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TRANSE
Para Amaury Bier, meta de superávit fiscal de 3,75% do PIB para 2003 não deve ser alterada por causa da alta do dólar
Crise não muda meta com FMI, diz governo
VIVALDO DE SOUSA
COORDENADOR DE ECONOMIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Amaury Bier,
disse que a alta do dólar verificada
nos últimos dias e a piora no cenário econômico não devem levar
ao aumento da meta fiscal acertada com o FMI (Fundo Monetário
Internacional) para 2003.
Assim como outros integrantes
da equipe econômica, Bier pediu
mais clareza nas propostas econômicas do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera a
disputa para a Presidência.
Em 2003, a meta de superávit
primário (economia de receita
para o pagamento de juros) foi fixada em 3,75% do PIB (Produto
Interno Bruto), o que representa
cerca de R$ 53 bilhões. Questionado sobre o aumento da meta fiscal, ele afirmou: "Eu não creio".
"O que está afetando mais o cenário é a taxa de câmbio, e o nível
que ela atingiu, em termos reais, é
totalmente insustentável", disse
Bier, que deu entrevista à Folha
pela manhã, antes de a cotação da
moeda americana chegar a R$ 4.
Folha - Como o governo está vendo o cenário de instabilidade das
últimas semanas, que se reflete
principalmente na alta da cotação
do dólar?
Amaury Bier - Dois fatores importantes explicam essa instabilidade. O primeiro deles, que é um
fator que não afeta somente o
Brasil, mas todas as economias do
mundo, está associado ao ambiente internacional, de pouquíssimo crescimento das economias
desenvolvidas. Há uma retração
também nos fluxos de capitais e
um aumento grande da aversão
dos investidores ao risco. Há ainda uma incerteza forte em relação
ao futuro da política econômica
no Brasil associada às incertezas
do processo eleitoral. Ou seja, todo o processo de formação de expectativas sobre o futuro da economia depende, em grande medida, do que os agentes econômicos
percebem como sendo o futuro
da economia. Visivelmente, não
há clareza com relação a isso.
Folha - Não há clareza do candidato da oposição ou do candidato
governista?
Bier - A percepção, pelo menos a
que eu consegui apreender das
conversas que tive com investidores estrangeiros, está muito centrada em relação ao candidato
que lidera as pesquisas há algum
tempo. Portanto é muito mais associada às políticas que o eventual
governo Lula venha a implementar e ao fato de o discurso do PT
ter se modificado recentemente.
De fato, o partido se comprometeu com pilares da política econômica, como respeito aos contratos, manutenção da inflação baixa, equilíbrio fiscal e regime de
câmbio flutuante, coisas dessa natureza.
Folha - Tudo indica que o dólar
deve se estabilizar numa cotação
maior. É possível evitar essa alta do
dólar nos dias que antecedem o
vencimento de títulos com correção cambial?
Bier - É evidente que há interesse
em evitar que a taxa de câmbio
saia do controle. Todos os esforços estão voltados para isso, mas
não podemos imaginar uma situação em que o Banco Central
anule todas as incertezas que afetam o mercado de câmbio. Isso
não é razoável e não acontece dessa forma.
Folha - Em entrevista na quarta-feira, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, deu a entender que não há muito o que fazer?
Bier - O governo vai continuar
governando e tomando as medidas que achar necessárias até o final do ano. Agora, algo que possa
reverter esse ambiente não está
ao alcance deste governo, que
tem prazo determinado para terminar. Daí a importância da manifestação de quem assumirá a
partir de janeiro de 2003. Por isso,
a sinalização sobre o futuro é importante.
Folha - Em novembro será feita a
primeira revisão do acordo com o
FMI. Será necessário aumentar a
meta fiscal?
Bier - Eu não creio. O que está
afetando mais o cenário é a taxa
de câmbio, e o nível que ela atingiu em termos reais é um nível totalmente insustentável. Não há
quem possa imaginar que a taxa
de câmbio permaneça nesse patamar em termos reais. Tenho convicção de que as coisas vão melhorar tão logo o presidente eleito
faça uma definição clara da sua
política econômica, associando
prática e discurso.
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