinho e junte aí o dinheiro;

vinit@uol.com.br


Texto Anterior: Presidente anuncia carro feito só de álcool
Próximo Texto: Trichet vê avanços na economia do Brasil
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.