São Paulo, terça-feira, 11 de setembro de 2007

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França e Alemanha atacam "especuladores"

Sarkozy defende "moralização dos mercados financeiros contra os predadores" e Merkel cobra "transparência'

Dirigentes questionam agências de classificação de risco sobre saúde das empresas e cobram código de conduta para "hedge funds"

DA FRANCE PRESSE

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, entraram em acordo ontem, na cidade alemã de Meseberg, para tentar limitar a influência dos fundos especulativos.
Sarkozy insistiu na luta contra os "predadores", e a chanceler alemã, na necessidade de "transparência" nos mercados financeiros.
Os dois líderes se reuniram no castelo de Meseberg, a 80 km ao norte de Berlim, para uma cúpula informal.
Sarkozy defendeu "a moralização dos mercados contra os predadores que ameaçam os empregos". Já Merkel preferiu falar em "transparência" dos mercados, um tema de preocupação maior para os dois dirigentes, após os reflexos da crise das hipotecas de alto risco (subprime) nos EUA.
"A transparência dos mercados financeiros, suas regras e sua supervisão são elementos essenciais para evitar correções excessivas", indicou comunicado publicado ao final do encontro, em referência à alta das taxas de juros cobradas nos empréstimos interbancários.
A crise atingiu uma proporção ainda maior porque os operadores não compreenderam a tempo até que ponto o mercado imobiliário nos Estados Unidos estava precário.
O texto questiona a responsabilidade das agências de classificação de risco sobre a saúde financeira das empresas, as quais a Comissão Européia, assim como inúmeros especialistas, acusam por não terem previsto a crise.
As duas partes defenderam ainda "a elaboração de um código de conduta dos fundos especulativos ["hedge funds']". Merkel, atual presidente do G8, já havia apoiado essa idéia, que foi recusada pelos EUA e pelo Reino Unido.
Com pontos de vista em comum, os dois diferiram apenas no vocabulário. "Temos que moralizar o capitalismo financeiro", declarou Sarkozy. "Temos que garantir a transparência dos mercados financeiros", insistiu Merkel, em entrevista à imprensa, ao final da reunião.
"Não podemos mais deixar que algumas dezenas de especuladores coloquem por terra todo o sistema internacional, emprestem em condições duvidosas, comprem a qualquer preço, não saibam quem está pedindo emprestado", afirmou Sarkozy.
"Queremos um capitalismo para os investidores, e não para os especuladores."
A chanceler frisou que vai garantir "as condições da transparência" dos mercados. Ela insistiu para que a presidência portuguesa da União Européia se ocupe com "clareza" desse assunto, em vista da adoção de decisões na cúpula européia da primavera 2008 (hemisfério Norte).
"Nós, a França e a Alemanha, queremos tomar a iniciativa juntos", disse. Ela recomendou "uma ação coordenada, para a próxima reunião do FMI [Fundo Monetário Internacional]".
França e Alemanha também apelaram por uma posição mais agressiva da Europa diante de governos estrangeiros cujas políticas solapam a posição competitiva de empresas européias.
Ambos expressaram preocupação quanto ao uso de barreiras e restrições não-tarifárias ao investimento e à manipulação política das taxas de câmbio, que, segundo eles atingiram "escala preocupante".
O "uso de fundos públicos", quer por meio de subsídios diretos quer de taxas administradas de câmbio, para distorcer a concorrência em favor das empresas de um país é um problema especialmente relevante, afirmaram.
A questão da energia também foi amplamente debatida pelos dois dirigentes em Meseberg. O presidente francês convidou a Alemanha a adotar uma política energética parecida com a da França, que dê prioridade ao nuclear.


Com o "Financial Times"


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